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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Meu pai adorava jornais

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publicado em 28/07/2020 às 07h00
atualizado em 27/07/2020 às 16h34

Eu também. Deixei de comprar a Folha, na banca de Tambaú, porque com a pandemia o jornal não veio mais para João Pessoa. Longe é um lugar que existe? Aqui nas bancas agora só vendem cigarros e gibis, pedaços de bolo, isqueiros, café e figurinhas. Perdi a curiosidade? Já vai quase um século de pandemia. Visito alguns jornais online e leio A União de todas as cores, mas nunca deixo de espreitar a cultura.

Também me aventuro quando sou enviado por mensagens de amigos que moram no mundo afora. A razão do desinteresse tem várias explicações, uma delas fica explícita na chamada que aqui se partilha. E a empatia? Ah, pergunte ao terapeuta Givaldo Medeiros. É este discurso, esta mentalidade tacanha, este serviço indisfarçável. As olimpíadas de Flores Comestíveis? A morte da atriz Olivia de Havilland? Ah, o vento levou. Os milhões de fulanos? Nunca quis saber quanto as pessoas ganham. É feio.

Uma raspadinha? Qual delas?

Vai ter eleição este ano? Pobre Raymundo Cardoso, a gente fica logo sem vontade de ler. Se eu fosse acadêmico votaria na escritora Ana Adelaide Peixoto Tavares, para ocupar a Cadeira 32 de Wilss Leal, mas ela não quer. E ela não tem culpa. Ela faz pela crônica a vida como os outros. Está certa. Mas o Edital saiu.Quem sabe o poeta Políbio seja o próximo imortal. Não, Políbio também não quer. Ele está em Cuba Libre.

Mas se é para maratonas, prefiro regressar aos vencidos. Com estes, nada tenho a perder. Resta saber como estaria Toinho Malvadeza a lidar com o Covid 19.

Meu pai adorava jornais. Quando ele viu meu nome pela primeira no espaço do leitor do Jornal O Norte, 1976, me escreveu uma carta amorosa, dizendo que tinha ganhado o dia. Mas não exatamente no dia da publicação, pois, os jornais demoravam a chegar ao sertão. Pouco lhe importava se chegavam atrasados. Meu pai adorava jornais.

Ele recortava notícias ou meus textos e colocava dentro de uma caixa de madeira pregada na parede da sala, onde ficava o medidor de luz. Puxa vida! Como era entupido aquele medidor de energia. O que pensaria ele sobre o assunto? Qual assunto?

Meu pai adorava jornais. Quando ia visitá-lo, levava todos os jornais da capital, mas ele só lia um dia depois, queria mesmo era conversar comigo. Conversar é tão bom. Conversar é igual lembrar, não esquecer, é uma palavra da alma e resulta numa coisa chamada luz. Conversar é tão bom, mesmo que haja algo para esquecer. Não haver nada para falar, também é bom.

Eu estava lendo John Montague, um poema lindo, que diz assim: Por vezes, à noite, quando não consigo dormir, vou à porta do atelier, cheirar a terra do jardim, que exala suavemente, especialmente agora, com o aproximação da Primavera,

Isso dele dizer a primavera, eu nem sinto mais saudade dela, porque nosso jardim é uma eterna primavera. Tenho saudade de meu pai, que ele pudesse ter conhecido Vítor bebê, menino ou rapaz.
Meu pai adorava ler jornais.

Kapetadas

1 – Por que os homens não conseguem achar as coisas? Que coisas?
2 – Eu nunca estou por dentro mesmo dos acontecimentos, eu fico ali na beirinha.
3 – Som na caixa: “Já falei tantas vezes, do verde nos teus olhos, todos os sentimentos me tocam a alma, alegria ou tristeza”, Milton Nascimento

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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