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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Marcos Tavares detestava a segunda-feira

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publicado em 24/06/2020 às 07h00
atualizado em 24/06/2020 às 07h46

Lembro que Marcos Tavares detestava a segunda-feira. Na Coluna “Pão e Circo”, nas edições domingueiras, ele denotava a segunda. Era um martírio, esse dia, para o jornalista e poeta Marcos Tavares, que por ironia do destino morreu na segunda-feira passada. Seu coração deixou de ser um músculo, que nunca fôra uma catedral.

Marcos Tavares, (que Raul Córdula o chamava de Biu Caveira), segundo Flávio Tavares, o apelido, é porque ele era magro demais e dava pernadas na Rua da Palmeira, centro de João Pessoa. Era um rapaz que deu a conhecer ao mundo sua linguagem que contribuiu decisivamente para incorporá-lo ao cânone literário contemporâneo. Era genial.

Mas como escreveu Octávio Paz “os poetas não têm biografia”. A sua obra é a sua biografia. Mas Marcos era mordaz e sempre duvidou da realidade deste mundo, e não aprovaria sem vacilar que fosse somente os seus poemas, a sua dramaturgia, a glória de ter sido um bom jornalista. Uns dizem que Marcos gostava de Rum Montilla, outros, de fumar demais. Coisas de cada um. Nada na sua vida era mais surpreendente, do que sua presença, sua risada pequena, a valorização que ele fazia do trabalho dos outros, ou as pancadas sem piedade.

Primeiro morreu Marcos, depois a obra. A sua história estava no vai-e-vem entre a irrealidade da vida quotidiana e a realidade das ficções que batem em nossas portas. Assim, nunca seria inútil recordar a pegada de Marcos Tavares, desde que não ignoremos, pois, trata-se das pegadas de uma sombra, à sombra de todas as raparigas em flor, pra não dizer que não falei de Proust.

Trabalhei com Marcos no Jornal O Momento e na Prefeitura de João Pessoa, na gestão do prefeito Cícero Lucena. Já nos amávamos de bem antes, quando as palavras nos uniu.

Aprendi com ele a gostar mais das segundas feiras, dia branco, em que me levanto cedo, igual aos outros, para trabalhar, porque sou do mato, cedo estou de pé, cuidando do meu roçado, da mulher e do menino. Viva Marcos Tavares, que apenas morreu numa segunda-feira, mas foi enterrado na terça-feira, véspera de São João, no Boa Sentença.

Vez em quando encontrava com ele sentado de costas para o mar, dando suas tragadas. Esse Marcos não existe mais. Valeu, cara!

Kapetadas

1 – Fingindo que é segunda-feira pra dieta funcionar. E a cara feia? Sim, é fome de viver.
2 – Hoje não tem som na caixa

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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