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Especialista em Mídias Digitais, Comunicação e Mercado pelo Centro de Educação Superior Reinaldo Ramos (CESREI)

Pesos Desiguais

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publicado em 23/01/2017 às 17h21

A justiça é cega e o peso da sua balança é desigual, ela é dura para os pobres e mansa para os ricos. Essa é a mais pura verdade contrastada desde os nossos primórdios. Desde que chamamos o Brasil de Brasil, vivemos em uma sociedade corrompida por natureza, onde o “errar” se torna prática constante e o velho ‘jeitinho brasileiro’ é tênue a prática da impunidade.

O que fazer para mudar tal situação? Como proceder? Para onde ir? Será que tem jeito? São perguntas que eu me fiz durante este final de semana ao ser impactado pelas redes sociais com a notícia que o jovem Diogo Nascimento, de 34 anos, havia ficado gravemente ferido após ser atropelado por um Porsche, avaliado em meio milhão de reais, na madrugada do último sábado (21), no Bessa, em João Pessoa. Um vídeo gravado por câmeras de segurança mostra que o carro que atropelou o agente da Lei Seca estaria tentando escapar da barreira. O motorista fugiu, mas com o impacto do atropelamento, a placa do carro caiu e foi apreendida pelas autoridades.

Até o final deste texto, Diogo havia sido avaliado pelo neurocirurgião do Hospital de Trauma que não encontrou nenhum reflexo e infelizmente abriu o protocolo de morte encefálica. O Dono do Porsche, Rodolpho Carlos, familiar de um magnata das comunicações, conseguiu às 03h da manhã um salvo conduto, assinado pelo desembargador Joás Filho revogando assim a ordem de prisão temporária expedida no último sábado pela juíza plantonista do Juizado Especial de Mangabeira. O desembargador entendeu que, salvo fato novo, não existia justificativa para o cerceamento do direito de locomoção do acusado.

”Se fosse José dos Santos, morador do bairro Mandacarú, dono de um carro do tipo Corcel com bastante ferrugem, mas com um motor que ainda ronca, e ao ver uma Blitz da Lei Seca, decide não parar e acelera seu possante Corcel, atropelando e matando um servidor público, fugindo do local sem prestar socorro. Será que o nosso José responderia o processo em liberdade? Seu rosto estará nos jornais?” (RAPHAEL, JOÃO. 2017 com adaptações)

Será que ele conseguiria um Habeas Corpus em plena madrugada de domingo? Acredito que não!

Hoje, você e eu, tivemos a plena certeza que nunca na história desse país, a justiça brasileira e a aplicação das suas leis, foram e são tão questionáveis. Talvez, a lentidão do judiciário só exista para os pobres, onde o corporativismo, os abusos e os desmandos das classes jurídicas não falem ao extremo. O fato é que quando a justiça falha ou se omite, o ‘jeitinho brasileiro’ encontra o lado certo para se abrigar.

O que a sociedade espera é que a mensagem central passada pela justiça seja de que “o crime não compensa”, dissuadindo todos de cometerem delitos. Mas infelizmente, essa mensagem não funciona quando o próprio poder Judiciário deixa impune quem fica ao abrigo de alguns intocáveis grupos de poder e a mensagem passa a ser outra: “O crime pode compensar se não ficar do lado errado”. Por aqui, o “lado certo”.

Diogo, com o tempo será esquecido pela mídia, pela justiça, mas não pelos familiares e seus colegas de trabalho. Rodolpho Carlos, que ceifou a sua vida poderá até ser inocentado, ou condenado a responder em liberdade. Mas, não escapará jamais de três tribunais: O primeiro, um tribunal chamado internet e o segundo, a sua consciência e o terceiro a justiça divina.

Rodolpho Raphael

#NãoFoiAcidente

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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