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ENTREVISTA ESPECIAL

Francis Hime lança disco instrumental de inéditas “Estuário das Canções”

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publicado em 10/12/2022 às 12h44
atualizado em 10/12/2022 às 15h20

Kubitschek Pinheiro MaisPB

Fotos – Gabriela Pérez, Leo aversa e Nana Moraes

O maestro Francis Hime lançou novo álbum “Estuário das Canções” nas plataformas de streaming com 12 temas instrumentais selecionados a partir de 40 composições inéditas de Hime. Vai sair físico pela Biscoito Fino. O álbum marca a volta do compositor aos estúdios, depois que celebrou seus 80 anos, em 2019.

O disco traz 12 faixas instrumentais inéditas. Duas delas são dedicadas a amigos dele que fizeram história na música brasileira: o violonista fluminense Raphael Rabello (1962-1995) e o compositor, arranjador e pianista carioca Luiz Eça (1936-1992). Outro tema foi inspirado na cantora Olívia Hime, mulher de Francis.

Francis começou a gravar ano passado. Alguns temas já estavam prontos há algum tempo. Outros, ele foi criando praticamente. “Gravei tudo no estúdio da Biscoito Fino, que tem um piano Steinway maravilhoso, no qual gosto de ficar tocando, às vezes até de madrugada”, conta Francis.

O clima amoroso traduz a ligação do compositor com a natureza, a família e amigos. O disco traz um bucolismo, numa festa das árvores, o verde que lhe cerca. Francis e Olivia vivem numa casa cercada de árvores. Daí vem os títulos das músicas que refletem muito isso: ‘Bucólica’, ‘Alvorada’, ‘Um rio’, ‘Riachinho’ e ‘Alameda’”.

Francis Hime conversou com o MaisPB pelo telefone e fala das canções desse novo trabalho, anuncia outro disco para 2023, de inéditas, que começa a gravar em fevereiro, com vários parceiros novos, onde ele cantará com alguns convidados. relembra Gal Costa, Erasmo Carlos e celebra seu amor com Olivia Hime, união que está chegando aos 60 anos.

MaisPB – Há muito tempo você não fazia um disco instrumental?

Francis Hime – De inéditas é a primeira vez, mas já tinha gravado canções instrumentais para trilhas de filmes.

MaisPB – O álbum “Estuário das canções” mostra que as melodias estão ligadas entre si?

Francis Hime – Depois que eu gravei senti isso também. Eu gravei muitas músicas nesse período da pandemia. Escolhi essas, com certo traço de união, talvez vindo da tranquilidade. Esse disco, de certa forma, tem uma ligação com a natureza. Eu dei os títulos em conformidade com esse clima. Alameda, Bucólica, Riachinho, Alvorada…

MaisPB – Numa entrevista que fizemos com o baixista Jorge Helder, ele disse que é muito difícil colocar título de música, sem letra…

Francis Hime – Essas canções têm seus nomes, como falei relacionados a coisas da natureza e também tem a ver com os arranjos, A canção “Um rio” começa com aqueles arpejos e dá uma sensação de movimento.

MaisPB – Abre o disco com uma homenagem a Rafael Rabello?

Francis Hime – Esse tema eu tinha há muito comigo. Gostava muito do Rafael Rabello. Ele dizia: Francis conclua esse tema para gente tocar e só conclui agora. Me incentivou muito. Eu compus para ele, um concerto para violão e orquestra. Um querido amigo que se foi tão cedo. Uma saudade muito grande.

MaisPB – A segunda faixa, “Um rio”, a gente sente o som das águas…

Francis Hime – Ela tem essas modulações, ondulações. Dá essa impressão de movimento mesmo.

MaisPB – Vamos falar da segunda faixa “Tarde macia”?

Francis Hime – É como uma palavra tranquila, que lembra uma tarde macia, mesmo.

MaisPB – A faixa Bucólica, é dotada de um sentimento…

Francis Hime – Ela tem essa levada mais de seresta, caiu bem nessa canção. Fui arrumando o roteiro intuitivamente. Quando gravei as canções, eu ainda não tinha noção de qual seria a ordem do disco. Aos poucos fui escolhendo a primeira faixa, a última e fui montando o roteiro, que mudei algumas vezes. Eu pensei que seria uma suíte das 12 músicas. Elas se sucedem verdadeiramente harmoniosas.

MaisPB – Alvorada, a 5ª faixa poderia até ser orquestrada?

Francis Hime – Ela tem um movimento maior, tem pretensões de uma canção mais desenvolvida, poderia até ser orquestrada, com uma orquestra tocando, ela se desenvolve bem. Uma Alvorada, com certeza.

MaisPB – A canção “Itaipava” lembra um aconchego, uma paz?

Francis Hime – Itaipava é onde eu tenho uma casa na região serrana do Rio. Eu componho muito aqui.

MaisPB – As faixas “Riachinho” e “Para Olivia”, são canções que se casam?

Francis Hime – “Riachinho” tem essa coisa intuitiva, “Um rio” tem também. E “Para Olívia” fiz para ela e dei de presente de aniversário. Eu já tinha feito outras gravações para Olivia lá atrás, num disco instrumental, mas essa canção “Para Olívia” tem essa característica de envolvimento, assim como “Alvorada”.

MaisPB – Quantos anos de amor com Olivia Hime?

Francis Hime – Estamos juntos desde 1965. Grande amor.

Maestro fez música para esposa Olívia Hime com a qual vive há mais de 50 anos 

MaisPB – “Manguezal”, a décima faixa lembra um tema de Jobim…

Francis Hime – Manguezal tem um clima diferente, inclusive o nome provisório dela era canção para Michel Legrand. Eu admirava muito ele. Trabalhamos juntos, na faixa do disco que a Biscoito Fino fez em homenagem ao Luiz Eça. Mas dei o título de Manguezal pela riqueza temática.

MaisPB – Porque Estuário, o nome do disco?

Francis Hime – É porque todas essas canções desaguam no disco, são vários afluentes que deságuam no mar aberto, tem esse sentido de história das canções.

MaisPB – Fecha o disco com “Para Luiz Eça”, grande homenagem…

Francis Hime – Era um grande amigo meu, mestre meu, eu ia muito na casa dela. Ficava estudando os arranjos dele, que me dava muitas dicas de orquestra, um grande músico, pianista arranjador, muitos bons acordes, aprendi com ele.

MaisPB – Alguma vez Gal Costa chegou a se apresentar com você?

Francis Hime – Não, acho que em show não, ela gravou comigo um dueto num disco da Biscoito Fino, minha e de Capinan, gravamos também “Pedaço de Mim” minha e de Chico Buarque, no disco Ópera do Malandro e ela gravou “Trocando em miúdos” no songbook meu. Gal deixou um vácuo, era uma grande artista. Uma tristeza muito grande, perdemos Gal e Erasmo.

MaisPB – Você está no disco “Domingo” de Caetano e Gal, não é?

Francis Hime – Sim, fiz três arranjos para o disco Domingo, o primeiro disco de Caetano. Ainda sobre Gal, ela cantou no Maracanãzinho num Festival uma música de Gil, “Minha Senhora” que quem fez o arranjo fui eu para orquestra, em 1965, meu primeiro arranjo para orquestra

MaisPB – Você fez alguma coisa com o Erasmo?

Francis Hime – Eu estava lembrando outro dia, que sempre que a gente se encontrava, combinava de fazer uma parceria. Quando noticiaram que ele tinha morrido, que era mentira, ai eu comentei com um amigo – vou encontrar com Erasmo e fazer nossa parceria. Mas infelizmente ele morreu. Eu gostava muito dele, era vascaíno que nem eu.

MaisPB – Temos novidades para 2023?

Francis Hime – Na pandemia eu compus muito. Não teve shows. Fiz um concerto para dois cellos e orquestra, que vão ser executados por Jaquinho Morelenbaum e Hugo Pilger, e estou com um disco novo de inéditas, que começo a gravar em fevereiro, com vários parceiros novos, eu cantado e com alguns convidados

MaisPB – Olivia tem disco novo pra 2023?

Francis Hime – Sim, ela tem um disco novo, que com músicas minhas, três inéditas, canções do lado C, bem desconhecidas e fiz os arranjos. Vai sair em março pelo selo do Sesc São Paulo.

MaisPB – Você está bem, né?

Francis Hime – Estou bem de saúde, perdendo uns quilinhos e fazendo exercícios.

MaisPB – Como é aquela história do arranjo roqueiro para Caetano?

Francis Hime – Como eu disse, nós trabalhamos juntos no disco Domingo. Na época, 1965, eu fiz um arranjo bem roqueiro e ele dizia rindo: “Ô Francis esse é meu primeiro rock”. Depois, ele gravou “Pivete”, (minha e de Chico Buarque) no songbook. Em certa ocasião eu mandei para Caetano uma música, para ele botar a letra, mas acabou não saindo, quem sabe um dia faremos uma parceria. Ele é muito bom. Grande artista.

MaisPB

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