João Pessoa, 23 de junho de 2012 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O empresário Abilio Diniz deixou na sexta-feira o controle do Pão de Açúcar, agora nas mãos do grupo francês Casino, encerrando um ciclo de comando familiar que iniciou em 1948, quando seu pai, Valentim Diniz, fundou a companhia. Diniz passou a presidência da holding de controle do grupo, a Wilkes, para Jean-Charles Naouri, presidente do Casino, de forma “tranquila e elegante”, em suas palavras, numa reunião pela manhã. Porém, falando a acionistas da companhia à tarde, Diniz atacou seu sócio francês, com quem está rompido desde que propôs a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour, há um ano. Agora na condição de segundo maior acionista da empresa, ele também evitou dar um tom de despedida a sua saída do controle.
Alegando não querer ser “traído pela emoção”, Diniz leu um texto durante a assembleia em que comunicou as mudanças aos acionistas.
— Devido aos acontecimentos dos últimos tempos, fui tomado por mágoas, tristezas e decepções. Injustiças e distorções da verdade me atingem mais do que agressões claras e diretas. Negar o sofrimento seria falso e muito pouco convincente — disse Diniz.
— Fui acusado de quebrar contrato e não cumprir o combinado. Estou aqui para provar que aquelas acusações são falsas.
Diniz referia-se ao processo que o Casino move contra ele na Câmara de Comércio Internacional, por ter negociado com o Carrefour sem informar. No primeiro dia do novo comando, os papéis preferenciais (PN, sem voto) do Pão de Açúcar avançaram 2,03%, a R$ 75. Mas isso não compensou as perdas na semana: as ações encerraram em queda de 0,64% no período, devido ao tombo de 3,82% na quinta-feira. No ano, acumulam ganho de 12,65%, destaque do mercado.
Em relatório, analistas do HSBC afirmaram que a troca de controle abre possibilidades positivas para as operações do grupo, como a consolidação de investimentos no Brasil e aceleração do crescimento orgânico. Para eles, a transição não deve ter grande influência sobre o preço das ações.
Emoção ao falar do acordo firmado em 2005
Naouri não foi à assembleia. Ele chegou ao Brasil na noite de quinta-feira e um dia depois retornou à França levando uma grande conquista: o controle do maior conglomerado brasileiro, em meio à crise na Europa. Ao incorporar o Pão de Açúcar, o Casino elevará em 45% seu faturamento anual — de 29 bilhões em 2011, ano em que o Pão de Açúcar faturou o equivalente a 20 bilhões.
Diniz fez questão de listar aos acionistas suas conquistas à frente do grupo. Ele destacou a estratégia de expansão, da compra de pequenas empresas até a aquisição de gigantes como Casas Bahia e Ponto Frio, em 2009. De 2008 para cá, lembrou, as vendas brutas cresceram de R$ 20,8 bilhões para R$ 52,7 bilhões, e o lucro saltou de R$ 299 milhões para R$ 899 milhões.
— Somos a prova de que é perfeitamente possível ter grande sucesso empresarial sem deixar de ter consideração pelas pessoas, jogando limpo e acreditando no bem.
Em comunicado, o Casino ressaltou ter se tornado o “único acionista controlador do Grupo Pão de Açúcar (GPA)”. “Desde o início da nossa parceria, em 1999, nós acreditamos no Brasil e no GPA, e contribuímos, ao lado da família Diniz, para o sucesso da companhia”, afirma a nota.
Ao comentar o acordo firmado com Naouri em 2005, que levou à perda do controle do grupo, Diniz se rendeu à emoção e abandonou o texto que lia. Negou que o grupo estivesse em dificuldades na ocasião:
— As pessoas ficam me perguntando: por que você foi assinar esse contrato? Mas eu tinha um motivo para fazer isso. Eu não queria que meu pai morresse sem poder distribuir as suas ações, que estavam presas numa holding, para os seis filhos.
Diniz não revela se vai vender suas ações ao Casino
Sobre o clima em 2005 e as atuais relações com o Casino, Diniz resumiu:
— Acreditava que a compreensão, harmonia e amizade iriam durar para sempre.
Diniz tem cerca de 21% do capital do grupo e nos próximos 60 dias terá de decidir se vende um lote de um milhão de ações ao Casino. Se fizer isso, os franceses ficam obrigados a recomprar o restante de seus papéis, avaliados entre R$ 2,5 bilhões e R$ 3,5 bilhões, nos próximos anos. Mas ele continuará na presidência do conselho do GPA enquanto tiver condições físicas e mentais. Diniz ressaltou não ter a intenção de deixar o dia a dia do grupo, o que poderia ser um sinal de que quer negociar sua saída do Pão de Açúcar.
Perguntado se iria vender as ações, Diniz afirmou que “este não é o momento de acertarmos as contas”. Então, qual seria?
— A gente sabe tudo até este momento, até o dia de hoje. Daqui para a frente, a gente não sabe nada — desconversou.
O Globo
CONFLITO ENTRE OS PODERES - 19/08/2025