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Criolo condena perseguição a negros e critica Bolsonaro

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publicado em 23/10/2021 às 12h08
atualizado em 23/10/2021 às 15h04

Kubitschek Pinheiro MaisPB

Fotos a Gil Inoue

Nascido na periferia paulistana, o rap Criolo tem 42 anos e fez seu nome há muito tempo. Aliás, o nome dele Kleber Cavalcante Gomes, um dos artistas mais talentosos dos últimos anos no Brasil. Ficou conhecido nacionalmente em meados de 2011, com o lançamento do seu álbum “Nó Na Orelha”, mas, antes disso, já era forte na cena do rap nacional.

Criolo acaba de lançar o single e clipe “Cleane”, parceria com Tropkillaz que presta uma homenagem à irmã, que faleceu em decorrência da Covid-19 neste ano.

Produzido pela Pródigo Filmes, com direção de Helder Fruteira, o clipe foi concebido em forma de manifesto, com alguns importantes e representativos signos para as sequências. As críticas, menções e homenagens estão bem contidas no elenco, nas performances, na cenografia e na fotografia. O resultado é dez.

Toda a equipe estava alinhada no propósito comum do projeto: construir um filme que fosse potente e trouxesse a revolta e indignação pelo momento caótico que o Brasil passa, mas que também a poesia e a esperança, uma das formas para atravessarmos esse momento tão denso. Todas as gravações seguiram os protocolos de segurança para o combate à Covid-19.

Esse novo som de Criolo é uma lapada. Uma música nova de uma mente que se expande.

Tropkillaz falou sobre a parceria: “Trabalhar com o Criolo é sempre um privilégio sem igual. Sempre fomos amigos e parceiros, agora, depois que começamos a compor e produzir juntos, nossa conexão musical ficou muito forte. Ele incorpora e interpreta as músicas e as letras como ninguém. Esperamos que nossa sintonia renda muitos frutos ainda”.

O diretor do clipe Fruteira, comentou a concepção: “Foi uma honra enorme dirigir esse projeto, sendo até difícil encontrar palavras que possam representar os sentimentos. O Criolo é uma das maiores referências e inspirações artísticas da minha geração. Acompanho seu trabalho desde o ensino médio, e poder somar nesse clipe, que narra um momento tão complexo e ao mesmo tempo extremamente pessoal e humano dele e da família, foi uma experiência única. O tema exige muita responsabilidade, todo o processo foi pensado com muito respeito e carinho pelo nosso time. A música por si só já tem uma força incrível e perpassa muitos assuntos que precisam receber nossa atenção. Cada assunto trazido por Criolo nessa composição é urgente e necessário, por isso, de forma cuidadosa, fomos construindo esse elo entre os sentimentos cantados por ele e o visual. Esse projeto faz parte de uma engrenagem maior, de uma articulação de pessoas que estão lutando para colocar nosso país de volta no caminho certo. Tudo vibra sobre sentimentos! Gratidão a todas que tornaram isso possível. Cleane, Presente!.”

O MaisPB conversou com Criolo e fomos além do single e do vídeo. O artista relata sua dor ao mostrar o Brasil sangrando com milhares de mortos pela Covid e outras tragédias. Conheça mais um pouco da história de sua irmã Cleane, que era professora pública. “A gente perde mil vezes e perde também a pessoa que éramos, com quem se foi”, disse o artista.

Confira o clipe onde Criolo aparece ao lado dos pais, Seu Cleon e da dona Vilani.

MaisPB – O Brasil está sangrando no novo seu single “Cleane”, parceria com Tropkillaz, que chega a arrepiar. Vamos falar dessa oportunidade de cantar a verdade diante de um país que desmorona a olho nu?

Criolo – Estamos todos com o coração sangrando e só o que queremos é nos reerguer e seguir nossas vidas. Viver nosso luto e lutar para que dias melhores nos visitem e os responsáveis por essa condução cruel sejam punidos.

MaisPB – Nos fale mais Cleane, como ela era, uma pessoa bacana?

Criolo – Minha irmã amada era professora de escola pública e em seus mais profundos desejos de sonho era ver uma escola pública fortalecida, com todos os profissionais da educação sendo respeitados a partir de salários mais dignos e incentivos reais à um estudo contínuo a todos.

MaisPB – O clipe é cinema puro, aqueles livros no chão, os bailarinos, o foco de luz. Tudo é bem cruel e moderno. Você ficou satisfeito com o trabalho de Helder Fruteira?

Criolo – Helder é puro talento de coração e alma. A ele e à sua equipe fica nossa gratidão.

MaisPB – Tropkillaz arrebenta na composição. Como aconteceu essa parceria agora?

Criolo – Eu tinha a letra e a levada. Eles trouxeram a mágica. Tropkillaz, Gratidão.

MaisPB – A canção “Cleane”, está cheia de recados, pancadas, dores e saudades. A gente sente o pulsar da sua fúria. Vem mais novidade por aí, esse single é o caminho de um próximo álbum?

Criolo – Tenho escrito um tanto e espero dividir tudo com vocês o mais rápido possível.

MaisPB – O Krumping ( grupo de oito dançarinos de São Paulo) se destaca no clipe. Você gostou dessa performance?

Criolo – A dança é algo que alimenta nossas almas e eu sou apaixonado por Krump. Quando o diretor Helder Fruteira dividiu sua ideia de convidar essas pessoas tão especiais para o trabalho, a minha alegria foi imediata.

MaisPB – No dia 25 de setembro, você participou do evento mundial Global Citizen Live, uma live beneficente de 24h alertando sobre mudanças climáticas e vulnerabilidade social, transmitida de diversas cidades e que contou com nomes como Billie Eilish, BTS, The Weeknd, Doja Cat, Elton John, entre outros. Ao lado do Tropkillaz, você mostrou “Cleane” pela primeira vez ao vivo. Fale mais sobre sua preocupação com o meio ambiente e as mudanças climáticas que já estão entre nós faz tempo, tudo culpa do poder do homem?

Criolo – É necessário e urgente levarmos a sério esse tema. Vai pra além ignorar isso é ignorar nossa própria existência. Se a temperatura continuar nesse ritmo seremos dizimados.

MaisPB – O que você achou de “Meu Coco”, novo disco de Caetano Veloso?

Criolo – Caetano Veloso é essa alça de apoio que alavanca incansavelmente todas as gerações. A arte que sai de seus poros se derrama em nossas almas e nos fortalece nesse mar revolto de ódio e ignorância.

MaisPB – Se orvalho é descaso, molharam sua bunda, molharam sua bunda que tá aparecendo (Som de água) – que sacada essa sua, hein? Vamos falar sobre esse jogo de palavras?

Criolo – Hoje e desde sempre a gente ouve e vê, em determinados momentos do mundo, o que se sugere é ver e não ouvir. Por agora a arte se desdobra no facilitar, ver, ouvir e a mágica do compreender com analogias e tantos outros recursos que surgem na naturalidade no pensamento.

MaisPB – É Impressionante a foto de você e seus pais na capa do single. Uma imagem amorosa para perdurar…

Criolo – Muita força de tentar superar o insuperável. Minha irmã morreu, a filha do seu Cleon e da dona Vilani também. A gente perde mil vezes e perde também a pessoa que éramos, com quem se foi.

MaisPB – Você diz “não acabou e nunca vai acabar a pandemia, sobretudo para quem perdeu um ente querido”. Isso é muito triste – pode nos falar sobre essa assertiva?

Criolo – Minha irmã não vai voltar, alguém definiu o atraso de 1 ano na chegada da vacina. Para além desse texto minha irmã não vai voltar e essa é a minha dor, a dor de todos que perderam alguém.

MaisPB – “Ninguém tá ligando pra pretos morrendo” – essa frase a gente ainda vai repetir por quanto tempo, num país racista da América Latina, chamado Brasil?

Criolo – O número de jovens negros assassinados no Brasil é assustador é inadmissível. Somos perseguidos e exterminados, e temos hoje um governo que procura de todas as formas destruir as ações que tentam diminuir essa triste e imunda realidade.

MaisPB – Como vai seu coração, Criolo?

Criolo – Estou de luto por tantas situações e a arte sempre deu um jeito de mostrar caminhos. O rap sempre no apoio na contenção. Ver tantos irmãos e irmãs sendo exterminados dessa forma, ou melhor também dessa outra forma, deixa meu coração e extremo Luto.

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