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Titular em Letras Clássicas, professor de Língua Latina, Literatura Latina e Literatura Grega da UFPB. Escritor, é membro da Academia Paraibana de Letras. E-mail: [email protected]

Triste Brasil!

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publicado em 25/08/2021 às 07h25

O professor, depois de suportar horas de trabalhos com seus alunos, deve se bater com os pais para obter o pagamento de um salário apenas suficiente para lhe permitir comer decentemente. Se os ricos estão dispostos a gastar somas consideráveis para ornamentar suas casas, de modo a deixá-las suntuosas, eles estimam que o miserável professor de seus filhos exagera, quando reclama um salário melhor, mais ainda insignificante, diante dos gastos enormes com o luxo.

Bem que o texto acima poderia ser sobre o Brasil atual, mas, na realidade, ele diz respeito à condição dos professores na Roma antiga. Foi preciso que o imperador Vespasiano (69-79 d. C.) tomasse a decisão de fazer algo pela educação, que era totalmente privada, concedendo aos professores pensões e isenções das taxas municipais, de modo que a classe pudesse ter uma melhora na sua condição. É o que nos conta Catherine Salles, em A Roma dos Flavianos (La Rome des Flaviens, Paris: Perrin, 2002).

Faço das palavras da autora as minhas palavras sobre a nossa situação educacional. Com 44 anos de profissão regulamentada e 64 de idade, desconheço a existência de um projeto de educação para o Brasil. Projeto de Estado, não de governo, exequível, protegido, devidamente protegido pela Constituição como causa petrea, cuja implantação seja obrigatória, de modo que não se possa recuar, com verbas impossíveis de ser diminuídas e imune às famigeradas PEC’s. Não há outra saída para nós. Só a educação universal, obrigatória e gratuita, por nove anos, em tempo integral, é que nos salvará da demagogia, que grassa mais rápido e com mais eficiência do que erva daninha.

O nosso descaso com a educação está na raiz de nossa ignorância política, exatamente porque não interessa a quem nos (des) governa. Por causa disso, insistimos em não aprender a lição e o que vemos é o país se digladiando na defesa do obsoletismo das figuras bufas, cujas atuações farsescas só nos levam para a ruína. As facções e os seus fanáticos defendem com ardor o caudilhismo religioso ou o caudilhismo político, acreditando na desgastada e atrasada solução messiânica do salvador da pátria. E sem qualquer sentimento de vergonha, sem um mínimo de pudor, revelam o total desconhecimento com uma política voltada para o bem comum, cuja base é a educação. Esclareça-se que a ideia não é nova. Ela se encontra na República de Platão, livro com aproximadamente 2500 anos.

Não aprendemos e, pelo que vejo nas redes sociais, não aprenderemos. A situação é lamentável e quem mais paga por ela são os menos favorecidos, convencidos pelo discurso demagógico de que esmola é melhor do que escola. Situação irônica, em que a a simples troca de um fonema consonantal é capaz de causar danos irreparáveis.

Parodiando o poeta Gregório de Matos, como se fosse possível, já diria o meu querido amigo Wellington Pereira – Que Deus o tenha! –, eu diria “triste Brasil, a ti trocou-te a máquina mercante, que em tua larga política tem entrado; a ti trocou-te e tem trocado tanto negócio (escuso) e tanto negociante (não menos)”.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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