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A professora Erika Marques, Reitora do Centro Universitário Uniesp, é doutora em Psicologia Social - UFPB, Mestre em Desenvolvimento Humano - UFPB, tem MBA em Gestão Universitária pela Georgetown College e é especialista em Planejamento, Implementação e Gestão em Educação à Distância pela UFF. @profaerikamarques

Coisas de menino….

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publicado em 10/03/2021 às 07h43

O Dia Internacional da Mulher foi oficializado pela ONU na década de 70 e desde então vem sendo comemorado pelo mundo. A explicação é que a data simboliza a luta das mulheres para obterem condições equiparadas às dos homens.

Confesso que acho meio surreal, termos uma data para comemorar os avanços (nem tão significativos) de seres identicos que buscam a igualdade para com o outro. E quando falamos que os seres são homens e mulheres, além de que estamos em pleno século XXI (época da digitalização, dos contatos remotos, do expressivo avanço tecnológico, vivenciando a modernidade em várias áreas), nesse assunto, me sinto na época da Pedra Lascada. E com licença da palavra, lascadas estaríamos nós se não fossem as grandes mulheres que se jogaram nessa luta e mudaram a nossa realidade.
Ser mulher é condição, é característica, é força, dentro de uma complexidade e mil contradições. Ser mulher não é nascer, é tornar-se, como a famosa frase de Simone de Beauvoir: “Ninguém nasce mulher, torna-se mulher.” E dentre tantas mulheres admiráveis, temos histórias de luta, de exemplos, de superação e também exemplos daquilo que podemos ser, devemos viver. Afinal quem disse que não se pode rebolar e ser sexy aos 70? Madonna e várias outras mulheres provam que sim!
Tantas mulheres e tantas histórias, algumas de se inspirar, outras de se emocionar, muitas de admirar. As mulheres assumiram o papel de protagonistas, na gestão de grandes negócios e empresas, se destacando cada vez mais no mercado de trabalho, acumularam funções com a sua vida pessoal e demonstram seus visíveis resultados nessa ciranda desigual entre os sexos e os gêneros.
Fico feliz em saber que a nova geração que se forma e que estará no comando daqui há alguns anos, conversa entre os sexos de modo igualitário, entendem e acolhem a ideia das condições iguais, dos espaços, vontades e deveres compartidos sem ajudas, mas com responsabilidades compartilhadas. Minha filha tem 13 anos, e passou um tempo amando jogar futebol, o que lhe extremamente chateada e sem entender foi quando lhe disseram: – Futebol? Mas isso é coisa de menino… Engraçado como nos destacamos nas “coisas de menino” que nos propomos a fazer!
Como essa divisão nos limita, óbvio que atualmente bem menos, mas ainda limita e muito. Podemos perceber pelo acúmulo de funções e responsabilidades, que as mulheres até podem fazer “coisas de menino”, como gerenciar uma grande empresa ou até mesmo serem juízas em jogos oficiais de futebol. Mas, quando precisam de ajuda nas “coisas de menina” como arrumar a casa e cuidar dos filhos, por exemplo, em muitos casos ouve o “eu posso te ajudar”. Mas isso é cultura, é ação! E juntos podemos mudar esse cenário. Sim, juntos, homens e mulheres, somando e construindo.
Não é um duelo, uma briga, é uma questão tão óbvia que não deveria caber discussão ou muito menos, dia comemorativo, é lógica. Ambos são provedores, são capazes e culturalmente em algum momento foi entendido e cultuado o contrário, a nós, cabe um presente e futuro mais modernos, assim como a evolução da nossa tecnologia e de outras áreas. As pessoas que idolatram e fomentam essas diferenças deveriam tentar acender o fogo batendo duas pedras, para serem mais condizentes com o seu modo de pensar.
Bom, agora que acabei, vou terminar de organizar o jantar e corrigir as tarefas da minha filha. Depois vou colocá-la para dormir (não perco esse costume), mais tarde irei tomar uma cervejinha que deixei no freezer e deve estar véu de noiva. Hoje foi um dia estressante no meu trabalho, no qual sou a líder de mais de seiscentos colaboradores e tenho que acordar cedo para ir ao meu treino de boxe. Mas o que é coisa de menino mesmo?

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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