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Universal lança álbuns da Elizeth Cardoso nas plataformas de streaming

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publicado em 16/07/2020 às 06h06
atualizado em 16/07/2020 às 07h11

Hoje, o Brasil comemora o centenário da artista Elizeth Cardoso,  “uma mulher à frente de seu tempo”. A frase é clichê, mas Elizeth era uma personalidade da Musica Popular Brasileira. Criada com outros cinco irmãos, quatro mulheres e um homem, ela via sua vida tolhida desde muito cedo principalmente pelo pai, que não a deixava ter muitas liberdades que não seriam bem vistas aos olhos da sociedade partindo de uma mulher jovem e solteira.  Tanto tempo após sua morte, (ela faleceu no dia 7 de maio de 1990), a artista segue lembrada como uma de nossas maiores vozes do nosso país.

Elizeth foi descoberta aos 16 anos de idade por Jacob do Bandolim durante uma festa de aniversário dela mesma na rua do Rezende, na Lapa. O bairro, visto com maus olhos pela sociedade moralista da época, não poderia ter sido um melhor reduto para a ascensão de quem construiu com sua vida um modelo da resistência feminina. A presença de Jacob na comemoração se deu por conta da amizade que o artista tinha com o pai de Elizete, também músico. Anos mais tarde, em 1958, o apelido de divina veio do jornalista Haroldo Costa, que a chamou pela alcunha em um texto para o “A Última Hora” após assistir a um de seus shows. O nome pegou no meio artístico e entre os críticos culturais do país por conta da voz que conseguia ser potente e suave, erudita e popular, tudo ao mesmo tempo.

Foi logo quando a carreira começou a deslanchar que Elizete conheceu seu primeiro namorado, o jogador de futebol Leônidas da Silva (1913-2004). O relacionamento não era aprovado pelos pais. Não era bom que uma jovem, cantora e solteira ficasse voltando para casa altas horas da madrugada ou dormindo na casa do namorado. “Meu pai não queria (que ela namorasse)! Um dia, ele me colocou no telefone para desmanchar o namoro com o Leônidas com uma vara de marmelo (na mão). Desmanchei, mas no dia seguinte já estava na rua Ubaldino do Amaral namorando o Leônidas de novo”, ela contou em uma entrevista em 1981, ao programa “Os Astros”, da EBC.

O término com o futebolista veio depois que Elizeth decidiu adotar um bebê que havia encontrado abandonada na rua. O jogador teria dado um ultimato para que ela escolhesse entre ele ou a menina. Elizeth não só “escolheu” a menina, a quem chamou de Tereza, como não hesitou em registrá-la como “mãe solteira”, um escândalo para a época. Um pouco depois, ela conheceu o músico Ari Valdez, com quem começou a namorar rapidamente e se mudou para a casa dele com a filha em seis meses.  Elizeth e Ari tiveram um filho, Paulo Cezar, e a cantora passou anos do relacionamento lutando contra o ciúme do marido, que não aceitava as viagens a trabalho.

No fim da década de 1930, quando se separou ainda grávida, segundo o biógrafo e jornalista Sérgio Cabral — Elizeth não quis nada para ela, mesmo sem ter dinheiro para se sustentar e sustentar os filhos. Para conseguir alguma renda, ela decidiu aprender a dirigir e se tornar taxista na noite carioca. Ela revezava os dias em que se apresentava com o trabalho de motorista. Mulher negra, cantora, taxista, trabalhando na noite nos anos 1940. A divina não era divina só pela voz, mas por sustentar ideais e projetos de vida completamente inaceitáveis para a sociedade da época. Ainda mais mulheres separadas e com filhos. Enquanto trabalhava, os filhos ficavam com sua mãe.

A carreira artística construída nos anos 1940 não veio fácil. Ela havia largado os estudos aos dez anos e trabalhou como vendedora de cigarros, foi funcionária de uma fábrica de roupas de pele e até tentou a vida como cabeleireira. Com o emprego que conseguiu como cantora no Dancing Avenida, casa de danças no Rio de Janeiro, Elizeth passou a ganhar 300 mil réis por mês. Na biografia de Ataulfo Alves, Cabral conta que a nova ocupação permitiu que ela trocasse o quarto em que morava na rua do Catete, no Rio de Janeiro, com os dois filhos e a mãe por uma casa de dois quartos em Bonsucesso. Até então, ela era dançarina de lá e ganhava dinheiro de acordo com o tempo que passava dançando com os clientes. Porém, segundo ela, eram poucos os que a convidavam para dançar.

Lembrando Caymmi você já foi à Bahia?  Você já ouviu Elizeth? Então, ouça ela cantar  “Se eu morresse amanhã de manhã”, do pernambucano Antonio Maria.

Kubitschek Pinheiro – MaisPB 

Confira os lançamentos da Universal Music nesta quinta-feira  nas plataformas, com textos de Rodrigo Faour

– “Fim de Noite” (1958) – regravações de “Negro telefone”, “Culpe-me”, “Segredo”, “Último desejo”, “Feitio de oração”, “Prece ao vento” e “No rancho fundo”.

– “Naturalmente” (1958) – “É luxo só”, “Jogada pelo mundo” e “Na cadência do samba”.

– “Magnífica” (1959) – “Cidade do interior”, “Velhos tempos” e “Aula de matemática”.

– “A Meiga Elizeth Nº2” (1962) – “Deixa andar”, “Tudo é magnífico” e “Moeda quebrada”.

– A Meiga Elizeth Nº4 (1963) – “Balada da solidão” e “Nosso cantinho”.

– “A Meiga Elizeth Nº5” (1964) – “Canção que nasceu do amor” e “Diz que fui por aí”.

– “400 anos de Samba” (1965) – “O meu pecado”.

– “Elizeth Sobe o Morro” (1965) – “A flor e o espinho”, “Luz negra”, “Malvadeza Durão”, “Folhas no ar”, “Minhas madrugadas” e “Sim”.

– “A Bossa Eterna de Elizeth e Cyro” (1966) – “Tem que rebolar” (com Cyro Monteiro).

– “Muito Elizeth” (1966) – “Mundo melhor”, “Lamento”, “Cidade vazia”, “Sem mais adeus”, “Meiga presença” e “Apelo”.

– “A Enluarada Elizeth” (1967) – “Melodia sentimental”, “Meu consolo é você”, “Carinhoso”, “Demais” e “Seleção de sambas da Mangueira”.

– “Viva o Samba – Elizeth Cardoso, Francineth, Cyro Monteiro, Roberto Silva” (1967) – “Meu drama (Senhora tentação)”.

– “A Bossa Eterna de Elizeth e Cyro Nº2” (1969) – “Louco” e “Sei lá, Mangueira”.

– “Falou e Disse” (1970) – “Corrente de aço”, “É de lei”, “Refém da solidão”, “Aviso aos navegantes”, “Foi um rio que passou em minha vida” e “A flor de laranjeira”.

– “Feito em Casa” (1974) – “Água de sereno” e “Peso dos anos”.

– “Elizeth Cardoso” (1976) – “Minha verdade”, “Entenda a rosa” e “De partida”.

– “Live in Japan” (1977) – “Barracão”, “Naquela mesa”, “Apelo”, “É luxo só”, “Manhã de carnaval”, “A noite do meu bem” e “Última forma”.

– “A Cantadeira do Amor” (1978) – “Deixa”, “Até pensei”, “Velho arvoredo” e “Acontece”.

– “Elizeth Cardoso” (EP com 4 faixas raras) – “Trinta e um de dezembro”, “Chuvas de verão” e Quarto vazio” (as três de 1957), além de “Balão apagado”, de 1961.

 Informações sobre cada álbum

– “Fim de Noite” (1958) – Álbum editado originalmente no formato “LP de 10 polegadas”, com oito faixas, trazendo na ocasião mais quatro quando foi reeditado em “12 polegadas” – “Culpe-me”, “Segredo”, “Negro telefone”, todas de Herivelto Martins (com parceiros), lançadas num álbum-tributo ao compositor, além de “Nunca é tarde” (João Pinto). Destacam-se as regravações de três clássicos de nosso cancioneiro: “Último desejo” (Noel Rosa), “Feitio de oração” (Vadico/ Noel), “Prece ao vento” (Gilvan Chaves) e “No rancho fundo” (Ary Barroso/ Lamartine Babo).

– “Naturalmente” (1958) – O destaque deste álbum vai para “É luxo só”, samba que Ary Barroso fez com Luiz Peixoto em 1956 pensando na Divina, especialmente para o musical Mister Samba, de Carlos Machado. O espetáculo de grande sucesso estreou na boate Night and Day, da Cinelândia carioca, e tinha como mote a própria trajetória de Ary, que contribuiu neste disco com outra inédita, “Jogada pelo mundo”. O samba-canção “Suas mãos” (Pernambuco/ Antonio Maria), o sambão “Na cadência do samba” (Luiz Bandeira), cuja versão instrumental de Waldir Calmon foi tema do “Canal 100” nos cinemas da época, e a valsa “Olha-me, diga-me” (Tito Madi) são dignas de nota.

– Magnífica (1959) – Este álbum é todo dedicado a canções de Marino Pinto com seus parceiros famosos, como Mario Rossi (“Cidade do interior”), Carlos Lyra (“Velhos tempos”, lançada por Dalva de Oliveira) e Tom Jobim (“Aula de matemática”, criação de Sylvia Telles).

– “A Meiga Elizeth Nº2” (1962) – Este álbum abre com o samba carnavalesco “Deixa andar” (Jujuba), grande sucesso da cantora, que defende ainda duas joias de Haroldo Barbosa e Luiz Reis, o sambalanço “Moeda quebrada” e o samba-canção “Tudo é magnífico”, outro grande hit de sua carreira, além de recriar o clássico de Tito Madi, “Cansei de ilusões”.

– “A Meiga Elizeth Nº4” (1963) – Este disco que não obteve muito êxito à época, mas vale ser redescoberto por suas canções de Billy Blanco (“Balada da solidão”, “Lado bonito de um mal”), da dupla estourada naquele tempo, Evaldo Gouveia e Jair Amorim (“Nosso cantinho”, “Existe alguém”), Silvio César (“Seu José”), Fernando Lobo (“Quando vier o sol”), entre outros.

– “A Meiga Elizeth Nº5” (1964) – Este, também um disco com bons compositores, mas sem maiores hits. Destaque para as recriações de “Canção que nasceu do amor” (Rildo Hora/ Clovis Melo), já gravada por Cauby Peixoto, e “Diz que fui por aí” (Zé Kéti/ Hortênsio Rocha), primeiro hit de Nara Leão.

– “400 anos de Samba” (1965) – O ano do quarto centenário da cidade do Rio de Janeiro foi amplamente comemorado em 1965, seja pelas escolas de samba cariocas, concurso de música carnavalesca promovido pela prefeitura e diversos lançamentos pelas gravadoras, que editaram discos especialmente para a data. Neste álbum de Elizeth, apenas o samba-título de Luiz Antônio é alusivo ao tema. Entre as demais, o destaque vai para o samba “O meu pecado”, da incendiária dupla Nelson Cavaquinho e Zé Kéti.

– “Elizeth Sobe o Morro” (1965) – Um dos discos mais importantes da Divina. Aqui as turmas do show “Rosa de Ouro” e das noitadas do restaurante Zicartola, na Rua da Carioca, grande “point” da intelectualidade e da música daquele tempo, são devidamente incorporadas ao seu repertório, incluindo Nelson Cavaquinho (“Vou partir”, “A flor e o espinho”, “Luz negra”), Zé Kéti (“Malvadeza durão”), Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho (“Folhas no ar”), Paulinho da Viola e Candeia (“Minhas madrugadas”), Cartola (“Sim”), entre outros.

– “A Bossa Eterna de Elizeth e Cyro” (1966) – O programa “Bossaudade” apresentado pela dupla Elizeth Cardoso e Cyro Monteiro na TV Record, entre 1965 e 66, rendeu dois álbuns. O primeiro, com ele ainda no ar, marcou época, incluindo pot-pourris incendiários de samba, à moda do “Dois na Bossa”, de Elis Regina e Jair Rodrigues, além de outros deliciosos exemplares do gênero gravados separadamente, como “Tem que rebolar”.

– “Muito Elizeth” (1966) – Um novo e requintado álbum com a assinatura do produtor Moacyr Silva renovava mais uma vez o som da cantora, dividindo-se entre o acompanhamento de regional (“Mundo melhor” e “Lamento”, ambas de Pixinguinha e Vinicius de Moraes) e o de uma cozinha mais bossa-jazz, com influência da “MPB” nascente, destacando “Cidade vazia” (Baden Powell/ Lula Freire), “Sem mais adeus” (Francis Hime/ Vinicius) e dois sambas-canções que se tornariam seus grandes emblemas vida afora, “Meiga presença” (do filho Paulo Valdez, com Otávio de Moraes) e “Apelo” (Baden Powell/ Vinicius).

– “A Enluarada Elizeth” (1967) – Após cantar a “Melodia sentimental”, de Villa-Lobos com letra da poeta Dora Vasconcellos, Elizeth além de “Divina”, passou à “Enluarada”, acumulando a partir de então dois epítetos. Neste LP, além da canção citada, reviveu dois hits de Orlando Silva, o samba carnavalesco “Meu consolo é você” e o eterno samba-choro “Carinhoso”. Também recriou o samba-canção bossanovista “Demais”, do repertório de Sylvia Telles e Maysa, e entoou um longo “Seleção de sambas da Mangueira”.

– “Viva o Samba – Elizeth Cardoso, Francineth, Cyro Monteiro, Roberto Silva” (1967) – Este álbum coletivo valoriza os compositores das escolas de samba carioca, até então bem pouco gravados e conhecidos. Coube a Elizeth defender três deles, o futuro clássico “Meu drama (Senhora tentação)”, de Silas de Oliveira, do Império Serrano, que anos depois seria sucesso de Roberto Ribeiro; e dois menos conhecidos, “Festas tradicionais do Rio de Janeiro”, de Ledi Goulart e Hinha, da Mocidade Independente de Padre Miguel, e “Perdi a namorada”, dos portelenses Catoni, Jabolô e Waltenir.

– “A Bossa Eterna de Elizeth e Cyro Nº2” (1969) – Mais um álbum da dupla que apresentou o “Bossaudade” na TV Record. Nele, Elizeth reviveu “Louco”, de Wilson e Henrique Batista, sucesso de Aracy de Almeida no carnaval de 1947, “Sei lá, Mangueira” (Paulinho da Viola/ Hermínio Bello de Carvalho), que foi defendida num festival daquele ano por Elza Soares, sendo novamente sucesso em sua voz, além de outros medleys azeitados em duo com o Formigão.

– “Falou e Disse” (1970) – Além de ser um álbum de ótimo repertório, Elizeth teve aqui a primazia de lançar João Nogueira como compositor em “Corrente de aço”. Defendeu ainda belas parcerias de Baden Powell e Paulo Cesar Pinheiro (“É de lei”, “Refém da solidão”, “Aviso aos navegantes”), regravou o hit de Paulinho da Viola da época, “Foi um rio que passou em minha vida”, e trouxe um belo samba de roda da Bahia, “A flor de laranjeira”.

– “Feito em Casa” (1974) – Aproveitando a grande explosão mercadológica do samba nos anos 70, sobretudo após o estouro de Martinho da Vila e Clara Nunes, Elizeth fez um álbum em que gravava partido alto, como “Água de sereno”, de Romildo e Toninho, que acabavam de estourar “Conto de areia” na voz de Clara, e sambas derramados como “Peso dos anos”, de Candeia e Walter Rosa.

– “Elizeth Cardoso” (1976) – Aqui também um álbum com a prevalência do samba. Vale destaque para a até então inédita “Minha verdade”, de Dona Ivone Lara, ainda antes da fama, com Délcio Carvalho; “Entenda a rosa”, de João Nogueira, e uma inédita da dupla João Bosco e Aldir Blanc, “De partida”.

– “Live in Japan” (1977) – Um dos melhores da Divina foi este “Live in Japan”, pioneiro álbum gravado por uma artista brasileira naquele país, em que ela realizava também sua primeira turnê. O repertório é irrepreensível, trazendo apenas clássicos da música brasileira, alguns sempre associados a seu nome (“Barracão”, “Naquela mesa”, “Apelo”, “É luxo só”, “Manhã de carnaval”) e outros igualmente emblemáticos (“A noite do meu bem”, “Última forma”).

– “A Cantadeira do Amor” (1978) – Este álbum duplo marcou o fim de seu contrato com a Copacabana. São 26 músicas que fazem um passeio por várias fases da história da música brasileira, incluindo alguns de nossos maiores compositores, como Chico Buarque (“Até pensei”), Hélio Delmiro e Paulo Cesar Pinheiro (“Velho arvoredo”), Noel Rosa (“Século do progresso”), Baden Powell e Vinicius de Moraes (“Deixa”) e Cartola (“Acontece” e “Autonomia”).

Bonus:

– “Elizeth Cardoso” (EP 4 faixas) – Pequena coletânea inédita de quatro faixas, incluindo “Trinta e um de dezembro” e a regravação do sucesso de Francisco Alves, depois revivido por Caetano Veloso, “Chuvas de verão”, ambas do 10 polegadas “Música e Poesia de Fernando Lobo” (1957), do qual fazia parte ainda “Bom é querer bem”, que está incluída no álbum da série “Bis Cantores do Rádio”. Outro destaque é Quarto vazio”, do LP “Um Compositor em Dois Tempos – Jubileu de Prata de Herivelto Martins” (também de 1957), que trazia cinco números com a cantora, sendo esta a única que não entrou em outros produtos, e “Balão apagado”, rara composição de Noel Rosa e Marília Batista, lançada em primeira mão num 78 rpm, em 1961.

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