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Ana Adelaide abre coração em entrevista ao MaisPB

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publicado em 20/06/2020 às 08h32
atualizado em 20/06/2020 às 09h10

Poucos ou muitos sabem, mas a escritora Ana Adelaide nasceu em Fortaleza, Ceará, em 22 de Janeiro, numa tarde colossal. Ela é viúva, mãe de Lucas e Daniel, avó de Luísa, e sonhava virar o mundo e conhecer gente. Conseguiu. É professora doutora aposentada do Departamento de Letras Estrangeiras – CCHLA, da Universidade Federal da Paraíba, com formação em Letras pela UFPB, com Pós Graduação e Mestrado em Língua e Literatura Anglo Americana (UFPB), e fui bolsista da Capes e do Conselho Britânico, num programa de pesquisa na University of Warwick-Inglaterra. Em 2008 concluiu o doutorado em Teoria da Literatura pela UFPE.

Nos anos 80, participou dos movimentos feministas de João Pessoa, mas especificamente do Grupo Cunhã, 1990. Integrante do Conselho do Cine Clube O Homem de Areia, na Fundação Casa José Américo, Ana Adelaide tem dois livros publicados “Brincos, pra que Te Quero? e De Paisagens e de Outras Tardes” É contemplativa, aquariana, intempestiva, forte e fraca. Em entrevista ao MaisPB, ela fala de literatura, da pandemia , dos três casamentos e das coisas da vida, choque de opiniões etc.

MaisPB – O que Ana Adelaide está fazendo nessa pandemia?

R – Tenho uma rotina. Quando acordo, Leio os jornais, blogs, notícias . Depois, Afazeres domésticos . Casa, limpeza e cozinho umas 4 vezes por semana. Leio, vejo muitas séries, filmes. Escrevo crônicas. Passeio pelas redes sociais. Falo com grupos e amigos pelo whatsapp. Vejo TV, assisto aos jornais da noite. E programas que gosto, como Saia Justa, Rita Lobo, e outros. Há três meses que estou em isolamento social. Parece incrível, mas me adaptei à essa rotina, em nome da minha saúde. Claro que fico entediada, apreensiva com essa vida trancada em casa, e assistindo o terror das mortes, da situação em particular do Brasil. Também exerci o meu lado solidário com o meu redor e os mais necessitados. Sou privilegiada por poder Ficar em Casa. E me cuido. Emocionalmente, digo. Gosto de sentar na minha varanda pra contemplar a rua. Tomo vinho. Ouço música. E finais de semana, crio outras rotinas, como comidinhas especiais, um drink, converso com meu filho, Daniel ,que está em homeoffice, falo com o outro filho, Lucas, em facetime pra acompanhar a minha neta, Luísa , que fez um aninho e todo dia é uma novidade, e visito a minha mãe. Busco coisas que me deixam bem.

MaisPB – Você publicou dois livros de uma vez só e que fizeram muito sucesso. Não pensa em escrever um romance?

Quem me dera! Comecei a escrever tardiamente. E a crônica foi o que me chegou quase instintivamente, pela minha facilidade na conversa, nas histórias e no cotidiano. Não me atreveria a criar um romance. É preciso ter estrada e talento pra se criar personagens, enredo, conflito, linguagem, ponto de vista e uma história instigante. Prefiro ler o romance dos outros.

MaisPB – Fale da escala que vocês filhas estabeleceram para cada uma visitar a mãe nessa pandemia?

R – Minha mãe tem 92 anos, tem problemas auditivos, e algumas fragilidades da idade. Pra protegê-la, fazemos rodízio, para que não fique tão exposta à muita gente circulando. Então a cada semana uma de nós (somos 3 aqui) se encarrega de visitá-la, levar guloseimas, tomar um café na sala, olhar o mundo da varanda, mostrar fotos e vídeos dos netos e bisnetos, e distraí-la. Ela é lúcida, mas já não consegue entender a dimensão de uma pandemia como essa. Quem consegue? Fica difícil compreender porque não pode sair. Mas enfim, tentamos ao máximo estar presente, sem que a coloque em perigo.

MaisPB – – Morou e estudou na Inglaterra, tem uma irmã morando lá. Nunca pensou em deixar o Brasil e ir morar na terra da rainha?

Quando jovem o meu sonho era morar um tempo em Londres. Realizei um pouquinho desse sonho quando fui fazer pesquisa sanduíche do Mestrado na University of Warwick, por 9 meses. Viajei, vivi as estações do ano, comprei muito livro, morei no campus, fiz muitos amigos, e curti Londres muito, pois na época, minha irmã Teca morava lá com seu marido Anthony. Hoje moram no País de Gales, e eu gosto muito daquele lugar. Se pudesse iria todo ano em visita. Já voltei a Londres muitas vezes e continuo apaixonada por aquele lugar . Mas pra morar, confesso que já estou numa idade que não tenho vontade de deixar o meu canto. Gostaria de viajar mais. E de passar longas temporadas. Também na França, pra aprender Francês, tomando vinho e comendo queijos; e na Itália, só pra me encantar com aquelas belezas. Mas morar mesmo, gosto daqui. Viajar agora está difícil. Meu negócio no momento é escapar do Covid 19.

MaisPB – A senhora casou três vezes. mas parece que Juca foi o grande amor da sua vida?

Eu diria que foi com quem passei mas tempo junto, 25 anos. E sim, nos apaixonamos loucamente, e nos amamos muito. E tivemos um filho, Daniel. E como ele se foi muito cedo e de forma muito abrupta e trágica, e estávamos num momento muito sereno desse amor, fiquei muito triste e desolada. Hoje a dor virou saudade apaziguada. A vida é soberana e a gente aprende a recuperar a alegria, a brincadeira, e até o amor. Não necessariamente um casamento. Mas o amor pela vida e tudo o que nela cabe. Quanto às outras experiências amorosas, também vivi intensamente o amor que tinha no momento. E sim, ficaram marcas profundas também. Meu casamento com o artista plástico, Flavio Tavares, ao todo durou 10 anos, éramos jovens e apaixonados também. Muitas experiências ricas da juventude. Casei na igreja, de véu, mesmo que um casamento diferente e com sandálias rasteiras. E com Fred Pitanga, foi uma relação mais rápida e menos comprometida, mas tivemos um filho, e isso nos uniu também. Ficamos amigos (até dezembro último quando da sua trágica partida) e dividíamos a educação de Lucas, hoje já homem feito e pai de Luísa.

MaisPB – Tem lido um bom livro, poderia passar as dicas para quem está em casa?

Sim, Tenho lido. Estou fazendo parte de um Clube do Livro, experiência rica e deliciosa. Os dois últimos me pegara de jeito. A Uruguaia, do argentino, Pedro Mairal; E Laços, do italiano Domênico Starnone. Esse, des-concertante. Antes li também A ridícula ideia de nunca mais te ver, (escrevi sobre), da minha querida Rosa Montero. E estou começando Terra Sonâmula de Mia Couto.

Kubitschek Pinheiro – MaisPB

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