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Mari Paraíba ‘supera’ rótulo de musa e inicia desafio na Suíça

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publicado em 09/09/2016 às 09h25
atualizado em 09/09/2016 às 06h28

É automático associar o nome de Mari Paraíba ao rótulo de musa do vôlei. A princípio era apenas um elogio à beleza da moça. Uma coisa positiva, convenhamos, e que tomou grande proporção quando ela posou para a Playboy em 2012. Mas com o tempo foi virando um peso, uma espécie de preconceito invertido. A figura da jogadora começou a ficar para trás na cabeça das pessoas. Por isso, a ponteira passou a odiar ser chamada assim. De saco cheio, deu até um tempo de 10 meses na carreira em 2013.

Esse período foi muito importante para que Mari enxergasse o que realmente queria: jogar vôlei. Tentou a sorte na praia e pouco depois acabou retornando às quadras. Hoje, mais madura, ela lida bem com o rótulo de musa e inclusive acha que ele mais a ajudou do que a prejudicou. Uma vez que essa barreira estava superada, foi como “unir o útil ao agradável”, segundo a própria.

– Vi que não me importava o que os outros achassem ou falassem, que eu iria focar em mim e fazer meu trabalho ali dentro. E acho que (a pausa) foi a melhor coisa que fiz.

Mari Paraíba vinha sendo convocada para a seleção brasileira desde os Jogos Pan-Americanos de Toronto em 2015. Esteve muito perto de disputar a Olimpíada no Rio neste ano ao integrar a pré-lista de 17 nomes, mas ficou fora da lista final de 12 convocadas por Zé Roberto. Apesar da frustração, o episódio teve um lado positivo: provou que Mari faz parte da elite do vôlei nacional.

Aos 30 anos e bem resolvida, Mari foi em busca de uma nova experiência. Deixou o Minas e acertou a transferência para o Volero Zurich, da Suíça – é a primeira vez que está morando fora do Brasil. Espontânea como poucos atletas hoje em dia, ela recebeu o GloboEsporte.com em Zurique para falar sobre esse início de desafio e fazer um balanço da carreira. Veja a seguir a entrevista exclusiva com Mari Paraíba:

GloboEsporte.com: Como surgiu essa possibilidade de jogar na Suíça? E por que a escolha pelo Volero Zurich?
Mari Paraíba: Há dois anos eu vinha pensando nessa possibilidade de jogar fora do Brasil. Queria ter essa experiência, nunca morei fora, e estou vivendo isso tudo agora. Na verdade aconteceu de repente, eles foram olhar um treino nosso quando eu ainda estava no Minas, e logo depois falaram com meu empresário que tinham gostado de mim, (perguntando) se eu tinha interesse em jogar fora do Brasil. Aquilo mexeu um pouco comigo, porque o Minas, querendo ou não, com certeza era o time onde eu teria permanecido nesta temporada se não estivesse aqui. Mas eu também queria muito sair do Brasil. Uni o útil ao agradável e estou aqui (risos).

Mari Paraíba Zurique (Foto: Ivan Raupp)
Sorriso solto na entrevista: Mari Paraíba mostra seu lado espontâneo e divertido (Foto: Ivan Raupp)

Como está sendo esse seu começo fora do Brasil? O que está achando?
A primeira semana é um pouco mais tensa, até porque você não conhece as pessoas com quem vai trabalhar, o lugar. As pessoas são bem diferentes, são mais frias. Mas tenho algo que me ajuda muito, que é o fato de adaptar facilmente a qualquer lugar em que eu esteja. Isso está me ajudando aqui. E como saí muito nova de casa para jogar vôlei, aos 14 anos, isso também facilita para mim. Mas claro que aqui você fica um pouco mais sozinha, até porque as pessoas falam outra língua, então é um pouco mais complicado. Mas acho que estou me saindo bem. Ainda peguei o calor aqui na Suíça, então por enquanto está tranquilo. Vai pesar mais e ficar mais difícil quando o frio começar.

Como está se virando em relação à língua?
Aqui falam mais alemão, mas a galera fala inglês também. Não manjo muito de inglês, mas estou começando a fazer aulas particulares e espero estar falando bastante daqui a algum tempo. Mas algumas meninas falam espanhol, eu desenrolo um pouquinho e dá para entender.

Você esteve muito perto de ir para a Olimpíada, mas ficou fora da lista final. Como lidou com essa frustração?
Quando eu fui convocada, já sabia das dificuldades e do que poderia acontecer no meu caso, né? Estava disputando com quatro ponteiras que já estavam quase dentro, quase já tinham a vaga (Natália, Jaqueline, Fernanda Garay e Gabi). Então, fui trabalhando minha cabeça para um possível corte, para ficar mais conformada. Não sei dizer. Mas procurei fazer o meu melhor ali dentro. Sabia que seria difícil, e quando não deu é claro que fiquei muito triste. Mas depois passa. Ah, não sei te explicar. Não gosto de falar dessas coisas. Não sei.

Dá para ver o lado positivo: depois de tentar a sorte no vôlei de praia e ficar um bom tempo sem jogar, você voltou às quadras e ficou muito perto de disputar a Olimpíada. Foi reconhecida pelo seu trabalho. Quebrou a barreira da musa, né?
Chegou esse rótulo de musa, mas eu já tinha meu trabalho, já tinha minha carreira no vôlei. E eu não me destacava como musa, me destacava como atleta. E quando as pessoas criam esse rótulo de musa, esquecem o lado jogadora e acabam analisando a beleza. Infelizmente eu não poderia fazer nada quanto a isso, tanto que eu odiava. No começo foi bem difícil lidar com isso, e um dos motivos pelos quais resolvi parar é que não aguentava mais, “ah, é musa”, “ah, não sei o quê”. Aí surgiu a oportunidade da praia, que foi logo após eu fazer uma boa temporada no Minas. E por vários fatores de já ter essa rotina, por estar de saco cheio de algumas coisas naquele momento, resolvi parar. Nessa parada que dei, acho que foram 10 meses, vi que realmente queria jogar vôlei. E que não me importava o que os outros achassem ou falassem, que eu iria focar em mim e fazer meu trabalho ali dentro. E acho que foi a melhor coisa que fiz.

Fiquei um ano no vôlei de praia. Acho que o vôlei de praia é muito psicológico, ele te ajuda muito nisso, a sair de momentos difíceis. Se você estiver mal, a pessoa vai te massacrar ali e você vai ter que saber sair daquele momento. Isso me ajudou muito. Em outros fundamentos também. E quando resolvi voltar para a quadra, em 2014, voltei muito mais focada para o que queria e por que eu estava ali. Isso me ajudou bastante a crescer mais no vôlei. Agora estou aí, focada, feliz, e as coisas estão acontecendo naturalmente. Também acho que tudo acontece no tempo de Deus. Deu uma reviravolta na minha vida. Estava ali, parei, voltei e estou aqui hoje.

Mari Paraíba Zurique (Foto: Ivan Raupp)
Aos 30 anos, a ponteira está morando fora do Brasil pela primeira vez (Foto: Ivan Raupp)

O rótulo de musa te ajudou bastante financeiramente?
Fiz a revista (Playboy) em 2012 e alguns trabalhos de fotografia que surgiam. Mas nunca foi meu foco.

Mas quando você para e analisa, esse rótulo de musa mais de ajudou ou te prejudicou na carreira?
Quando as pessoas começaram a me ver como a Mariana jogadora também, o fator musa claro que me ajudou, porque juntou o útil ao agradável. Eu conseguia fazer trabalhos através da minha beleza e fazer o que sei, que é jogar. Nesse ponto me ajudou bastante.

Foi difícil para as pessoas passarem a te ver como jogadora de vôlei? Demorou muito?
Não sei, as pessoas são difíceis de entender (risos). Não sei explicar. Muitas pessoas vão gostar de você, muitas vão te odiar sem motivo, hoje consigo raciocinar isso. Antes de eu fazer a revista, fiz uma temporada muito boa pelo Minas, e acho que ali as pessoas começaram a me ver melhor como atleta. Depois fiz a revista. Mas acho que as pessoas realmente passaram a me respeitar mais na minha volta à quadra. Acho que elas dão valor quando perdem, vai ver é isso (risos).

A quem e a quê você atribui essa evolução profissional que teve recentemente?
Acho que, com a maturidade, você vai focando mais no que quer. O fato de eu ter podido ir para a seleção e convivido com jogadoras do nível mais alto que o Brasil tem, de ter trabalhado com o Zé Roberto, com o Paulo Côco, que foi meu técnico nas categorias de base… Acho que devo a muitas pessoas, não sei especificar.

Como você lida com a vaidade? Como concilia isso com o dia a dia de treinos e jogos?
Hoje em dia procuro me cuidar mais na alimentação, porque sempre gostei de comer muito quando não tinha esse status. Aí eu estava com o peso aqui, de repente estava com o peso lá embaixo. Hoje em dia tenho mais essa consciência de que tenho que estar bem. Porque se eu estiver gorda, já era (risos). Não, mas eu realmente não procuro me cuidar pela beleza. Quero me cuidar para ter uma vida mais longa no vôlei e o joelho aguentar. Mas eu procuro me cuidar, sim (risos).

Aos 30 anos, qual é o seu plano de carreira hoje?
Pretendo jogar até quando o meu físico permitir. Se eu estiver bem até os 40 anos, eu jogo. Como falei, voltei para o vôlei realmente com vontade de estar aqui, de jogar e ter uma vida longa. Até quando Deus permitir, estarei aqui jogando.

Você tem planos de construir família, ter filhos?
Eu tenho, mas está difícil (risos). Tenho, com certeza, mas no momento estou solteira. Uma hora aparece, não adianta ficar procurando, mas esse é um dos meus maiores planos na verdade. Tenho muita vontade de casar, ter filho, família e sossegar. Mas tudo acontece na hora certa. Na minha vida sempre foi assim, tudo devagar.

E você pretende explorar ainda mais essa coisa de musa quando parar de jogar?
Uai, se nada tiver caído ainda (risos)… Mentira. Não sei. Eu não corro muito atrás disso, as coisas aparecem nesse quesito. Quando aparece alguma coisa, gosto de fotografar. Não é minha praia, meio dura né, atleta, mas eu gosto. Então, quando aparece eu não nego. Se for um trabalho legal, eu faço. Mas pode ser que sim. Não sei dizer como vou estar futuramente, mas…

G1

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