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CINEMA

Filme ‘O regresso’ tortura Leonardo DiCaprio em direção ao Oscar

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publicado em 04/02/2016 às 10h30
atualizado em 04/02/2016 às 07h52

Ao longo de 156 minutos, o personagem de Leonardo DiCaprio em “O Regresso”, que estreia nesta quinta-feira (4) no Brasil, é sufocado, enterrado vivo, baleado, esfaqueado, perseguido por índios, enfrenta tempestades de neve e um rio caudaloso, passa fome, e cai de um penhasco.

Ah, sim, quase tudo isso depois de ser dilacerado — e não estuprado, como alguns dizem por aí — por uma ursa cinzenta protegendo seus filhotes. Após tanto sofrimento, o ator quebra a quarta parede e olha diretamente para o público — e eu podia jurar que ouviria um “Pelo amor de Deus, posso ganhar meu Oscar agora?”.

Nunca, em suas quatro nomeações anteriores por atuação, DiCaprio passou por tantas provações, nem mesmo ao cair de avião em “O aviador” (2004) ou ao enfrentar guerrilheiros em “Diamante de sangue” (2006).

Não são apenas os castigos vividos na tela e nas gravações — o diretor Alejandro Iñárritu evitou o uso de efeitos de computador, então a produção realmente passou pelas diversas intempéries — que garantirão o prêmio da Academia ao ator, mas eles devem ajudar.

A atuação, mais contida que aquelas de seus últimos três filmes, já garantiu a DiCaprio seu primeiro troféu do sindicato dos atores, um dos maiores indicativos de que o Oscar deve mesmo acontecer. Principalmente porque não há concorrente que consiga eclipsar o colega este ano.

Sem atalhos
Agora que tiramos isso do caminho, falemos do resto do filme. Iñárritu é um dos grandes cotados para conseguir o bicampeonato — quer dizer, o Oscar de melhor diretor pelo segundo ano consecutivo após a conquista por “Birdman”, em 2015. No entanto, o mexicano deve grande parte do favoritismo ao diretor de fotografia também indicado Emmanuel Lubezki — que deve ganhar pela terceira vez seguida.

Iñárritu constrói a solidão do protagonista, o histórico explorador abandonado por seus companheiros e atacado por um urso, Hugh Glass, através de longos planos e imagens da natureza congelada repletos de silêncio. Lubezki é o responsável por impedir que tais momentos soem gratuitos e pretensiosos, e permaneçam belos.

Com a dupla, “O regresso” resultou em um longa forte, bonito e que, mesmo lento, apresenta de forma crua a realidade de um inóspito Estados Unidos de 1820, se recusando a tomar os atalhos fáceis do maniqueísmo. Assim como a jornada do personagem, a narrativa é longa, solitária e repleta de dificuldades.

Quase lá
Em um cenário em que os índios são apenas uma das inúmeras ameaças, é possível entender as motivações até mesmo do personagem de Tom Hardy (que fez por merecer sua primeira indicação como ator coajuvante ao repetir sua atuação bronca e rude), o mais próximo que o longa tem de um vilão.

Os únicos a não receberem tal complexidade são os franceses, que aparecem brevemente apenas para protagonizar uma desnecessária cena de estupro — ela serve apenas para reforçar o quão malvados eles são, já que o abuso estava subentendido para qualquer um.

Com tudo isso, “O regresso” é um belo filme de velho oeste que não parece pertencer ao gênero, tem uma das grandes sequências de ação do ano, mas não é um longa de ação, e usa muito bem seu jovem e talentoso elenco, mas provavelmente será a produção lembrada para todo o sempre como aquela que deu a DiCaprio seu primeiro e merecido Oscar.

Não que seja pouco, mas parece um pouco menos do que Iñárritu queria originalmente.

 G1

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