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O Porão: livro ambientado na ditadura detalha período de resistência

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publicado em 04/05/2024 às 11h36
atualizado em 04/05/2024 às 15h05

Kubitschek Pinheiro – MaisPB

Um livro focado numa ditadura que aconteceu no Brasil, já é um resgate e merece leitores. No livro O Porão dos escritores Vítor Soares e Giovanni Arceno, a personagem Samantha nos leva junto para fazer um resgate dentro do prédio, o mais perigoso da Amé­rica Latina. É um livro-jogo, por isso tem o temor, ansiedade e a loucura dos personagens no cenário da ditadura civil­-militar brasileira. O selo é da Record

Com personagens e situações reais entrelaçadas, vividas pela luta armada durante a resistência ao regime militar, a narrativa entrelaça fatos e ficção de forma fluida e emocionante. E impressionante.

A história se passa logo após a assinatura do AI-5, período mais truculento da época, quando a tortura e a violência a oposi­tores do governo foram institucionalizadas. Lembram?

O personagem Cecília é capturada em uma emboscada por agentes do Dops, e levada para uma delegacia onde os detidos são mantidos em condições degradantes. De imediato, Samantha entra em cena e toma a decisão de invadir o prédio do Dops.

Cabe ao jogador-leitor definir quão impossível e dolorosa, mas vibrante, essa missão de resgate, e, para isso, tipo na vida real precisamos fazer escolhas e rolar dados, contando tanto com a perspicácia quanto com a sorte – para, quem sabe, reescrever os rumos da História.

Boa leitura – do livro, e das entrevistas que os autores Vítor Soares e Giovanni Arceno concederam ao MaisPB

Vitor Soares

MaisPB – O livro O Porão traz relatos e explicações que vão além do destinatário, os jovens. Estou certo?

Vítor Soares – Não necessariamente jovens. Ultimamente o mercado de livro-jogo tem mostrado um engajamento muito grande de pessoas entre 25 a 45 anos, mostrando que esse formato envelheceu junto com o público.
A temática “jogo” normalmente é atribuída a mais jovens, mas acredito que os livros-jogos não se encaixam nessa lógica, como pode ser visto em campanhas da Jambô Editora e do Jovem Nerd, com vendas de livros-jogos para um público em torno de 30 anos.

MaisPB – Sendo uma ficção em que traz Samantha como personagem principal – vive esse momento em plena ditadura militar, e tal livro já pode ser até um filme, não porque mostra o amor de duas mulheres, mas pela facilidade do texto e os jogos, não é?

Vítor Soares – Não sei se entendi muito bem a pergunta. Mas escolhemos ter a Samantha como a personagem principal porque mostra um lado pouco falado nas guerrilhas, que é o feminino. Atribui-se a esse tipo de resistência os “homens bravos”, o que cria um masculinismo em volta do movimento que não condiz com a realidade. As mulheres eram uma parte considerável da resistência armada na Ditadura. Já a sua sexualidade, acreditamos que falar sobre esse relações homoafetivas sem tratá-las como o grande centro da obra, é uma das formas de normalizarmos algo que não só é perseguido mas como também fetichizado. Samantha é uma mulher que sente atração por mulheres, mas isso é irrelevante na trama – como deveria ser na vida real também.

MaisPB- Esse tema sempre estará em voga, já que a ditadura militar nunca saiu do imaginário brasileiro?
Vítor Soares –Não sei se sempre estará em voga. Entretanto, enquanto nós enquanto sociedade brasileira deixarmos de punir os militares criminosos que conscientemente cometeram atrocidades (tanto legais quanto ilegais), ele estará. A Lei da Anistia, da forma que ela hoje é interpretada legalmente, nos dá a sensação não só de impunidade, como também de um assunto inacabado.

Vitor Soares

MaisPB- Como aconteceu fazer esse livro em parceria com Giovanni Arceno – escreviam juntos, discutiam os capítulos, etc?

Vítor Soares – –Tudo. O trabalho foi feito com 4 mãos em praticamente todo ele. Fazíamos reuniões quase que diárias pela internet (moramos distante) e íamos definindo o conceito, o argumento, as movimentações e tudo relacionado ao livro. Acredito que haja 50% de cada um nesse livro.

MaisPB – Na verdade, o livro vem do podcast História em Meia Hora – que mexe e remexe com o tema Brasil – o podcast continua, né?

Vítor Soares – Não vem necessariamente. Claro que o meu envolvimento com História tem sua conexão clara com o podcast História em Meia Hora, mas esse projeto e muitos outros que me envolvo são mais particularidades minhas. Sobre o podcast continuar de pé, com certeza. Com episódios todas as quartas e sábados às 5h da manhã. E muitos desses episódios são sobre a Ditadura Militar brasileira.

MaisPB – E tem o espaço “porão” reservado para as crueldades – vamos falar sobre isso?
Vítor Soares – Tem. Enquanto no livro pensamos em ser pouco descritivos para não impedirmos os mais novos de lerem e jogarem, no podcast eu acabo passando um pouco da linha na descrição da violência e tortura. Não há sensacionalismos, mas o podcast é um produto historiográfico, então às vezes precisa cruzar uma linha na hora de falar das crueldades na Ditadura Militar brasileira e em muitos outros momentos históricos.

Já o livro a gente acreditou ser mais um trabalho literário do que histórico. Portanto essa preocupação ainda maior com uma escrita mais confortável de se ler.

MaisPB – O que mais temos nas gavetas – projetos inusitados em áudio, vídeo e textos…
Vítor Soares – Sobre livros, pretendemos lançar, ao menos uma vez por ano, um novo livro-jogo de História do Brasil. Pegando outros momento da história brasileira e fazendo livros-jogos como O Porão. Acreditamos ser uma mídia pouco explorada e com um grande potencial literário e, principalmente, pedagógico.
Além disso, também pretendo lançar um livro do História em Meia Hora por ano. Há poucos meses lancei o livro “História em Meia Hora: Grandes Civilizações”, este sim, mais relacionado ao podcast em si. Pretendo manter o formato e mudar a temática de “Grandes Civilizações” para “Figuras que mudaram o mundo”, “O enorme século XX”, “Brasileiros que criaram o Brasil” e muito mais.

Giovanni Arceno 

MaisPB – De que trata suas outras obras Vitória Os Buracos?
Giovanni Arceno 
Os dois livros anteriores são romances, que é a minha “escola de escrita”, digamos. É o tipo de literatura que mais consumo há anos. O primeiro livro, Vitória (Oito e Meio), conta a história de uma gravidez indesejada entre dois adolescentes. O segundo, Os Buracos (e-galáxia), acompanha a jornada de um publicitário de uma metrópole que decide acompanhar a campanha política de um candidato à prefeitura de uma cidade pequena.

MaisPB  – No livro “O Porão” coube a você a parte da literatura?
Giovanni Arceno –  
Eu entro com a literatura, embora foi uma produção bem simbiótica. Mas a minha responsabilidade principal no projeto era escrever o livro, embora tenhamos revisado juntos cada linha. O livro tem três camadas: a de RPG, a histórica e a literária. A minha maior contribuição foi com a última.

Giovanni Arceno

MaisPB – Vivemos dias ruins desde a pandemia e mais agora com tantas porradas – teremos um tempo melhor lá na frente?
Giovanni Arceno – 
Sempre teremos. Torça-se o nariz ou não, as próximas gerações e o próximo tempo sempre será melhor que o anterior.

MaisPB – livro interessa a todos os públicos, não apenas os jovens. Estou certo?
Giovanni Arceno –
Ainda vamos descobrir a abrangência do público conforme o lançamento se desdobre. Acreditamos que há potencial entre apaixonados de história, quem gosta de consumir um conteúdo “diferentão” e conhecedores e interessados pelo tema da ditadura. Mas a nossa aposta maior, sem dúvida é o público jovem. Pelo formato, temática e mecânica de leitura, é em quem estamos apostando. Mas estou preparado para ser surpreendido. 

MaisPB – Quem Giovanni admira no mundo dos HQ?

Giovanni Arceno –Em HQs eu gosto principalmente do Alan Moore, mas não posso deixar de citar os romancistas latinos, que são, com certeza, minha principal inspiração na produção de escrita. Cortázar, Casares, Borges, Rubião, Zambra, Gabo, Bolaño e assim por diante.

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