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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Torquato, 80 anos

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publicado em 11/02/2024 às 08h18

 

Diversas versões da vida, seriam bastante incomodas sobre o que aconteceu ou o que deixou de acontecer. Nos filmes, seremos sempre coabitantes e mesmo assim, aprendemos muito mais nos filmes do que com as pessoas da sala de jantar, ocupadas em nascer e morrer.

Eu conheço pessoas que não gostam de filmes, de poesias e outras dizem que não aguentam ficar mais duas horas sentados numa sala de cinema – Não sabem o que estão perdendo? Ou nunca perderam nada?

Vi pela primeira vez e devo ver outras o “Documentário Torquato Neto – Todas as Horas do Fim”, (2018) de Marcus Fernando e Eduardo Ades sobre o piauiense Torquato Neto poeta, jornalista e integrante do movimento tropicalista. Torquato nasceu no dia 9 de novembro de 1944 e se matou no dia 10 de novembro de 1972. Este ano, Torquato faria 80.

A viração de um rapaz ao chegar ao Rio de Janeiro, já tendo passado pela Bahia, amigo dos velhos, sempre novos baianos, Gil e Caetano, já mostra um Torquato intenso, que o personagem do documentário. Parece ter saído do filme A Rosa Púrpura do Cairo, dirigido por Woody Allen. (1985) e se revela mais fugaz que a Mia Farrow, que deixa a tela e sai andando pela cidade. Sair da tela não é a mesma coisa que sair da vida.

 Caetano Veloso fala no documentário a sequencia que Torquato costumava seguir de longe pessoas como Drummond, Nelson Rodrigues. Torquato desafia a vida e se mata. Parece o mais solitário dos homens e certamente o antes, o fim e no meio, viu a porta da eternidade, mas o eterno não existe – dele se colocar diante da saideira, como o protagonista do filme – triste e atento.

As entrevistas e quase não aparecem os entrevistados, mostra algo mais solitário ainda. Era preciso que Torquato estive aqui e falasse em todas as sequências, sobre os assuntos abordados, mas Torquato se matou em 1972

Ao todo, 26 textos da autoria de Torquato Neto, entre poemas, colunas de jornal, cartas e trechos de diários, foram selecionados para contar a sua história interpretados pelo ator Jesuíta Barbosa.

O documentário conta ainda com uma entrevista em áudio do poeta, depoimentos de amigos e parceiros, como Gilberto Gil, Caetano Veloso e Tom Zé, e 19 músicas de Torquato interpretadas por nomes como Elis Regina, Edu Lobo, Gil e Caetano.

 Mas isso não é Torquato. O documentário mostra o jeito carinhoso como ele se referia a mãe, na canção que fez para ela, as fotografias da família, ele, o pai e a mãe. Os dias finais de Torquato foram tão poucos, mas ele segue imenso.

 O Torquato que não tinha onde dormir, passava as noites no sofá na sede da  União Nacional dos Estudantes – Une no Rio, exatamente no dia que o prédio foi incendiado. O dia em que ele esteve com John Lennon, em Londres, seu encontro com Jimi Hendrix, as cartas para os amigos, poucas respondias.

Gal cantando, “Mamãe, mamãe não chore” no documentário, é tão bonito. Também foi dito que ele queria fugir para não enlouquecer com os chamados das vozes. Outros afirmaram que, naquele momento, a camisa de força que o sufocava começou a se desfiar.

Torquato se antecipou. Uma pena!

 

Kapetadas

1 – Já se validaram apontando o erro alheio hoje?

2 – Foi pular carnaval e não precisou carregar o celular: Nota 10 no quesito bateria.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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