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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Chega de batata quente

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publicado em 24/12/2023 às 08h45
atualizado em 24/12/2023 às 05h51

  Tá tudo bem. É melhor dizer assim. Vai ficar tudo bem – ouvi essa frase a vida inteira. É a frase mais repetida entre os personagens da série “Nem Tão Perfeitos Assim”, criada por Anthony Van Biervliet, uma trama repleta de escândalos. A produção explora as complexidades das vidas dos jovens ricos e seus pais com relações conturbadas e segredos escondidos. Nenhuma novidade. Nada termina bem. É punk.

   A cada tempo, a cada Noite de Natal (não gosto muito dessas noites) não me lembra nada, apenas o bolo da batata doce que eu esperava o ano inteiro para comer no mercado público, lá no sertão de mim. O prazer era a sensação de que tudo ia ficar bem, mas só naquela noite. Chega de batata quente.

Perdura a inicial incerteza, de que tudo ficará ficar bem, talvez, no ano que vem, mas não me lembro de associar essa frase aos meus ouvidos de criança. Acho que o “tudo passa” e “a vida é breve”, tenham mais significados.

     À deriva não era, nunca foi o Caminho das Índias, porque sabemos que o mapa incerto dos ventos, onde o demo fez a curva, nada tem a ver com o mar que não está para peixe. Nada de milagre, viu?

      À luz de astros, a mulher de vestido azul, que rezava em meu filho, quando ele era pequeno e aparecia um mal olhado, aqui próximo da barreira do Cabo Branco, ela sempre dizia “vai ficar tudo bem” e, na verdade, devemos atrair boas energias, trocar ou tocar a flor da pele, entre medos e anseios e procurar ficar bem, para que fique bem mesmo.

Tirando essas coisas todas, não há mais nada do que eu posso pensar que não vai estar tudo bem. Vai sim. Há alguma coisa no Brasil, que me alegra – as pessoas que fazem acontecer, embora muitas tirem proveito das doações “natalinas” e gostem de ver tragédias.

Vi um exemplar traduzido no Brasil do “Os Últimos Dias da Humanidade”, publicado em 1915, de Karl Kraus,  mas muito a parcelar, e, entretanto, não me agradou e não me agradará em nada.

    É exatamente essa situação de ver alguém que veio por encomenda que não sabia nada do bem estar, mas vive num estado de inocência em relação a muitas complexidades que aparecem e que, se não forem detectadas, não sai dali uma coisa determinada a melhorar.

     A humanidade só cresce. Vai ficar tudo bem?  Ok, mas gente continua fechando as portas depois que o ladrão vai embora. Mas quem é o ladrão? Ou os ladrões? São muitos. Eu li que não honra entre os ladrões.

Enquanto os escândalos continuarem e virão muitos em 2024, não podemos pensar que vai ficar tudo bem. Otimista é uma onda  focada em autoajuda. O barco afundou faz tempo. Ainda vejo aquela mala cheia de dinheiro que Gerddel Vieira deixou escapar. Daqui a pouco o Gerddel vai ocupar seu novo palanque no poder.

    Na onda das garapas, encontrar gente bacana tá difícil, de morrer por um provérbio e uma expressão besta, é outra coisa. Dia sim, dia não, todo mundo é constante. Até domingo.

Kapetadas

1 – Às vezes acho que vou ficar louco, mas aí as vozes na minha cabeça me dizem que tudo vai ficar bem. Still trying to get some worlds out

2 – Aposentados mal-pagos, cansados e suarentos em roupas natalinas nas portas do comércio. Como a criançada pode acreditar em Papai Noel?

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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