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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

O bebê curumim

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publicado em 17/12/2023 às 08h29
atualizado em 17/12/2023 às 05h44

      Na entrevista que fiz  para o MaisPB   da semana passada, com Edson Cordeiro, que vai lançar novo disco em 2024, “Bolero do Cordeiro”, (nas plataformas) conversamos sobre o primeiro single, lançado em maio deste ano, “Minha mãe bordando estrelas”, uma canção dele e do compositor José Cândido.

    Os versos são lindos, uma canção de amor, de quem sabe espalhar alegria na dor de todo mundo, inspirada no reencontro do artista com a sua mãe após 4 anos, no final de 2022. Edson mora na Alemanha e Dona Odete Cordeiro no Brasil.

     A letra fala em despedida revelada, que a mãe bordava estrelas e traçou o caminho do filho, da vontade que ele tem de cantar todos os dias para Dona Odete, uma forma de agradecer as canções que ela cantava para ele dormir. Na letra, ele chama a mãe de “meu bebê”.

A intenção foi fazer uma canção para ninar a mãe de Cordeiro, ainda que custe a distância da voz, ainda que tudo em volta fosse só beleza, realidade, libertação, afeto, pois todo mundo deixa os pais um dia para viver outras vidas, né?

Das canções de ninar que ouço, é bela a de Caymmi, que ele fez para a filha Nana Caymmi. Linda é a poesia de Drummond, que Milton Nascimento musicou e gravou, que fala de preparar uma canção, em que todas as mães se reconheçam.

Difícil é fazer o caminho de volta para cuidar de pai e mãe, os nossos futuros bebês, seja na penumbra do quarto, ou no banho de sol. Muitas vezes escolhemos viver mais tempos com a família, que todo mundo diz  que a coisa mais importante da vida. É ou, não é?

Quantas pessoas se casam e fazem questão de separar o filho dos pais, da família, não recebem sogro nem sogra – do marido ou da mulher e gêneros – tratam mal. Eu conheço várias aqui em João Pessoa.

Edson Cordeiro diz na canção que ele é o Curumim da mãe, mora longe como todo mundo.  “Minha mãe bordando estrelas”,  une os dois, risca o tempo, quando o sim gera amor, nunca o não estou nem aí.

Mesmo que a canção seja uma divisa, entre agradecer e ofertar, na luz e na sombra, mesmo que não se acredite em destino, a forma de cantar de Edson Cordeiro já é uma oração. Eu cantaria também.

Vida cheia de abismos, do cume a raiz, mesmo que o fascínio esteja nos amores e fins, nos silêncios mais intensos, depois, nenhuma dor, sequer nos delírios lidos e ditos.

Todas às vezes que vejo Roberto Carlos canta “Lady Laura” ao vivo (ele canta em todos os shows) fico querendo que alguém me bote para dormir, e leve pra casa, mas não existe mais casa, nem pai, nem mãe.

 Eu escolho ver a beleza dessa canção que nos aproxima, sem deixar de estar (também) ali, em todos os versos.

    Eu escolho a delicadeza, mas às vezes sou racional, ignoro. Aí me lembro de meu pai, me pedindo para ter paciência, meu pai que contava histórias para eu dormir, sem deixar de ver (também) a alegria dos reencontros com minha mãe, quando existíamos no sertão, sua voz parecia sorrir pra mim.

    Edson Cordeiro é filho de um mecânico e de uma bordadeira, nasceu em Santo André. Eu era filho de um guarda-fios dos Correios e uma senhora dona de casa que não sabia ler. E mais nada.

Kapetadas

1 – Na tentativa de querer achar tanto, acabou se perdendo.

2 – Nunca estive tão perto de chegar tão longe.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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