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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Escamoteando Hemingway

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publicado em 04/11/2023 às 07h00
atualizado em 04/11/2023 às 05h39

Não posso, nessa altura da vida, deixar de lembrar de fazer a barba. É muito chato, e não tenho quem faça por mim – quem não tem tu, vai tu mesmo, né?

A cadeira do barbeiro lembra a do dentista, é uma agonia, porque tenho sempre a sensação da navalha na face. Também acho ruim fazer todo dia, nunca faria. O resultado de uma barba sem foliculite, é foda.

Escamotear e definir um design de barba, não é comigo. É uma coisa desagradável. Nem barba cheia eu tenho para isso.

Outro dia estava a lembrar da passagem de Hemingway, em 1934 em “Escrito de um velho jornalista”, (quando ele usava só o bigode). “Todos os bons livros assemelham-se no fato de serem mais verdadeiros do que se tivessem acontecido realmente, e que, terminada a leitura de um deles, sentimos que tudo aquilo nos aconteceu mesmo, que agora nos pertencem o bem e o mal, o êxtase, o remorso e a mágoa, as pessoas e os lugares e o tempo que fez. Se conseguires dar essa sensação às pessoas, então és um bom escritor.” Na velhice, o escritor usava a barba toda branca. Esquece, vamos ler que é a melhor saída da mesmice de fazer a barba.

Acho que a única coisa que eu lembro ou entendi lendo Ulisses  de Jaime Joyce,  é da personagem fazendo a barba na janela, antes de cumprir as tarefas do dia. Algumas mulheres gostam de homens barbudos.

Ser um bom escritor já falei, não é fácil, por isso nunca vou publicar um livro. As pessoas dizem: junte os textos e selecione os melhores e publique. Eu tô ficando é velho, não é doido não.

Um livro do K ninguém iria ler, porque livro bom tem sobrando. Aliás, nunca esqueci quando Walter Galvão me ligou dizendo que tinha gostado de um texto meu sobre Marlon Branco, e me contou a história de Ciobrando, irmão mais velho do Marlon. WG era foda.

Tá vendo, eu não sei escrever. Misturo as láminas.

Mas fazer a barba é pior, porque é uma obrigação, uma obra onde a questão está na cara, entre a barba mal feita ou rala, barbudão, caretão. A barba permanentemente é colocada em causa própria. As mulheres reclamam da barba arranhando no rosto delas, desde 500 anos a.C.

Não, eu não quero misturar as lâminas, barba é barba, cabelo e bigode, aí seria uma transa completa. “Deixa a barba crescer, Kubitschek”, pedia meu filho na pandemia. Que agonia!

Fora d´eu de mim, fora n´eu, Januária de CB deu o maior fora ni mim, dizendo que eu tinha arranhado seu rosto com minha barba mal feita. Sempre com o olhar para o que o sujeito de sorte eu, nunca uma forma de questionar a a arte tântrica, entre o que está fora ou dentro. Poxa, menina, se está dentro, deixa, que a gente faz a barba depois.

Kapetadas

1 – A esperança é melhor do que a lembrança.
2 – Estudos comprovam que é cada vez maior o número de estudos que nada comprovam.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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