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É formado em Direito pela UFPB e exerce funções dedicadas à Cultura desde o ano de 1999. Trabalhou com teatro e produção nas diversas áreas da Cultura, tendo realizado trabalhos importantes com nomes bastante conhecidos, tais como, Dercy Golcalves, Maria Bethania, Bibi Ferreira, Gal Costa, Elisa Lucinda, Nelson Sargento, Beth Carvalho, Beth Goulart, Alcione, Maria Gadu, Marina Lima, Angela Maria, Michel Bercovitch, Domingos de Oliveira e Dzi Croquettes. Dedica-se ao projeto “100 Crônicas” tendo publicado 100 Crônicas de Pandemia, em 2020, e lancará em breve seu mais recente título: 100 Crônicas da Segunda Onda.

Setembro não amarelou

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publicado em 03/10/2023 às 07h00
atualizado em 02/10/2023 às 15h48

Mateus ouviu de seu amigo que aquele seria seu último dia de existência. Falou das atrocidades que havia sofrido. Dos males de ter enganado toda sua família e do sofrimento de ser sozinho por não contar com o entendimento dessa mesma família e muitos a sua volta. Muitas vezes Mauro andou reparando na Lua, tanta lua cheia linda nesses tempos, tantos nomes novos do tipo, rosa, vermelha, de sangue, hiper, azul, mas nesses momentos, não achava beleza no satélite natural, andou triste prestando atenção no desenvolvimento de uma ruga doida que aparece na parte entre a costeleta e aquele pedaço estranho que sai do ouvido externo, na medicina se chama “tragus” ou trago no bom português. Será que é por isso que falamos, “trago boas notícias”?  Em certos momentos necessitamos da compreensão de que somos seres únicos e devemos valorizar nossas marcas, nossas características peculiares, enaltecendo nossas individualidades. A solitude, por sua vez, nos ensina a preencher o vazio que descobrimos em nós mesmos. A solitude salva e aprisiona! Sabe por quê? Pelo fato que depois que experimentamos a paz, nos tornamos seres mais resolvidos. A vida já parece completa, andar sozinho já nos preenche, mergulhar no mar por conta própria é um luxo só, ler um livro é bom demais, escovar os dentes no seu ritmo sem ter alguém olhando para você é “filosofar”. Mas o que Mauro sentia que aquele momento não era solitude, era pura solidão, apenas por falta de solidariedade. 

Faltava em Mauro, essência de pessoa madura, faltou destreza para contornar problemas e se sentir mais forte, mais coeso, mais dono de si, mais Mauro. 

Mauro não se matou, foi alertado por Mateus que não existem batalhas impossíveis, que é possível saber se recolher e se refazer, se amar, Mateus o avisou sobre o mal da solidão que deixaria de herança para seus dois filhos. Hoje Mauro vive bem, em solitude! Hoje Mauro percebeu que desenvolveu, por fim e por recomeço, um ótimo relacionamento consigo mesmo, naquele dia, entregou o revólver a Mateus e o setembro não amarelou! 

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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