João Pessoa, 29 de julho de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
maispb entrevista

Livro de contos “Vivo Muito Vivo” se inspira em músicas de Caetano

Comentários: 0
publicado em 29/07/2023 ás 11h51

Kubitschek Pinheiro

No dia 7 de agosto, Caetano Veloso fará 81 anos. Em celebração à vida e à arte do artista alguns livros já foram lançados e os autores de “Outras Palavras”, de Tom Cardoso e “Lado C”, de Luiz Felipe e Tito Guedes já concederam entrevistas ao MaisPB. Agora chegou a vez de Mateus Baldi. organizador da coletânea “Vivo Muito Vivo” com contos inspirados nas canções de Caetano. O selo é da Editora José Olympio.

“Vivo Muito Vivo” reúne quinze importantes autores brasileiros contemporâneos, que assinam os contos. O título da obra foi tirado da canção “Nine Out of Tem”, que está no disco Transa.

É mais um tributo literário que presta homenagem a um dos mais importantes artistas da cultura brasileira. Cada autor/autora escolheram uma canção como tema.

No conto, a canção é explorada, de maneira a ampliar a narrativa, reelaborar a poética ou dar nova vida a personagens icônicos que estão presentes na obra de Caetano Veloso, desde o início dos anos 1960.

Edimilson de Almeida Pereira, é um deles, vencedor dos prêmios Oceanos e São Paulo de Literatura – que reconta a fuga de um refugiado tendo como inspiração “Trem das cores”, e Giovana Madalosso – finalista dos prêmios Jabuti e São Paulo de Literatura – reimagina a história da “Tigresa”, em uma narrativa emocionante de uma protagonista em busca de uma ex-atriz de Hair.

Estão em “Vivo Muito Vivo”, portanto, os contos que reforçam a presença literária de Caetano Veloso, focados em grandes sucessos e também, composições mais alternativas.

Um Caetano Veloso amplo, brasileiro, mundial, que segue influenciando milhares de pessoas de todas as gerações no Brasil, e no mundo.

O MaisPB conversou com Mateus Baldi, e traz esse presente para os leitores, neste último sábado de julho.

Mateus Baldi, escritor

MaisPB – Já saíram alguns livros  celebrando os 80 anos de Caetano –  “Outras Palavras”, de Tom Cardoso e “Lado C”, de Luiz Felipe e Tito Guedes. O seu  “Vivo Muito Vivo”, cujo título é tirado da canção.  Como veio essa ideia?

Mateus Baldi  – Ao me dar conta dos 80 anos de Caetano, percebi que não havia um livro dedicado à imbricação de sua obra com a literatura, a exemplo de um volume sobre Chico Buarque publicado há muitos anos. Pensei que seria um bom projeto juntar autores relevantes da literatura brasileira contemporânea e as letras de Caetano, criando ficções a partir de sua obra.

MaisPB – Cada um escolheu uma canção e pronto. Dali nasceria os contos?

Mateus Baldi  – Sim. A única exigência era que a letra fosse de Caetano – por isso canções como “Sozinho” e “Sonhos” ficaram de fora.

MaisPB – Tem um livro da década de 90, parecido com esse seu  “A Imagem do Som de Caetano”, organizado por Felipe Taborda e Ana Lúcia Marinho, em que a letra da música vem com uma obra de arte, um desenho, uma colagem, de artistas brasileiros. Você conhece essa obra, ela poderia ter sido um toque para Vivo Muito Vivo?

Mateus Baldi  – Soube recentemente da existência desse livro, mas não cheguei a vê-lo, só algumas imagens na internet. Acho que são propostas diferentes, apesar de trabalharem com derivações da obra, de certo modo, mas não cheguei a ser influenciado – até porque só soube depois de organizar o projeto da antologia.

MaisPB – Como começou tudo?

Mateus Baldi  – Estava um dia num evento com a editora Livia Vianna, da José Olympio, e propus a ela que fizéssemos a antologia. O aceite foi imediato, o que muito me orgulha.

MaisPB – Os contos são bem interessantes, modernos, que podem ser lidos por qualquer pessoa, que conheça ou não a obra de Caetano Veloso. Concorda?

Mateus Baldi  – Totalmente. Inclusive essa era uma das metas: que a antologia contemplasse sucessos e lados B, de modo que desse alguma dimensão da vastidão de sua obra, filtrada pela literatura. Os registros e as dicções são interessantíssimos, muito diferentes entre si, ou seja, contemplam a obra de Caetano, em si mesma muito camaleônica.

MaisPB – Você assina o “Neolithic man” do disco Transa e  deu o nome de “Trança” ao seu conto. Vamos falar sobre isso, já que Caetano vai  apresentar o show Transa no dia 13 de agosto, do discoi Transa, na Marina da Glória, Rio de Janeiro?

Mateus Baldi  – O conto se chama “Trança”, e parte de uma coincidência: meu tio Paulo estava exilado em Londres na mesma época que Caetano. “Transa” é objeto do meu mestrado, estou às voltas com ele há anos, achei que algumas questões da pesquisa poderiam servir à ficção, especialmente “Neolithic man”, que até hoje é muito subestimada nas análises do disco. O título sai de uma reflexão do personagem, ao final, e, claro, faz um jogo com o nome do álbum e suas múltiplas interpretações.

MaisPB – Você defendeu a tese em abril passado. Vamos falar sobre isso?

Mateus Baldi   – Eu já tinha um fascínio por “Transa”, pelas músicas, mas houve um estalo quando entendi que não era apenas um disco, mas um mapa acústico do Brasil. A dissertação é um longo ensaio sobre o que chamo de disco-mapa, como se fosse uma “biografia”, faixa a faixa. Foram muitos meses me debruçando sobre os arquivos da época, as conexões que as músicas guardam entre si e com o contexto cultural, além dos depoimentos valiosíssimos . Fiquei muito feliz em poder falar com Jards Macalé, Tutty Moreno, Péricles Cavalcanti e Angela Ro Ro, que iluminaram pontos que nem sempre são claros quando pensamos em “Transa”. O plano é transformar em livro. E para coroar tudo isso, Caetano topou voltar a “Transa” a convite de Nelson Motta, em um show junto a Jards, Tutty e Aureo de Souza, o baterista do disco, no festival Doce Maravilha. Será no dia 13 de agosto, na Marina da Glória, no Rio.

 MaisPB – Você mostrou o livro pronto a Caetano, chegou até ele?

Mateus Baldi  – Estamos tentando entregar a Caetano, gostaria muito.

 MaisPB- Você tem outros livros escritos?

Mateus Baldi  -Lancei no começo de 2022 o livro de contos “Formigas no paraíso”, pela editora Faria e Silva.

 MaisPb- Ficaram alguns contos de fora?

Mateus Baldi  -Não. Todos os autores convidados entregaram seus contos.