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Ana Karla Lucena  é bacharela em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba. Servidora Pública no Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba. Mãe. Mulher. Observadora da vida.

Minha saudade

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publicado em 08/05/2023 às 07h00
atualizado em 07/05/2023 às 14h36

Outro dia, conversando com um amigo querido, falávamos sobre saudade. Começamos falando sobre a saudade que sentimos de entes queridos que partiram. Esse é o tipo de saudade que nunca diminui, nunca vai embora. Todos os dias ela é alimentada por alguma situação que nos faz lembrar e sentir da mesma forma, com a mesma intensidade. Depois, ele disse: sentimos saudades de tudo (todos) que é bom. O que quer dizer que, além de sentir saudade de pessoas, também podemos sentir saudade de lugares, de situações, de objetos, de um tempo. De tudo aquilo que um dia possa, de alguma forma, ter-nos feito algum bem.

Em determinado ponto da conversa, que foi curta mas bastante significativa, ele falou que já tinha ouvido em algum lugar que a palavra saudade só existe na língua portuguesa. Fiquei curiosa, fui pesquisar, também por ser uma amante do nosso vernáculo. Descobri algumas informações bem interessantes, dentre elas, a de que um estudo foi feito pela Universidade de Londres, o qual listou e procurou traduzir as palavras que só existem em determinados países e que não possuem tradução literal em nenhuma outra cultura. Três das palavras constantes na lista são portuguesas. Saudade é uma delas. Daí teria surgido o mito de que talvez tivéssemos a exclusividade do termo. Infelizmente, não é verdade. É uma lenda. Cada língua, em todas as partes do mundo, possui um significado e um significante. É possível que tenhamos a singularidade da sonoridade, mas não do significado.

Enfim superada a questão semântica, fiquei pensando que, embora – para a infelicidade da vaidade pretensiosa de alguns – não tenhamos uma palavra exclusiva em nossa língua para traduzir o sentimento de perda ou falta de algo ou alguém que ficou no passado ou que está longe de nós, o fato é que, falando do sentimento em si, não podemos dizer que exista algo mais exclusivo. Eu nunca saberei o quanto você sente saudade, como ela se manifesta em você ou como você lida com ela. Você também não saberá de mim e ambos nunca saberemos exatamente como expressar. Alguns se sentem reconfortados ao lembrar de sua cidade natal, por exemplo. Outro, ao ter a mesma lembrança, pode sentir de uma forma dolorosa. Ao ter saudade de alguém que já partiu, eu posso vivenciar a sensação de gratidão por todo o tempo de convivência que tive com essa pessoa. Outro alguém, ao sentir a mesma saudade, pode sentir dor e lamentar profundamente por vários anos.

“Morrer de saudade” é algo só meu, assim como “viver de saudade” ou “viver na saudade”. Você vai entender quando eu te disser, mas nunca vai sentir como eu sinto. Sim, minha saudade é exclusiva! Ela tem nomes, cheiros, sabores, cores, alegrias, tristezas, dúvidas e certezas. E é só minha.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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