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Educador Físico,  Psicólogo e Advogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Agente Especial da Polícia Federal Brasileira (aposentado). Sócio da ABEAD - Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do IBRASJUS - Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. É ex-presidente da Comissão de Políticas de Segurança e Drogas da OAB/PB, e do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas do município de João Pessoa/PB. Também coordenou por vários anos no estado da Paraiba, o programa educativo "Maçonaria a favor da Vida". É ex-colunista da rádio CBN João Pessoa e autor dos livros: Drogas- Família e Escola, a Informação como Prevenção; Drogas- Problema Meu e Seu e Drogas - onde e como lidar com o problema?. Já proferiu centenas de conferências e cursos, e publicou dezenas de artigos em revistas e livros especializados sobre os temas já citados.

Alcoólatra ou bebedor(a) de risco : Existe diferença?

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publicado em 02/05/2023 às 07h09

Por recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), profissionais de áreas diversas, familiares e sociedade em geral, devem evitar a utilização de termos como: alcoólatra ou viciado, pois são palavras que discriminam as pessoas que estão fazendo uso indevido destas substâncias. E tal discriminação pode contribuir para estigmatizar mais ainda estes usuários ou dependentes. Na atualidade, os termos recomendados são: alcoolista, usuário de drogas, drogadicto ou dependente químico.

Também houve uma ampliação do foco dos especialistas em relação ao público alvo, ou seja, antes as atenções dos profissionais cuidadores eram voltadas apenas para aquelas pessoas nas quais a doença do alcoolismo (dependência alcoólica), já estivesse tecnicamente instalada. Já na atualidade, a recomendação é que esses cuidados sejam estendidos também para aquele(a)s que se encontram na iminência de se tornarem dependentes ou alcoolistas, ou seja, o(a)s bebedore(a)s de risco.

A OMS só considera instalada a dependência química quando há uma alteração cerebral provocada pela ação direta das drogas nas diversas regiões cerebrais. Ou seja, para que se caracterize a citada doença é necessário que ocorra uma alteração química no cérebro. Para este diagnóstico, um dano real precisa ter sido causado à saúde física e mental do usuário.

Com esse entendimento, a chamada dependência psicológica tecnicamente não é mais considerada pelo Código Internacional de Doenças (CID). Este entendimento não é pacífico entre os especialistas. A corrente que discorda, e admite ainda a existência desta última, a caracterizam como um estado mental em que o usuário tem uma necessidade intensa de sentir os efeitos da droga. E assim sendo, a sensação de desconforto sentida pela pessoa é muito grande, mas apenas no âmbito psicológico e não no plano físico. Os desconfortos mais comuns são: sensações de angústia, mal-estar, ânsias, inquietação, bocejos, irritação, transpiração excessiva etc.

Entre o(a)s bebedore(a)s estão desde as pessoas que tomam uma única dose de álcool ao longo de um ano até os dependentes químicos (bebedores pesados), que não vivem sem a bebida. E, entre estes extremos, estão os chamados bebedores de risco.

Esta parcela de consumidores abusivos (de risco), geralmente é composta de pessoas que mantêm uma relação tranquila com a bebida, mesmo que vez por outra, cometam alguns deslizes, como por exemplo: tomou alguns copos de bebida durante um tratamento de saúde à base de antibióticos, teve uma ressaca tão forte que faltou ao trabalho ou a escola, não lembra de fatos do dia anterior etc. Mas nada que desperte muita atenção ou faça soar o alarme de que um hábito social e agradável começa a degenerar em vício. Pergunte a um bebedor de risco como é a sua relação com o álcool e ele certamente dirá que bebe apenas socialmente. Contudo, o limite que separa esses tipos de usuários de álcool do abismo da dependência é muito tênue. E, desta forma, este(a)s bebedor(a)s devem sempre estar alertas e cautelosos, pois a evolução da doença da dependência química é como o câncer (CA): cuidado no início as chances de sucesso são grandes mas, se chegar à metástase fica muito difícil a cura, que neste paralelo com o uso de drogas (álcool), seria a dependência ou vício.

A instalação da dependência, como citado anteriormente, caracteriza-se por alterações químicas no cérebro, advindo com isto o aparecimento da tolerância (aumento gradativo da quantidade de droga consumida na busca dos mesmos efeitos “agradáveis” de antes), e a abstinência (sofrimento físico e psicológico quando se o usuário se abstém do consumo da droga). Neste estágio, ou seja, quando a dependência já está instalada, a luta contra o alcoolismo é muito mais difícil de ser vencida, sendo a abstinência total e permanente a única chance de controle da doença, segundo a maioria dos especialistas neste tema. Já para os bebedores de risco, porém, a abstinência não é necessariamente o principal objetivo a ser alcançado. Isso porque eles ainda não estão com a doença da dependência química instalada, mas sim com o “sinal amarelo aceso”.

Para estes “bebedores de risco” a bebida tem um significado psicológico muito positivo. Ela lhes dá além de prazer e sociabilidade, maior autoconfiança, pois geralmente estes são incapazes de se divertirem sem que antes esvaziem alguns copos de bebida.

Contudo, “pra não dizer que não falei de flores”, como bem cantou o poeta Geraldo Vandré, e dar um pouco de tranquilidade a esses homens e mulheres, usuários das bebidas alcoólicas, estudos recentes mostram que, desde que não sofram de predisposição genética para a dependência química, muitas dessas pessoas poderão continuar desfrutando do que julgam ser os efeitos benéficos destas bebidas, sem necessariamente enveredarem para o caminho do alcoolismo. Mas, para isso, é fundamental que tomem consciência do grau de risco a que estão se expondo e aprendam a quebrar o padrão de comportamento associado ao álcool. É a chamada “política de redução de danos”, que implica em reduzir a quantidade e a frequência do comportamento de beber, sem necessariamente ficar obrigado(a) à privação total de tal consumo.

A maioria dos especialistas concorda que, aos alcoolistas (dependentes) recuperados, o primeiro gole deve ser evitado sempre, como preconiza o AA. A flexibilidade acima descrita é válida apenas para os bebedores de risco, porque eles ainda não caíram nas engrenagens cerebrais inescapáveis que produzem o vício ou dependência. Mas, não custa lembrar: evitar é sempre é o melhor caminho.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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