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Educador Físico,  Psicólogo e Advogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Agente Especial da Polícia Federal Brasileira (aposentado). Sócio da ABEAD - Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do IBRASJUS - Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. É ex-presidente da Comissão de Políticas de Segurança e Drogas da OAB/PB, e do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas do município de João Pessoa/PB. Também coordenou por vários anos no estado da Paraiba, o programa educativo "Maçonaria a favor da Vida". É ex-colunista da rádio CBN João Pessoa e autor dos livros: Drogas- Família e Escola, a Informação como Prevenção; Drogas- Problema Meu e Seu e Drogas - onde e como lidar com o problema?. Já proferiu centenas de conferências e cursos, e publicou dezenas de artigos em revistas e livros especializados sobre os temas já citados.

Esteroides Anabolizantes – A  bomba que pode explodir sua saúde

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publicado em 25/04/2023 às 07h00
atualizado em 24/04/2023 às 15h36

Os Esteróides Anabolizantes Androgênicos (EAA), mais conhecidos por anabolizantes ou “bombas”, são formas sintéticas (artificiais) do hormônio testosterona.

A testosterona é o mais potente hormônio esteroide anabólico androgênico secretado pelo organismo humano. Ela é sintetizada a partir do colesterol, servindo para estimular o crescimento muscular, ósseo, promover as características sexuais masculinas, aumentar a força, a libido e até a agressividade.

Os esteroides anabolizantes têm importância terapêutica. Entre os seus usos clínicos o principal é exatamente a reposição da testosterona, nos casos em que, por algum motivo patológico, o paciente apresente deficiência dela. Contudo, o seu uso indevido e indiscriminado tem preocupado as autoridades sanitárias no Brasil e no mundo.

Segundo alguns relatos históricos, um dos primeiros usos não médico dos esteróides anabolizantes que se tem notícia foi feito por soldados alemães durante a II Guerra Mundial, com o intuito de aumentar a agressividade e o vigor físico.

Um fato que, segundo alguns estudiosos, também contribuiu para o consumo indiscriminado destas substâncias é que durante as últimas décadas, a imagem idealizada para um corpo masculino mudou para um indivíduo com maior desenvolvimento muscular, como o de competidores bodybuilders, modelos fitness, bonecos de brinquedos e filmes com personagens musculosos.

Por sua capacidade de aumentar de forma rápida a massa muscular, muitos praticantes de atividades físicas, desportistas, atletas profissionais ou amadores, e também não atletas, têm feito uso indevido destas substâncias no afã da conquista de uma melhor performance e ou aparência física.

Segundo a literatura médica, dentre os principais efeitos provocados pelo uso indevido estão: a variação do humor (agressividade e raiva incontroláveis); ciúme patológico; tremores; acne severa; retenção de líquidos; dores nas articulações; aumento da pressão sanguínea; HDL (bom colesterol) baixo; icterícia (pele amarelada); tumores no fígado, pâncreas etc.

Além dos efeitos indesejados acima citados, outros podem ocorrer, seja com homens ou mulheres usuárias destas substâncias. No organismo masculino os mais frequentes são: a diminuição dos testículos, redução do número de espermatozoides, podendo causar infertilidade, a impotência sexual torna-se comum; surgimento de calvície; desenvolvimento desordenado das mamas (ginecomastia); dificuldade ou dor ao urinar; aumento da próstata etc. Já nas mulheres, é comum o aparecimento de características masculinas, sendo importante acrescentar que atualmente um dos hormônios que têm sido propagandeados por “tiktokers fit” é a oxandrolona, para fins estéticos com foco específico no público feminino. Segundo especialistas, esta substância se liga ao receptor da testosterona e tem efeitos semelhantes ao deste hormônio masculino, causando nas mulheres efeitos como: aumento do clitóris, engrossamento da voz, crescimento de pêlos faciais (barba), diminuição dos seios, diminuição ou ausência do ciclo menstrual, queda de cabelos etc.

Em entrevista recente, a Dra. Annelise Meneguesso, conselheira do CFM (Conselho Federal de Medicina), afirmou que, “…concomitante ao uso de esteroides anabolizantes androgênicos, tem crescido também a administração do hormônio do crescimento, conhecido como “GH” (Somatropina), especialmente por atletas, amadores ou profissionais”. Esta droga (ergogênica) visa a melhora da performance, motivo pelo qual também está incluída na lista de substâncias anabolizantes da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), assim como no rol de drogas proibidas no esporte pela Agência Mundial Anti-Doping (Wada)”.

Ainda de acordo com um estudo recente do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo, os usuários abusivos de anabolizantes apresentam maior risco de formação de placas nas coronárias, comprometendo o fluxo sanguíneo e o suprimento de oxigênio. Essas complicações levam geralmente a aterosclerose, podendo causar problemas como AVC e ataque cardíaco.

Outro aspecto a considerar é que o uso dessas substâncias por adolescentes poderá provocar uma maturação esquelética prematura, com puberdade acelerada, levando consequentemente a um crescimento raquítico.

Ademais, se tudo isso não bastasse, tem sido comum alguns usuários utilizarem produtos veterinários à base de esteróides, sobre os quais não se tem nenhum conhecimento dos riscos que estes podem causar nos seres humanos, uma vez que não foram testados em pessoas e sim em animais.

Assim sendo, e considerando não apenas os efeitos deletérios do uso indevido dos esteroides anabolizantes, mas também o aumento significativo de tal consumo indevido nas últimas décadas, e ainda que em muitos casos tais substâncias são prescritas irregularmente e abusivamente por profissionais médicos, o CFM publicou no dia 11 deste mês de abril a Resolução nº 2333/23, vetando a prescrição médica de terapias hormonais com esteroides anabolizantes e androgênicos com finalidades: estéticas, para ganho de massa muscular e/ou visando a melhora do desempenho esportivo.

A resolução também proibiu a realização de cursos, eventos e publicidades que tenham como objetivo estimular o uso ou fazer apologia de possíveis benefícios dessas terapias androgênicas com as finalidades já acima descritas.

Vale acrescentar ainda, que o COI (Comitê Olímpico Internacional) classificou vários anabolizantes e seus compostos como drogas banidas, desde o ano de 1976, ficando o atleta que fizer uso destas, sujeito a severas punições.

Contudo, o CFM reforça que continua válido e nada muda, em relação às indicações dos hormônios anabolizantes já anteriormente previstas na literatura médica, como por exemplo, no tratamento de doenças como hipogonadismo (deficiência androgênica), puberdade tardia, micropênis neonatal e caquexia (enfraquecimento). Podem também ser indicados na terapia hormonal cruzada em transgêneros e, a curto prazo, em mulheres com diagnóstico de desejo sexual hipoativo.

Assim, vamos viver a vida em toda a sua plenitude, mas de forma natural e saudável, sem a maquiagem momentânea e deletéria de substâncias artificiais que podem até embelezar, segundo alguns padrões, mas que envenenam o corpo.

 

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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