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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Triste é viver sem Gal

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publicado em 21/03/2023 às 07h00
atualizado em 21/03/2023 às 09h55

(para Caetano Veloso)

Parece que foi ontem que Gal Costa se foi. Uma notícia triste, que não sai do pensamento, (como se Gal foi a Bahia toda), da canção “Na Baixa do Sapateiro”, de Ary Barroso, que ela gravou no LP, Aquarela do Brasil, em 1980 – “Ô Bahia Bahia que não me sai do pensamento

Gal fora do foco? Nunca. Gal fora dos palcos, onde ela foi tudo, esticou seu nome mundo afora, o espaço dela, a cantora mais bonita, a sua aparição e, é daí, vem a voz, a voz mais bonita. “A maior cantora do Brasil”, disse Caetano Veloso.

Gal também era uma Elis.

Gal amava o filho Gabriel. A sua viagem mexeu com milhares de pessoas.

A Gal que servia a si mesma, a mulher Gal.

Às vezes saio, volto, boto o disco para tocar ou ouço no carro via bluetooth e já cheguei a ouvir a voz de Gal no  supermercado Pão de Açúcar.

Gal precisava viver mais, cantar mais, outras canções, mas Gal foi paralisada e novamente me assento, escuto Gal cantar Gil, vejo que da cantora ficou a voz – como pode ser uma voz tão bonita? Toda hora toca no rádio. O rádio é mágico. “GilGal” é uma canção bonita de Caetano Veloso.

Ainda estou bravo, querendo saber o que aconteceu com Gal. Difícil de compreender a morte.

Cuido bem dos discos, tiro a poeira, a maresia, escuto a poesia, gosto mais de ouvir em casa, onde há espaços para fazer o que sinto vontade, passar pela cozinha, um copo de suco de caju tirado do pé ou comprado aos meninos no Sinal Fechado de Paulinho da Viola, Quando não se perde o verde, da canção de Caetano, o menino diz –  “Tio, encoste o carro ali, que eu vou correndo…” Isso dele dizer correndo, estamos todos nós, correndo, a carga é pesada.

Tão bom viver em paz.

Outro dia topei com Gal cantando a canção “Triste”, de Jobim: “Triste é viver na solidão, na dor cruel de uma paixão, triste é saber que ninguém, pode viver de ilusão, que nunca vai ser, nunca vai dar. O sonhador tem que acordar, tua beleza é um avião, demais pra um pobre coração, que para pra te ver passar, só pra me maltratar. Triste é viver na solidão”.

Essa canção Gal canta no disco Live At The Blue Note, gravado em Nova York (nos dias 18 e 19 de maio de 2006), ao vivo, e ela fala de todos as canções, num inglês invejável.

E quando a gente acha que está vendo algo além, Nada Além, (Mario Lago e Custodio Mesquita, que Gal canta nesse disco Blue Noto

Triste é viver sem Gal. Gal metonímia, acima de tudo.

Kepetadas

1 – Não se fala desculpa a quem se sentiu ofendido, mas sim peço desculpa por ter ofendido. Isso é uma boa sacada.

2 – Uma Gal experiência dessa ordem ou desordem, é rara.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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