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Clara Velloso Borges é escritora, professora de literatura e mestranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected]  

Existências extraordinárias

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publicado em 24/02/2023 às 07h00
atualizado em 23/02/2023 às 15h33

A vida do escritor geralmente é pacata. Escrever sequer paga bem, a não ser que você seja um Paulo Coelho. É mais comum que escritores tenham rotinas cansativas, executando um trabalho formal em um horário e dedicando-se à literatura no contraturno. Sir Arthur Conan Doyle (foto) foi médico. Guimarães Rosa achou pouco e além de médico e escritor, foi também diplomata. Do século XX para o XXI, houve um boom dos professores universitários. Foi na UFPE que Ariano Suassuna ganhou a vida, João Ubaldo Ribeiro fez o mesmo na UFBA. A vida fora da curva de alguns escritores assim seriam independentemente da profissão deles, por serem pessoas extraordinárias também fora da literatura.

É o caso de Pablo Neruda. Em uma só existência, Neruda foi poeta e diplomata, arrematando o Prêmio Nobel de Literatura em 1971. Sua vida foi tão grandiosa que figura em outras obras. Longa Pétala de Mar, de Isabel Allende, apresenta Neruda como responsável por fretar o navio Winnipeg, com a intenção de levar dois mil espanhóis para Valparaíso e escapar da Guerra Civil de seu país. No filme O Carteiro e o Poeta, as epístolas de Neruda são tão sensíveis que ganham destaque.

Essa semana, foi comprovado que não é possível trilhar um caminho tão intenso sem incomodar muita gente. Peritos internacionais concluíram que Neruda foi envenenado, negando a versão original de morte por câncer. É reforçada, então, uma hipótese popular de que Neruda foi assassinado pela ditadura de Pinochet.

A semana foi agitada para a literatura também em razão de outro evento: a publicação de uma entrevista inédita de Clarice Lispector, que apresenta nuances diferentes da famosa entrevista que a autora concedeu à TV Cultura. Na conversa, Clarice reivindica sua brasilidade, rememora a infância e comenta as primeiras histórias.

Efetivamente, Lispector escreveu (e esta citação é verdadeira, não uma invenção amplamente divulgada no Facebook) que seu melhor livro seria aquele escrito sem palavras. Porém, a importância que as vidas de Neruda e Lispector ainda têm, tanto após suas mortes, reforça a autoridade de suas linhas.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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