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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Caminhos y memórias

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publicado em 07/02/2023 às 07h00
atualizado em 07/02/2023 às 07h15

De repente, uma tropa, não mais que de repente, um sopro. A vida e os diálogos milagrosos, silenciosos, dos ciclistas.

Encontrei-os na volta do Teatro Pedra Reino, na última quarta-feira. Homens e mulheres.

Aquela cena noturna, onde só se guarda imagens do caminho de volta para casa, com as promessas de um bom descanso, quase um veleiro, uma procissão.

Os finais felizes que queremos sempre ter, sabes? Lembro-me bem das luzes das bicicletas num balé em ciclovia, no asfalto escuro.

Não temos dunas, mas a imagem dessa gente pedalando, descendo a ladeira, uma cena brasileira, é bonito demais.

Se eu pudesse e tivesse fôlego estaria ali, mas outros caminhos infindos do sol que nasce primeiro, já marcam a minha bússola e minha desorientação.

De longe, o clarão, apesar da escuridão. Os ciclistas, em bandos, olhos faróis horizontes, embaixo do céu, braços e pernas sobre guidons e pedais, tacto bem colado à pele.

Movem-se feitos anjos e vagalumes, parceria da longeva  aurora boreal, a esperança, a família, um frio na barriga, de repetir tudo o que o corpo se lembra e a mente sã.

Não foi por acaso. Estava ouvindo Luiz Melodia, cantar que aquela madrugada deu nada, deu em sol.

E surgiam diálogos mudos, entre eu e eles. Não aquele que veste o sobressalto do pulso, não. Aquele que pedala ao som  da promessa de vida no seu coração. E tem Ferrugem, Glória Groove, Maiara e Maraísa.

Não vi as corujas da última vez em que fomos ao show do rei Roberto Carlos no Pedra do Reino, só os faróis das bikes

De todas as horas que os ponteiros  nos orientam, às 15h00 é a hora da Misericórdia, é a hora que os diálogos se afastam dos celulares  e cessam por segundos É nessa luz, que dizem, entre si, todas as palavras que se guardam, durante o dia. Amem.

As pedaladas descobrem todos os segredos dos mapas. As que desenrolam peões e andam à roda com as memórias e amadas amantes.

As que cantam os amores e bebem os tremores. As que dão voltas à natureza e tanto despem frutos como árvores.

De todas as palavras que nunca dizemos, que mais sonhamos, são as que mais queremos dizer. As que têm um final feliz. Certa hora quando as bicicletas são guardadas. E chega a hora de dormir.

Kapetadas

1 – Antes das cinco do que mal acompanhado

2 – O pior toco o toco saudades

3 – Som na caixa: “Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza, a palavra no muro ficou coberta de tinta”, Marisa Monte

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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