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Jornalista, cronista, diácono na Arquidiocese da Paraíba, integra o IHGP, a Academia Cabedelense de Letras e Artes Litorânea, API e União Brasileira de Escritores-Paraíba, tem vários publicados.

Primor de contos   

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publicado em 11/01/2023 às 07h00
atualizado em 10/01/2023 às 18h13

O conto ganhou destaque na literatura mundial e muitos autores obtiveram êxito literário atuando nesse gênero. No Brasil, desde Machado de Assis, passando por Lima Barreto e Guimarães Rosa, esse tipo de narração conquistou dimensão literária respeitável. Na Paraíba, tivemos contistas que deixaram obras de elevado valor. Em décadas passadas, em nossa terra, livros e antologias foram publicados com trabalhos de bons contistas.

O conto sempre apareceu como um gênero bastante utilizado por escritores, jovens ou consagrados, mas perdeu espaço para a crônica. Sempre tem surgido, entre nós, cronistas que vão na trilha de Gonzaga Rodrigues, Luiz Augusto Crispim, Carlos Romero e outros. A crônica de amenidade, também opinativa, conquistou valioso ambiente. Talvez por isso o conto entrou em estado sonolento, mas sempre bem-vindo, porque encontra no Correio das Artes o espaço merecido.

O conto de boa qualidade nunca perderá seus leitores porque, em cada um de nós, a nosso modo, somos contadores de histórias. Sendo que uns contam ou escrevem; outros contam e escrevem com maestria.

Chega Everaldo Soares Júnior, um médico que cuida da dor da alma das pessoas, e ressuscita esse tipo de narrativa com histórias que são, na sua maioria, um primor. A leitura de seus contos nos remete a melhor literatura do gênero, uma literatura que ultrapassa os limites em obra que deve se perpetuar.

A leitura de Tempo sem pressa é prazerosa. O tempo não quer corre-corre, nem devemos apressar as coisas, inclusive a leitura de uma obra de arte, porque é no manuseio compassado que se descobre o essencial na alma. Os contos deste livro nos fazem buscar, no mais profundo sentir, a vontade de viver, de amar e de se conhecer.

Os contos de Júnior são bem elaborados, os começos são atraentes, trazem estojo dramático, os diálogos bem construídos e alguns ostentam epílogo com relevância, por isso atraem o leitor.

Mesmo sendo um dos gêneros literários que requer muita técnica, com estes contos Júnior produziu uma literatura de alto nível.

Os contos que compõem o Tempo sem pressa são pujantes, reveladores da alma humana, os personagens têm sentimentos intensos, escancaram as dores e expõem as condições do relacionamento entre pessoas. Talvez por isso inquietam. Os personagens de Everaldo Júnior não temem o encontro com os acontecimentos da vida, pois sempre buscam se encontrar consigo. Como fala o poeta Vinícius de Moraes, a vida é a arte do encontro, o encontro entre os sentimentos.

Se antes Everaldo Soares Júnior (foto) estava entre os médicos escritores brasileiros que se destacavam, agora, com o Tempo sem pressa, ainda mais estará na seleta lista integrada por Moacir Scliar, Murilo Mendes, Pedro Nava, Arnaldo Tavares.

Tardiamente conheci Júnior, que na juventude teve ativa participação em movimentos que ajudaram muitos a descobrir paisagens sem espinhos. Sempre desfruto das leituras das obras literárias publicadas, frutos da sua fértil imaginação. Integrante da Escola do Traço Freudiano do Recife, há anos coordena o Seminário Arte e Psicanálise, o que possibilita avanços no conhecimento da palavra e do espírito.

Porque conhece a alma humana, ele carrega o sentimento do mundo, como canta o poeta Drummond, por isso trabalha seus contos com profunda sensibilidade. Seus personagens arrancam da alma a inquietação para plainar na suave paisagem da vida. Tudo ele vê com os olhos do coração, porque percebe o que está escondido a certas pessoas. O livro carrega muita emoção.

Uma emoção que faz tanto bem à alma.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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