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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Coração exilado

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publicado em 10/09/2022 às 07h00
atualizado em 10/09/2022 às 08h33

Eu pensava que meu coração era marinheiro, poderia viver em alto-mar (foto), mas na maré das batidas, ondas altas, tenho percebido que meu coração está exilado.

Eu gosto muito de música, cinema, literatura, viver e sonhar, aí sofro dobrado.

Se eu tivesse ficado onde nasci, teria uma solidão oscilante, teria que fazer as coisas banais de uma cidade pequena, e lá teria enterrado minhas dores.

Um homem que mora num lugarejo, ninguém aprisiona seu coração, talvez por haver motivos ou motivos de sobra para viver ali e, por natureza, se conformar com o clarão do sol e o contar estrelas no céu mais bonito do sertão, que não há igual.

Eu teria tido mais filhos, porque longe da cidade grande a gente casa para procriar.

Quando vim morar longe, deixei meu pai na rodoviária e minha mãe já tinha ido se deitar. Se eu não tivesse vindo, certamente, já teria morrido vivo, mas satisfeito, com a vida pacata de lá.

A ideia do homem na cidade grande, um homem que começa a envelhecer sem qualquer noção de apego, nem sei como explicar.

Vejo vida em tudo, mas vejo pressa também, agonia dilacerada, coisas sentidas como uma espécie de recuo e cenas fantasmagorias num piscar de olhos.

A vida na cidade grande, e João Pessoa está enorme, vai sendo delapidada por um número sem exatidão de indiferenças, além da repetição da desgraça de muitos, expostas nas redes sociais e continuamos refém de bobagens, que não nos leva a nada.

Qual a foi a foto que você postou hoje? Eu só tenho postado o mar e alguma flores da nossa casa ou recito poemas que me alimentam, mas poesia não é o prato do dia dos ateus da cultura. Aí sim, eu acredito – muita gente é ateia da literatura, do cinema e da música.

Toda viagem na cidade grande, me parece dolorosamente exposta, ulcerada pelas ilusões.

Quando eu digo que amo, amo mesmo, sem o deslumbramento, que dificilmente encontra abrigo na casa da humildade.

Por isso que eu descobri: meu coração é tolo, está exilado.

Kapetadas

1 – Brisa – Vento medicado

2 – A gente nasce e vai assumindo os papéis que dizem temos que assumir, a rainha fez isso, você faz isso, são poucos os corajosos que quebram as engrenagens e o peso da mesmice.

2 – Som na caixa: “Meu coração de criança, não é só a lembrança, de um vulto feliz de mulher”, CV.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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