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Caetano Veloso relembra carreira, destaca relação com JP e fala sobre futuro

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publicado em 03/09/2022 às 10h04
atualizado em 03/09/2022 às 14h42

Kubitschek Pinheiro MaisPB

Fotos Sarah Mirella

Caetano Veloso vai cantar em João Pessoa, dia 23 de outubro, no Teatro Pedra do Reino, um domingo, às 19h30. A turnê “Meu Coco” tem produção de Paula Lavigne, numa realização da Uns Produções 2022. Imperdível.

O cenário é inspirado em um estudo de Hélio Eichbauer. O material foi encontrado durante processo de organização de acervo de Helio Eichbauer por seu assistente, Luiz Henrique Sá, e por Dedé Veloso, viúva de Helio – uma relíquia do cenógrafo dos shows de Caetano, desde “O Estrangeiro” (1989). Uma escultura metálica suspensa em formas tridimensionais minimalista, em homenagem ao artista e designer Josef Albers, ex-professor da Bauhaus, na Alemanha.

Caetano abre o show cantando “Avarandado” e em seguida “Meu Coco”, canção que dá nome ao disco e dispara cantando “Sampa”, “Muito Romântico” e “Não vou deixar”, esta, do novo disco. Segue com “You Don’t Know Me”, “Trilhos Urbanos”, e “Ciclâmen do Líbano” uma das mais bonitas canções de “Meu Coco”.

“A Outra Banda da Terra”, “Araçá Azul”, “Cajuína”, “Reconvexo”, “Enzo Gabriel”, (do disco novo) “Leãozinho” e “Itapuã”, música que ele fez para a primeira mulher, Dedé, que canta emocionado.

Muita gente talentosa nessa turnê, que tem direção musical de Caetano, Pretinho da Serrinha e Lucas Nunes, que tocam  com ele (Pretinho da Serrinha, na percussão), Lucas Nunes, guitarra, violão e teclado, Alberto Continentino, no baixo elétrico, Rodrigo Tavares, teclado, glockenspiel e MPC, Kainando Jejê, percursão e bateria, Tiago da Serrinha também na percussão, SPDS e bateria.

Design de luz, Fernando Young e Gabriel Farinon Luz, técnicos de som: Igor Leite, iluminação, Gabriel Farinon Luz, Roadies, Pimpa Cruz e Gabriel Gomes, cenotécnico, Igor Perseke, stylist, Felipe Veloso, produção executiva: João Franklin, assistente de produção, Anabella Esteves, comunicação, Danilo Rodrigues.

Em entrevista ao MaisPB, Caetano fala da alegria de voltar a cantar em João Pessoa, diz que está valendo o sonho de voltar para Salvador: “me imagino cantando às quintas feiras no Vila Velha e morando no Rio Vermelho” e fala das canções que o público canta junto, seus amores, os filhos Moreno, Zeca e Tom, de seu filme. O Cinema Falado, ressalta a sua amizade com o pernambucano Jomard Muniz de Brito e outras descobertas – leia e saiba muito mais.

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MaisPB – A estreia de “Meu Coco” em João Pessoa vai acontecer em outubro. A última vez que você cantou aqui no Teatro Pedra do Reino, foi com a turnê “Ofertório” com os meninos Moreno, Zeca e Tom. Claro que “meu Coco” já é uma novidade, mas teremos outras canções do disco, nessa apresentação, como “Cobre”,  que você já cantou por aí ou quem sabe,  “Pardo”, que é uma canção linda?

Caetano Veloso – Também adoro “Pardo”. Mas é mais provável que eu cante “Cobre” do que essa. É que “Pardo” não é fácil para a voz ao vivo, passa por zonas vulneráveis da extensão vocal. É possível que eu cante alguma outra do disco que ainda não cantei no show. Tenho sempre as melhores lembranças do Ofertório. Cantar com meus filhos, estar com eles, é felicidade para mim. Fiz live com eles e ainda estou curtindo a alegria. Mas “Meu Coco” é outra delícia.

MaisPB – O show é muito bonito e a cada apresentação melhor, sua voz enche o espaço e a plateia o acompanha e já canta algumas canções do disco novo. Isso é muito bom, como acontece com Tieta, Leãozinho, Odara e muitas outras?

Caetano Veloso – Fiquei surpreso ao ouvir plateias (sobretudo jovens em festivais) cantando “Não Vou Deixar”. Claro que todos, em toda parte, cantam o refrão de “Sem Samba Não Dá”. E tem “Leãozinho”, “Menino do Rio”, “Odara” etc.

MaisPB – Desde Abraçaço ou bem antes, já no Show Cê,  seu público aumentou muito com a chegada dos jovens. Isso lhe dá alegria? Você consegue vê-los eufóricos, do palco?

Caetano Veloso – No período da BandaCê a percentagem de jovens na plateia cresceu. Em alguns lugares a plateia de coroas e pré-coroas diminuiu. Agora, no Meu Coco, vejo gente de todas as idades na plateia. Sendo que os jovens, claro, vêm pra perto nas músicas do final. Vejo bem a turma que chega pra cá perto do fim do show. Eu próprio e os geniais músicos que tocam comigo nesta aventura ficamos eufóricos também.

MaisPB –  Crianças também gostam do Caetano e cantam as canções nas redes sociais. Como você vê essa aproximação que já vem dos pais?

Caetano Veloso – Adoro ouvir crianças cantarem coisas minhas. Desde que Moreno nasceu que crianças passaram a ter grande importância para mim.

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MaisPB – Eu gosto de “Cobre” e adoro “Ciclâmen do Líbano”. Em “Meu Coco” tem alguma canção de sua predileção?

Caetano Veloso – Quando concluí o disco, minha favorita era Não Vou Deixar. Aquele “riff” de piano que Lucas Nunes criou me apaixona – e a letra diz bem o que eu quero dizer. No show, depende do dia. Ciclâmen do Líbano muitas vezes é a minha preferida. Mas acho que o que mais me emociona é cantar Itapuã, canção que compus e gravei muitos anos atrás.

MaisPB – Você disse no show dos 80 anos, que pretende voltar para Salvador e ficar cantando no Teatro Vila Velha.  Tá valendo esse sonho?

Caetano Veloso – O sonho tá valendo. Só o que me freia é o fato de meus filhos (e os filhos deles) terem crescido no Rio e estarem habituados à vida e ao sotaque carioca. Mesmo assim, me imagino cantando às quintas feiras no Vila Velha e morando no Rio Vermelho.

MaisPB – Li dois livros neste mês agosto – “Lado C” de Luiz Felipe Carneiro e Tito Guedes, que é muito bem escrito, com informações precisas de shows e bandas e li “Outras Palavras Seis Vezes Caetano” de Tom Cardoso que é autor da biografia de Nara Leão – este,  fala de um modo geral. Você já leu esses livros? Gostou?

Caetano Veloso – Fico honrado com o interesse de jovens autores pelo meu trabalho e pela minha trajetória. Li os dois livros de que você fala. Lado C é minuciosamente delicado e sensível ao que a mim mesmo interessa no fato de eu ter sido tragado pela música popular. Sendo que tenho apreço especial pelo período bandaCê. Logo que terminei de ler me prometi (e ainda estou me devendo) reouvir a trilogia. O livro do Tom Cardoso toca em vários aspectos da minha carreira e da minha vida. Sou grato. Implico com a reincidência em dois erros ultrafrequentes na imprensa desatenta e que não poderiam estar num livro como esse: o nome do meu álbum é Cores, Nomes, não “Cores e Nomes”; e o título do meu até aqui único longa-metragem é O Cinema Falado, não “Cinema Falado”.

MaisPB – Falando em cinema, o livro de Cardoso, traz informações sobre trilhas sonoras que você fez, para “Câncer” de Glauber Rocha  – cinema underground, “Toques” de Jomard Muniz de Brito. Esse processo de criação lembra Araçá Azul (um disco feito à mão) Vamos falar sobre isso?

Caetano Veloso – Gosto muito de ver citadas no livro coisas de que muita gente não se deu conta, como minha ligação com filmes experimentais e, principalmente, o texto de Clarice Lispector sobre meus telefonemas a ela (e meu comentário sobre tal texto). Jomard é uma figura muito amada por mim desde sempre. Ele foi tropicalista pioneiro e é amigo. Como se fosse uma celebração de tudo o que está em sua pergunta, canto Araçá Blue no show do Meu Coco.

MaisPB –   “Sozinho” é uma canção que nunca lhe deixa sozinho no palco e o público delira, assim como Deusa do Amor, que Moreno canta…

Caetano Veloso – Sim. Adoro ouvir plateias cantando Sozinho. Canto mais para ouvi-las cantar. Fiz esse paralelo com o caso Moreno/Deusa do Amor na live. Com a alegria adicional de poder terminar a live especial com a lindíssima inédita de Moreno “A Donzela se Casou”.

MaisPB –  Tom é um excelente músico e tem canções bonitas, Zeca é o fogo dos Veloso, com uma voz bonita, que se alonga e é bom compositor. E Moreno já vai longe nessa estrada. Poderia falar dessa trinca amorosa da sua vida?

Caetano Veloso – São os meus maiores amores. Tom é o mais músico mas é o mais desapegado da obra. Tem canções lindas. Aquela que me faz chorar, desde o título (Falta), é apenas uma amostra da profundidade poético-musical que ele destila. Tem parcerias lindas com Cezar Mendes, canções feitas sozinho e uma parceria com Zeca que é de arrepiar. Zeca tem muitas canções deslumbrantes, desde Todo Homem, e decidiu (sem pensar) cantar num falsete que não é um falsete que alguém faria muito bem: é uma manifestação espiritual muito própria. Faz tempo que ele vem gravando as próprias canções, mas, exigente, não tem pressa em lançar. Moreno tem já uma bagagem de responsa. Você precisa reouvir o primeiro disco dele, que é o primeiro do grupo +2. Cheio de jóias. E, ao longo dos anos, desde a letra de Um Canto de Afoxé Para o Bloco do Ilê, que ele escreveu aos 8 anos, até A Donzela Se Casou, ele, que é ao mesmo tempo um sábio e um ser arrebatado pelas fantasias, só produz beleza pura.

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