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O eterno Ariano Suassuna

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publicado em 01/08/2022 às 07h00
atualizado em 01/08/2022 às 17h51

Certa vez escrevi para consumo interno que toda praça de cada cidade brasileira deveria, por lei, apresentar semanalmente uma encenação de uma peça de Ariano Suassuna. Um sonho, uma utopia, sem dúvida, ainda mais num país que vê pouco a pouco se alastrar por seu vasto território um vácuo gigantesco de inteligência e sensibilidade. Na verdade, é a apologia à ignorância o que mais se vê e ouve nesta bela e maltratada terra, do topo à base da pirâmide social.

Porém, é desejo falar de Ariano, que será eternamente um brasileiro fundamental. Minha admiração por esse paraibano que se revelou para o mundo de Pernambuco me levou a ver várias montagens de peças dele, como “Uma mulher vestida de sol”; “A farsa da boa preguiça”; “O santo e a porca” (esta em duas encenações diferentes), e “A história de amor de Romeu e Julieta”, esta com a saudosa Cristine Cid, minha primeira mulher, mãe dos meus três filhos, no elenco. Nunca vi uma encenação de “O auto da compadecida”, mas li o livro que tenho em casa, vi a versão feita para a TV e a edição dela para o cinema, ambas dirigidas por Guel Arraes, único diretor da televisão em quem Ariano confiava até aparecer Luiz Fernando Carvalho, que dirigiu em 2007 para TV Globo “A pedra do reino”. Gravei os episódios numa fita VHS para ver e ainda tenho para rever quando puder digitalizá-la, o que pretendo fazer em muito breve.

Entretanto, um dos primeiros contatos que tive com o universo de Ariano não foi por sua obra teatral, nem literária, foi por intermédio da música, com os CDs do Quinteto Armorial que comprei numa ótima loja da Rua São José, no Centro do Rio de Janeiro, que já não existe mais há muitos anos. O Quinteto Armorial foi um dos filhos mais talentosos e famosos do Movimento de mesmo nome idealizado e concebido por Ariano Suassuna no início da década de 70 na Universidade Federal de Pernambuco que, além da música, envolvia outras artes, como a dança, a literatura, as artes plásticas (a xilogravura especialmente), teatro, cinema e arquitetura. Um legado cultural inestimável.

O Quinteto Armorial revelou ainda muito jovem o rabequeiro, cantor, compositor, dançarino e “brincante” Antonio Nóbrega, parceiro de Ariano em músicas e também em várias aulas-espetáculo que o mestre apresentou pelo Brasil afora na década passada. Do Quinteto Armorial cheguei à musical medieval, à Música Antiga da UFF, ao Anima, que me levou a outro mestre, Rubem Alves, e a Antulio Madureira, irmão de Antonio Madureira, maestro do Quinteto Armorial. E todos os integrantes deste círculo que tracei – e muitos outros – me levaram sempre de volta à nascente ariana que tão caudaloso rio fez correr por essas terras, abrindo veios, afluentes, fecundando tanta arte neste país.

Viva Ariano,  use novamente a gaita mágica do João Grilo e desmorra outra vez para que este rio imenso chamado Brasil não seque de vez!

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