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MaisPB Entrevista

Cantora carioca Leila Maria canta Djavan no álbum Ubuntu

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publicado em 11/06/2022 ás 13h59
atualizado em 11/06/2022 ás 15h54

Kubitschek Pinheiro MaisPB

Fotos – Catarina Ribeiro

A cantora carioca Leila Maria, está lançando um novo disco “Ubuntu”, interpretando 9 canções de Djavan, uma obra de peso, para quem já prestou homenagem à cantora Billie Holiday, em 2012. Ambos com selo da Biscoito Fino. A cantora Maria Bethânia participa da última faixa “Seca”, recitando a letra de Djavan, e Leila canta suavemente. Primeiro álbum desde o autoral (2018), Ubuntu já está nas plataformas de streaming.

O nome do disco Ubuntu, de origem Zulu, tem vários significados e revela o universo musical do álbum, que reúne artistas brasileiros, africanos e afrodescendentes. O álbum de Leila tem uma sonoridade africana e se une ao congolês.

Destaque em rede nacional na edição inaugural do The Voice +, em 2021, Leila Maria chamou atenção pela já conhecida voz de um timbre personalíssimo e o seu notável senso de divisão rítmica. Ela sabe onde pisa.

O repertório cantando Djavan foi bem difícil de se escolher e levou um bom tempo pra ser montado. “Foi tão difícil que acabamos incluindo uma música além do planejado, quando o querido François Muleka nos chegou com uma pérola, durante a gravação”, pontua a cantora.

A ideia de gravar um álbum focado em Djavan veio da produtora da Biscoito Fino, Ana Basbaum, que também sugeriu o nome do disco, sob a produção musical de Guilherme Kastrup.

Estão com ela, Milton Guli e Otis Selimane, a cantora Selma Uamusse, o maestro Ahmed Fofana (Bjork, Lauren Hill) que é do Mali e trouxe com ele o músico Assaba Drame para tocar ngoni, instrumento típico da região norte da África.

O grupo Vocal Kuimba, um coral de jovens estudantes angolanos formado em São Paulo, participa da faixa Meu Bem Querer. A descendência da diáspora no Brasil está muito bem representada por Beth Beli e Jackie Cunha nos tambores (do grupo Ilu Obá de Min); a cantora e pianista Maíra Freitas; o violoncelista Jonas Moncaio; a baixista Ana Karina e o naipe de sopros formado pelo casal Richard Fermino e Sintia Piccin.

O MaisPB conversou com a artista e traz a imensidão desse disco, que sairá físico no próximo mês. Um disco para ouvir e não esquecer.

MaisPB – Esse disco você cantando Djavan, impressiona pela sua voz, sonoridade, participações?

Leila Maria – Quando acabou o programa The Voice Brasil (2021) chamou a atenção de Ana Basbaum, que assina a direção artística, produtora da Biscoito Fino, que teve a ideia de fazer um disco só com músicas de Djavan. Eu fiquei muito feliz.

MaisPB – A primeira faixa Soweto/Tobina, traz uma inserção musical do congolês Zola Sta (guitarrista, violonista, cantor e compositor). Como aconteceu?

Leila Maria – O Zola, esse cara é demais. Ele é do Congo mas mora no Rio de Janeiro, temos muitos refugiados aqui no Rio. E ele inseriu esse texto, da música dele, que tem muito a ver, por tratar da violência contra a população, lá na África do sul e o Djavan traz essa questão na música Soweto. Ficou linda, né?

MaisPB – A segunda faixa “Aquele Um e Fato Consumado”, também traz a junção da proposta, né?

Leila Maria – Isso também foi ideia de Ana Basbaum. Ela estava ouvindo e já pensou em colocar outra música. A ideia do ponto de Exu, ela viu isso, pois essa canção do Djavan, tem letra de Aldir Blanc – carioca de Vila Isabel, que entendia muito da religiosidade. O Exu Tiriri, mas aqui na canção, ele retrata como se fosse um malandro carioca. Eu canto essa canção há um tempão, mas nunca tinha percebido isso, que ele fez numa alusão a Exu.

MaisPB – O disco vai sair físico, né?

Leila Maria – Sim, vai sair no final de julho.

MaisPB – Djavan já viu e ouviu seu disco?

Leila Maria – Já sim. Elke escreveu o texto de apresentação, que me deixou bastante emocionada. Eu achei perfeita a ideia que o “Ubunto” traz, que é uma filosofia africana que coloca todo mundo relacionado. Eu sou o que eu sou, porque você também é. Todos temos uma ligação com o planeta. Eu sinto muito fortemente nesse disco, que não é apenas meu, eu sou a ponta que levo ele na voz. Sim, o nome foi ideia de Ana Basbaum

MaisPB – Ninguém é uma ilha, não é?

Leila Maria – Não somos. As pessoas estão ligadas e haverá um dia em que todos tomarão consciência disso e quem sabe as coisas melhorem, que a gente existe em função de tudo. Todos nós temos ligações. Para cantar nesse disco, gravar, eu fiz uma viagem com seus ancestrais. Tudo muito intenso.

MaisPB – Na terceira faixa, você canta “Tanta Saudade”, que é um clássico e Bolino Na Nagai. Vamos falar sobre isso?

Leila Maria – É outra intervenção do Zola. A participação dele, foi além das guitarras e violões. Ele tem um trabalho muito bacana, tudo muito ligado em Angola – ele faz citações sobre o que é a história do país.

MaisPB – Alguns músicos gravaram e enviaram suas participações?

Leila Maria – Sim, A Selma é de Moçambique, mas mora em Portugal. A gente gravou intercontinentalmente. Também o pessoal que toca na faixa Oceano, (quarta faixa do disco), estava fora do Brasil. Ou seja, muitas participações foram feitas, virtualmente.

MaisPB – A canção “Meu Bem Querer”, tem a participação do Coral Kuimba. Fala aí pra gente?

Leila Maria – Sim, eu amo essa canção. Os músicos que moram em São Paulo, gravaram no estúdio do Guilherme (Kastrup). Eles são de Angola, são jovens maravilhosos. Meu Bem Querer tem praticamente só voz, a minha voz e a deles, com um arranjo fantástico. Eu gostei muito, tem as vozes masculinas fortes.

MaisPB – É muito boa sua interpretação de Oceano, que só Djavan gravou?

Leila Maria – Exato. Djavan tem canções belíssimas. Eu gosto muito da obra dela, e eu sou ligada em música, harmonia e arranjos e melodia, que é meu instrumento, minha voz. Aliás, eu tenho um hábito, que vem do jazz, que quando eu canto, chega de uma forma e sai de outra. Às vezes eu modifico, nessa possibilidade de improvisar Geralmente eu apresento o tema e quando canto pela segunda vez, ou quando tocam, se modifica um pouco. Com “Oceano” eu não fiz nada.

MaisPB – E a canção Flor de Lis?

Leila Maria – Eu mexi um pouquinho. Eu mexo naquilo que é a divisão rítmica. Por exemplo: muitos cantos assim: “Valei-me, Deus É o fim do nosso amor Perdoa, por favor Eu sei que o erro aconteceu, Mas não sei o que fez”, aí eu já mudo, não canto não sei o que fez, eu canto – eu não sei o que fiz.

MaisPB – E a participação do musico François Muleka, ((violonista, cantor, compositor e baixista) também descendente de congoleses?

Leila Maria – Muito boa, ele participou presencial, tocando baixo e violão. Foi ele quem sugeriu a nova faixa do disco, que só teria 8 faixas. A canção “Seca”.

MaisPB – Aliás, como aconteceu a presença de Maria Bethânia, na última faixa “Seca”, em que receita a canção de Djavan e você canta?

Leila Maria – Ela recita a letra toda. Impressionante. Foi mais uma ideia da Ana. Ficamos na expectativa se ela iria aceitar ou não, porque nesse período ela estava trabalhando muito, gravando um Podcast para o Instituto Moreira Salles, mas ela aceitou. Eu subi pelas paredes, porque eu sou muito fã dela. Ela é a maior artista de palco no Brasil. A ideia foi que ela não cantaria e sim declamaria. Quando o François Muleka sugeriu Seca, aí ficou claro que seria essa canção, que ela iria declamar. Ela começa a declamar e eu entro cantando depois, ela volta, termina o poema e fecho com ela.

MaisPB –Vamos para as palmas, que surgem na canção “Faltando um Pedaço”?

Leila Maria – Isso é coisa do Guilherme (Kastrup), ele que é responsável pelos dois últimos discos da Elza Soares. Ele é muito bom produtor. Eu já havia trabalhado com ele há muitos anos, no Grupo de Baile. Faltando um Pedaço é uma canção muito forte. Eu gosto de cantar essa canção.