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Marina de La Riva lança CD com Ney Matogrosso

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publicado em 23/04/2022 ás 15h30
atualizado em 24/04/2022 ás 10h03
Cantora Marina de La Riva ao lado de Ney Matogrosso

Kubitschek Pinheiro – MaisPB

Fotos – Dipp Photography

Brasil e Cuba se unem em “Raíces Compartidas”, novo álbum de Marina de La Riva, o sexto de carreira. Filha de pai cubano e mãe brasileira, Marina de La Riva mostra suas origens em “Raíces Compartidas”, um disco de jazz latino, que traz mais e mais semelhanças, do que diferenças entre o Brasil e outros países latinos.

Um clássico da música mexicana, foi a faixa escolhida por Marina de La Riva para iniciar o lançamento do álbum, que já está em todas as plataformas. O primeiro single “Cachito”, é um clássico escrito pela compositora mexicana Consuelo Velásquez e popularizado no Brasil por Emilinha Borba no final dos anos 50.

A canção “Cachito”, que ficou conhecida no mundo na voz de Nat King Cole, ressurge suingada e sensual em um dueto de Marina com Ney Matogrosso, com produção do brasileiro radicado em Los Angeles, Moogie Canasio.

“Não é a primeira vez que canto com a Marina e é sempre um prazer. Eu adorei o convite, ainda mais sendo “Cachito” que é uma delícia de cantar”, conta Ney Matogrosso.

Cantora Marina de La Riva ao lado de Ney Matogrosso

A música chega acompanhada de um vídeo com os bastidores do encontro da dupla, em um estúdio em São Paulo, para a gravação da faixa.

Tocam no disco, Torcuato Mariano que fez arranjos e violão de “Besame Mucho”, o também argentino Cheche Alara, no piano e arranjos, o peruano Ramon Stagnaro (que faleceu por Covid um pouco depois), nos violões e guitarra, o cubano Carlito del Puerto, no baixo, o americano Vinnie Colaiuta, na bateria, os brasileiros Jessé Sadoc, no trompete e Rafael Rocha, no trombone, e as percussões divididas pelos cubanos Luis Conte e Rafael Padilla além de orquestra de cordas.

Outra novidade está na canção “Y Que Sabes Tu?” de autoria de Marina – imagens, embora uma terrível e outra maravilhosa, da Gatesca Pantomima e da Damisela Libertad – a primeira referindo-se ao famoso quadro de Goya sobre os horrores da guerra e a outra quase o seu oposto, a “Senhorita Liberdade” – aparecem juntas nos muitos questionamentos da lindíssima canção “Y que sabes tu?”.

Marina conversou com o MaisPB e fala da construção do disco, dos 15 anos de carreira completados neste 2022, da alegria de estar de volta aos palcos, que gostaria muito de conhecer a Paraíba.

MaisPB – Como foi a gestação desse álbum?

Marina de La Riva – Esse disco, na verdade, é o primeiro de todos que nunca tinha nascido. Esse ano eu faço 15 anos de carreira e o meu primeiro disco ia se chamar ‘Raices Compartidas’. Tanto é que eu fui olhar no YouTube e encontrei lá e vi que está minha playlist, que se chama ‘Raices Compartidas’. Tudo que me motivou a fazer o meu trabalho artístico, vem do coração, essas raízes compartilhadas.

MaisPB – Raízes profundas que unem muitas vidas, não é Marina?

Marina de La Riva – Isso mesmo. Que foram me dadas pelos meus ancestrais, entre o Brasil e Cuba, e um olhar desde o Brasil amado, para toda América Latina, com todo interesse pela cultura. No meu caso, estamos falando de música.

MaisPB – Então, ‘Raices Compartidas’, poderia ter sido seu primeiro álbum?

Marina de La Riva – Exato, mas eu achei que era amplo demais e como eu era desconhecida, conversei com meu amigo, Nélson Motta, e ele disse: bota seu nome no disco, para que as pessoas saibam de você, e fiz isso. Mas agora veio. Foi um impulso, uma jornada, essa pandemia toda, que foi um desânimo do show business. O prato não fica pronto na hora que se serve, ele fica pronto quando você planta, cuida, colhe e convida as pessoas para degustar sua obra de arte.

MaisPB – Abre o disco cantando “Bésame Mucho”, que foi gravada por centenas de pessoas…

Marina de La Riva – Olha, vou te contar de onde veio o Bésame Mucho. Eu tive um grande presente na vida que foi ter sido convidada pelo João Donato, quando o Chucho Valdéz veio ao Brasil. Eles dois iam fazer um show, os maiores pianistas me convidando para cantar, imagina? Eu levei uma série de músicas cubanas, até uma que o Chucho Valdéz tinha gravado. Os dois me sugeriram cantar “Bésame Mucho”, na hora que eles começaram a tocar “Bésame” me deu uma emoção muito grande, a delicadeza da melodia (eu tenho até esse vídeo, se quiser procurar no YouTube)

MaisPB – Falando em “Bésame Mucho” você canta duas canções da compositora mexicana Consuelo Velásquez, nesse disco?

Marina de La Riva – Isso, eu gosto muito dela. Eu juro, como diziam meus ancestrais. Só deu para escolher apenas oito músicas, nesse repertório, que eu passei uma vida para celebrar. Eu posso dizer que poderia ter feito 42 músicas e tudo que está nele, é porque eu realmente fiquei com muito desejo de cantar.

MaisPB – Quanto tempo do disco anterior?

Marina de La Riva – Foi em 2018 e no meio da pandemia eu lancei um single. “Isso eu não disse” Esse gravei em outubro de 2020.

MaisPB – Esse disco tem a influência do jazz?

Marina de La Riva – Eu adoro o jazz, adoro latin jazz. Eu acho que é onde me encontro. Eu aprendi isso com um vendedor da Fnac, lá no começo da minha carreira, na época que tinha disco físico. Ele disse que tinha uma dificuldade com o meu trabalho, porque ela não sabia onde colocar meu disco. Ele disse que eu não era MPB, nem música brasileira, nem cubana, disse que meu trabalho é Latim Jazz. Eu adorei.

MaisPB – Cantar o compositor Carlos Lira, elevou mais ainda seu disco, né?

Marina de La Riva – Lembrando desse fato (do Latim Jazz), me veio a ideia de cantar a canção de Carlos Lira, ele é um gênio. Claro que enalteceu o meu novo trabalho.

MaisPB – Nesse disco há outra homenagem ao Brasil, na faixa Ai, Ai. Aí você canta Ivan Lins. Vamos falar sobre?

Marina de La Riva – Tudo começou numa quarentena no Panamá e se estendeu pelos Estados Unidos, onde agora estou visitando meu filho. Estava conversando com meu marido e disse que eu gostava tanto dessa música e ele me sugeriu uma versão. Aí veio a ideia de colocar Ivan Lins.

MaisPB – Então, esse disco celebra a vida?

Marina de La Riva – Eu gosto muito da vida, de dançar. Perdi minha mãe na pandemia. Ela adorava dançar, Dona Margarida. Com certeza ela ficaria feliz com meu novo disco. A alegria é uma grande resistência.

MaisPB – Você gravou esse disco no estúdio East West Studios, onde que Sinatra gravou com Tom Jobim, conta aí pra gente?

Marina de La Riva – Que chique, né? Quando eu me dei conta que estava na sala em que foi gravada “Garota de Ipanema”, fiquei emocionada. Lá tem fotos dos dois, uma maravilha. Fiquei muito feliz de ter gravado no estúdio East West Studios, onde Tom Jobim gravou seu célebre disco com Frank Sinatra, em 1967.

MaisPB – Vamos lembrar do Ramon Stagnaro, que toca nesse disco e faleceu da Covid-19?

Marina de La Riva – Ele era muito bom, o cara do violão, da guitarra, das cordas. Ele infelizmente nem ouviu o disco. Era uma pessoa incrível, excelente profissional. No dia em que ele morreu, foi uma comoção da comunidade latina musical. Era uma sumidade. O ator cubano, Andy Garcia fez uma bela postagem nas redes sociais. O Luís Conte, Cheche Alara, um timaço do meu disco. A grande ponte foi o Moogie Canasio, produtor do disco que me apresentou a todos. Eu já conhecia alguns. Mas foi muito triste a perda do Roman.

MaisPB – E a canção “La Gloria És Tu”?

Marina de La Riva – Eu amo. Muito. Eu vou te contar: é uma canção dos anos 40, de José Antonio Méndez, que é um cubano, do movimento Feeling pós bolero, que está mais conectado com o jazz. Por isso que se chama feeling, sentimento.

MaisPB – Você mora no Brasil e vive de lá pra cá?

Marina de La Riva – Sim, mas tenho familiares que moram fora.

MaisPB – Vamos falar do “Cachito”, que você canta com Ney Matogrosso?

Marina de La Riva – Certo dia escrevi para o Ney um pouco relutante, dizendo que tinha tido uma ideia e que algum dia queria contar. Ele me ligou imediatamente e conversamos longamente. Eu estava insegura, com ânimos que se alteravam, sem coragem de produzir um álbum novo e não fazê-lo. Terminei nossa conversa convencida, iríamos fazer uma música, e era ‘Cachito'”.

MaisPB – Vamos falar da canção “Noturno”, do álbum anterior, que você declama uma poesia de Ariano Suassuna?

Marina de La Riva – É lindo. Eu adoro Ariano Suassuna. “Têm para mim Chamados de outro mundo/ As Noites perigosas e queimadas, quando a Lua aparece mais vermelha/São turvos sonhos, Mágoas proibidas, são Ouropéis antigos e fantasmas que, nesse Mundo vivo e mais ardente/consumam tudo o que desejo Aqui/Será que mais Alguém vê e escuta?”, declama ela ao telefone.

MaisPB – A canção “Y Que Sabes Tu?” é de sua autoria, né?

Marina de La Riva – Essa é uma revelação. É minha e de meu marido, Carlos Bitencourt. Eu tenho certeza que a música nos salvará. Ela está no meu coração. Ela nasce sempre e nascerá.

Veja aqui o clipe de “Cachito”