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Clara Velloso Borges é escritora, professora de literatura e mestranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected]

 

Como se fosse verdade

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publicado em 22/04/2022 às 07h00
atualizado em 21/04/2022 às 13h21

Quais é o limiar entre ficção e não ficção? Romances históricos, como a trilogia O Século, de Ken Follet, (foto)misturam personagens fictícios com figuras reais, bem como inventam situações em contextos verídicos. O texto ficcional encosta na realidade, bebendo em sua fonte, mas não se esgota nela.

Os romances históricos compõem um subgênero cuja relação entre o real e o imaginário é mais evidente, embora esteja presente em todas as formas de literatura. O mítico e o histórico podem até parecer opostos, mas estão em constante sintonia. Afinal, não é o historiador um contador de histórias? Não é o escritor um organizador de eventos em contextos – reais ou não?

Tomar como verdade absoluta os romances históricos acarreta a distorção do conhecimento formal sobre determinados assuntos. Entretanto, aproximar história e literatura suscita algumas qualidades fundamentais ao entendimento de mundo. Ler romances históricos desperta empatia e humaniza os envolvidos emeventos marcantes. A informação de que a Segunda Guerra Mundial provocou dezenas de milhões de mortes, por exemplo, é difundida desde o Ensino Fundamental nas boas escolas brasileiras. Entretanto, a transformação deste número em pessoas com gostos, afetos e sonhos se torna possível com a leitura de biografias, diários ou romances históricos.

O historiador estadunidense Hayden White tenta trazer a história para perto da literatura, já que esta aproximação permite reconhecer melhor elementos ideológicos e fictícios dos textos. Inobstante, White argumenta que a história, enquanto disciplina, melhoraria se resgatasse sua imaginação literária. Ou seja: o imaginado também nos ensina sobre a realidade.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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