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Moisés Navarro lança EP e canta com Zezé Motta

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publicado em 12/03/2022 ás 12h00
atualizado em 13/03/2022 ás 09h28

Kubitschek Pinheiro MaisPB

Fotos Bárbara Furtado e divulgação

O cantor e compositor baiano Gilberto Gil, fará 80 anos no dia 26 próximo e deverá receber muitas homenagens. Entre as antecipadas, o cantor mineiro Moisés Navarro acaba de lançar o EP “Aquele Abraço, Gilberto Gil”, disponível nas plataformas de streaming.
A canção “A Mão da Limpeza”, que Gilberto Gil gravou no LP “Raça Humana”, e 1984,

Moisés canta com Zezé Motta, uma das mulheres negras de grande importância para nossa cultura brasileira. “O branco inventou que o negro/Quando não suja na entrada/Vai sujar na saída, ê Imagina só/Vai sujar na saída, ê/Imagina só/Que mentira danada, ê/Na verdade a mão escrava/ Passava a vida limpando/O que o branco sujava, ê”.

Com a produção de Pedrinho Alves Madeira e direção musical e arranjos de Jaime Alem, ( que durante 2º anos foi o maestro da cantora Maria Bethânia) o EP reúne belas músicas que foram poucas exploradas por Gilberto Gil e pelo seu público, entre elas são: “A Mão da Limpeza”, “Tradição” e “Zumbi, a Felicidade Guerreira”.

Diante do pedido para escolher uma das faixas e discorrer sobre ela, Moisés opta por “Zumbi, A Felicidade Guerreira”, uma música que comove muitos fãs. “Concordo demais com o Gilberto Gil e Waly Salomão quando eles dizem que ‘a felicidade do negro é uma felicidade guerreira’, disse Moisés Navarro.

De Pitangui (Minas Gerais) para o mundo da música, o mineiro Moisés disponibilizou em seu canal oficial no YouTube, o videoclipe da faixa, “A Mão da Limpeza” que mostramos aqui e comemora a marca de 9 mil visualizações. A criação e direção do clipe, é de Pedrinho Alves Madeira e Marinho Antunes.

Este trabalho faz parte do primeiro produto do selo independente Alves Madeira. A capa do EP é do grande artista plástico mineiro Ricardo Homen.

Em entrevista ao MaisPB, os artistas comentam sobre a produção do EP, a homenagem a Gilberto Gil e mostra um Brasil despedaçado. Zezé Motta relembra a canção “Tigresa”, que Caetano Veloso fez para ela, gravada em 1977 no álbum Bicho.

MaisPB – O EP tem esse nome “Aquele Abraço, Gilberto Gil”, numa referência à canção e ao mesmo tempo manda um abraço para o artista baiano?
Moisés Navarro – O EP tem esse nome “Aquele Abraço Gilberto Gil” em homenagem ao artista que neste ano completa 80 anos

MaisPB – Você traz três canções de Gil que acredito só ter sido gravadas por ele. Foi difícil escolher?
Moisés Navarro – Sim, nesse primeiro álbum eu venho com três de Gilberto Gil, três canções que foram gravadas por outros artistas. Foi muito difícil escolher porque Gil tem um repertório extenso, com muitas canções maravilhosas. Na verdade, a gente fica doido para gravar tudo. Foram escolhidas com bastante dificuldades.

MaisPB – A canção “A Mão da Limpeza” é muito forte. Poderia nos contar da sensação de regravar algo tão atual no Brasil de hoje, repleto de negacionistas e racistas?
Moisés Navarro – Quando essa canção foi escolhida, “A Mão da Limpeza”, eu fiquei muito feliz porque sabia que traria uma mensagem, através do meu canto, falando dessas questões raciais que acontecem até hoje. “A Mão da Limpeza” foi uma assertiva porque nós pensamos em Zezé Mota e ela aceitou cantar comigo, com o maior carinho do mundo. Eu tive esse privilégio de trazer essa mensagem através do canto dela, que é uma pessoa engajada há anos nessas questões raciais, com histórias de preconceitos, racismo, nada melhor a Zezé Motta nessa composição.

MaisPB- Então, a participação de Zezé Motta foi mais que fundamental. Como se deu o convite para ela cantar “A Mão da Limpeza?”
Moisés Navarro – Sim a participação da Zezé Motta foi fundamental, porque quando escolhemos o repertório, tínhamos que pensar delicadamente sobre um artista que representa isso, que vem lutando com essa questão há muito tempo e ela foi e tem sido muito importante para essa faixa, para todos nós que estamos lutando e vendo as coisas. Fiquei muito impressionado com a presença dela, com sua voz e com o carinho que ela lidou com esse projeto.

MaisPB – Outra assertiva em seu EP, é a presença do maestro Jaime Alem. Vocês são amigos, já tocaram juntos?
Moisés Navarro – A presença do maestro Jaime Alem neste trabalho foi muito importante, ele é um conhecedor da obra de Gilberto Gil, tendo sido maestro há mais de vinte anos da Maria Bethânia, e ele é quem faz toda direção musical do meu disco, maravilhoso músico. Ou seja, estamos criando um laço de amizade duradoura.

MaisPB – Você tem outros trabalhos lançados?
Moisés Navarro – Eu gravei um álbum “Viver A Vida” a cerca de dois anos, que foi meu primeiro disco, gravando e regravando sucessos de grandes compositores e intérpretes da MPB. Um disco que também traz músicas autorais com Ricardo Homen e que caminha um pouco pelo samba e o pop. Esse meu trabalho me colocou na MPB ,da nova geração de Belo Horizonte.

MaisPB – Com direção de Pedrinho Madeiro, o videoclipe está estourado no seu canal no YouTube. Vamos falar sobre isso?
Moisés Navarro – Sim, com direção do Pedrinho Madeiro, o clipe com Zezé Motta trouxe uma visibilidade muito boa para o meu projeto, o clipe está com dez mil visualizações em menos de três meses. Isso é bom para o artistas, é sinal que as pessoas estão assistindo, estão vendo o nosso trabalho

MaisPB – Você nasceu em Minas, qual sua influência dos artistas mineiros? Conhece o trabalho do Clube da Esquina?
Moisés Navarro – Nasci em Pitangui, Minas Gerais, que é a sétima da Vila do Ouro de MG. Eu tenho uma influência desde pequeno do meu pai que ouvia música clássica e também ouvia o Clube da Esquina. Depois que eu vim morar em Belo Horizonte, essa tendência ficou mais forte, de fato ingressar na carreira artista, isso tudo tem a ver com os artistas que fizeram história e até hoje ainda fazem.

MaisPB – Desde quando Moisés canta?
Moisés Navarro – Desde menino, cantava para a família, nas festividades da cidade, nas igrejas. Mas fui cantar, trabalhar com a música a partir de quatro anos atrás, quando lancei a canção Jurema, que é um dos blocos mais famosos de BH chamado Volta Belchior, que o Silvio Rosa me deu de presente.

MaisPB – Você falou com Gil antes de gravar?
Moisés Navarro – Não falei não, o Pedrinho que faz direção que fez tudo antes, que falou com o escritório de Gilberto Gil

MaisPB – Fale um pouco do trabalho do artista plástico Ricardo Homen que fez a capa do EP?
Moisés Navarro – Ricardo Homen é um artista super conceituado de Minas Gerais, com trabalhos premiados. Foi ele quem me ingressou na carreira de artista. Ele é de uma sensibilidade incrível. Inclusive, a segunda faixa do meu primeiro é dele, que dá nome ao disco Viver A Vida

Zezé Mota

MaisPB – Como aconteceu a sua participação no disco de Moisés, nessa canção tão bela de Gil, “A Mão da Limpeza”?
Zezé Mota – Eu me senti lisonjeada com o convite do Moisés de participar do disco dele, com essa canção, belíssima de Gil, “A Mão da Limpeza”, até porque, eu realizei um sonho que era protestar contra esse ditado horroroso, que diz que “negro quando não suja na entrada, suja na saída”. A música é exatamente uma resposta a essa barbaridade, a esse absurdo dessa história com relação ao negro. Foi prazeroso por todos os motivos, eu gostei muito de cantar, essa é a verdade. Só não temos sujeira para entrar, nem sair de lugar nenhum, somos bonitos e limpos.

MaisPB – Faz tempo que você não grava um disco completo, muito embora recentemente tenha lançado de compositores mineiros “Desprotegido pela Sorte?”
Zezé Motta – Pois é, estou com repertório maravilhoso para fazer um disco, cujo título é “O Samba Mandou Me Chamar”. Só tem pérolas, em termos não só de compositores, mas também das canções, acontece que quando estava para entrar em estúdio, veio a pandemia, mas se Deus quiser breve há de acontecer.

MaisPB – Você vive numa velocidade estonteante nas redes sociais. Como tem sido essa fase?
Zezé Motta – Exatamente. Nas redes sociais, eu ando tão presente já faz algum tempo. As pessoas andam dizendo eu ando onipresente, mas na verdade, é claro, que eu não faço isso sozinha: tenho apoio de meu produtor Vinicius Belo, trabalhamos tudo juntos e dar tudo certo

MaisPB- A canção “Tigresa” de Caetano Veloso foi composta para você. Isso é uma alegria sem fim, né Zezé?
Zezé Motta – Nossa eu não tenho palavras. Quando recebi essa homenagem, a primeira reação foi – não é possível? Eu fiquei algum tempo achando que era invenção das pessoas, de que Tigresa tinha sido feita para mim. Até que Caetano Veloso deu uma entrevista, tempos depois, bem muito tempo depois da música ser composta, e confirmou que fez a música para mim. Eu me lembro que ele brincou muito com essa história da “Tigresa”, porque todo mundo muito curioso, ela brincava também dizendo. Na época ele era casado com Dedé. Ele dizia que a Tigresa era Sônia Braga, era Dedé, e era eu, Ficava uma coisa no ar. Teve um momento que ele disse: “a Tigresa sou eu” Você sabe como é o Caetano, né? Ele adora uma provocação, mas no ano retrasado, numa entrevista para o Jornal o Globo, ele disse que realmente a “Tigresa” foi feita para mim. Foi uma emoção do tamanho do mundo, uma honra não, é?

MaisPB – O que Zezé diria sobre as dezenas de filmes, novelas, e apresentações realizadas numa vida inteira dedicada à arte?
Zezé Motta – Olha, não me imagino fazendo outra coisa a não ser arte. Cantar e representar, realmente é a minha vida, é o ar que eu respiro, então, eu agradeço todos os dias a Deus por ter conseguido realizar esse sonho, os dois sonhos, de cantar e representar e agradeço duplamente. Iniciar uma carreira é complicado e manter essa carreira durante 54 anos realmente é uma bênção, é um privilégio.

Confira o clipe: