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Magistrado, colaborador do Diário de Pernambuco, leitor semiótico, vivendo num mundo de discos, livros e livre pensar. E-mail: [email protected]

Os últimos seriam os mineiros

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publicado em 02/12/2021 às 07h35

Todo o mundo conhece aquela história de que o mineiro – não o profissional das minas, mas aquele que nasceu em Minas Gerais -, tem fama de reservado, discreto, virou até personagem de Ziraldo, o Mineirinho Come-quieto. Sei não, tenho lá as minhas dúvidas. Fui a Belo Horizonte e outras cidades mineiras e encontrei um povo acolhedor, alegre, consumidor da boa cachaça e que lota o mercado público, se divertindo, conversando alto e em pé nos muitos botecos ali existentes. Enfim, descontração total.

Então, de onde vem a fama da tal “mineiridade”, tão decantada Brasil afora? Quem responde é o crítico e escritor Silviano Santiago, nascido em Formiga-MG: “O que vou dizer talvez seja uma coisa herética. Isso que a gente chama de mineiro, o que jornalistas e historiadores chamam de ‘mineiro’ e ‘mineiridade’, tenho impressão que foi uma invenção da geração de Drummond”.

A geração de Drummond mencionada por Santiago é aquela formada por vários intelectuais, escritores e jornalistas que foram morar no Rio de Janeiro e grande parte deles, para sobreviver com um mínimo de dignidade, trabalhava em emprego público no governo ditatorial de Getúlio Vargas. Nunca disseram nada contra o autoritarismo de então.

Santiago chega a sugerir aos acadêmicos, professores e teóricos um estudo mais aprofundado sobre essa “mineiridade”. Se esse foi realmente o motivo de muitos terem “comido-quietos” no tacho da ditadura Vargas.

Não sei, mas a prevalecer essa teoria fico imaginando se fosse hoje uma ditadura e o governo resolvesse prender ou exilar intelectuais contrários ao regime, mas que permanecessem silentes, parodiando o adagio popular, os últimos seriam os mineiros.

 

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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