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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Não somos virtuais, somos nefelibatas

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publicado em 24/07/2021 às 07h57
atualizado em 24/07/2021 às 08h41

Apenas escravos. Correntes de vida que nos unem e se rompem. Somos ou nos tornamos escravizados da dor. Já fomos escravos de Jó, agora de Jobs, mas não somos virtuais, sequer Blade Runner em dias de sol.

Somos viciados dia e noite, roubam nossas senhas sem vacilarmos, somos transportados para agonias, somos grafias, em nossos papéis A4. Mas somos dados a repercussões. Às vezes, somos irmãos.

(parênteses) Aqueles que não pertencem mais a este mundo, permanecem nos dias intensos, incensos e vão se afastando em átomos.

(parênteses) O jornalista Walter Galvão deixou um vácuo e eu penso que ele está em seu próprio espaço a ocupá-lo sem que a gente o veja, apenas sinta. Somos pensamentos.

(parênteses) A morte de um amigo deixa de ter a substância da vida, os limites, o feijão com arroz, a medição da força, a medição da pressão, a medicação de todo dia, as cobranças, as alianças, o sexo e o ambiente escatológico de nós mesmos.

(parênteses) Tenho um amigo que diz que certas coisas, milhares, só se resolvem com a morte, mesmo em vias de fato, de nos transformar num ser invisível. Não somos invisíveis: somos sofridos, nacos, pitacos, esticando situações que não nos levam a nenhum Olimpo.

Somos capciosos, indescritíveis e arteiros.

Somos humanos e desumanos. Carentes.

Felizes eram, digo são, os seres imaginários de Borges, os mitológicos, Zeus e suas amantes.

Às vezes somos dois, somos vários e isso só piora. Valiosos são os que nos servem, limpam nossas casas, apanham as fezes dos animais, dão brilho em nossa mobília. Esses cumprem tarefas automáticas, do que chamamos de sobrevida. No final do dia levam cem reais para casa sem os desejos realizados.

Somos uma réstia, meu olhar triste dentro do carro, meu abraço intenso em meu filho, sim, filhos, melhor tê-los, para que eles não fiquem só para nós.

Estamos à procura de reaver uma cena passada, de que forma se ausentou o amor.

Não somos virtuais, somos nefelibatas, não somos donos de nada, mamulengos, mambembes, Genis, gentis, somos o que escolhemos, somos todos iguais de dia e de noite.

Somos parte de outra parte. À parte ou aparte? Um desafeto, um neto, uma lagartixa na parede e ainda por cima, vivemos a dar bandeira e passamos recibos.

Somos humilhação, somos espantalhos, humilhamos e somos humilhados, gritamos e somos gritados.

Estamos enganados?

Somos cruéis?

Somos amigos?

Até quando?

Kapetadas
1 – Amor, vou ali no espaço comprar um anel de Saturno pra você. Bezos!
2 – Nem tudo deve virar palavra.
3 – Som na caixa: “E a grandeza épica de um povo em formação/Nos atrai, nos deslumbra e estimula”, Caetano Veloso.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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