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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Indefinições

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publicado em 03/07/2021 às 08h16
atualizado em 03/07/2021 às 05h32

Sinto falta de um dicionário de indefinições. Parece que não há nas estantes, claro que não.

Eu sou uma pessoa que sofre antecipadamente, é uma doença, eu sei. Sou de quem os olhos conseguem viver na mesma paisagem durante anos, mas nunca estou nessa paisagem.

Tudo é demasiado complicado ou a gente complica mais ainda, como memorizar tanta coisa e por isso perdemos o interesse. Nunca o interesse de amar, mas amar é maneira de dizer, porque só se aprende amando, como disse Drummond.
 
Depois me acabo numa tristeza que me tira a vontade de seguir, até chego a sentir saudade de mim e não consigo chegar a sentir saudades. A saudade eu sinto quando vejo a pessoa.

Andei pelos meus 20 e poucos anos como quem caminha dentro de uma trilha noutras paisagens para além de mim. Quando cheguei aos 40, me sentia mais forte do que nos vinte anos.
Gostei mais dos meus 50 anos, do meu pulsar, do que alguma vez a poesia de Borges será capaz de gostar. “Os espelhos não são mais silenciosos, nem mais furtiva a aurora aventureira; você é, sob a lua, aquela pantera que nos é dado ver de longe”.

É assim. Quero um pensamento que me salve, com definições. Um lugar em cada janela. Não sei como uma pessoa consegue viver sem uma janela…

Eu antes memorizava poemas, canções, fazia shows só pra mim, mas nunca imitei ninguém. Não tem sei imitar, eu já sou uma imitação da vida.

Os meus pensamentos por esses dias e dias estão confusos e tristes, mas eu sei porquê.

Vejo alguém indo embora, deixando o movimento, um vento em centrifugação universal, das manhãs domingueiras de Tambaú, que ainda nenhum deus conseguiu desenhar o belo movimento dos barcos.

E tem os pássaros a me desejar ser atropelados por eles. Essa paisagem me mata.

Já me apaixonei por mais de 30 vezes, uma por cada ano de vida.

Mas eu detesto despedidas. Choro sozinho.

Ver o sofrimento tantos dias sem ver o sol na cara, sem luz, me estanca nas indefinições. O cara que tinha muitas razões sobre “A Idade da Razão” de Sartre (foto) está em silêncio.

O vazio e a dor que tento decifrar está nos meus olhos. Só isso.

Kapetadas
1 – Sempre haverá um travesseiro quieto para uma cabeça inquieta.
2 – É tão bom dormir. Aquela hora boa:  dormir sabendo que os pesadelos noturnos são menos assustadores que os diurnos.
3 – Som na caixa: “e o pintor de rua que anda só”, Bob Dylan em versão em português de Caetano Veloso e Péricles Cavalcanti.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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