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entrevista

Pintor paraibano Sergio Lucena expõe “Espelho” na Art Gallery

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publicado em 23/04/2021 às 16h24
atualizado em 23/04/2021 às 16h27

Kubitschek Pinheiro MaisPB

Fotos – Marcio Fischer

16 telas do artista paraibano Sergio Lucena, da safra de 2021, formam a exposição “Espelho” que será aberta na noite desta sexta-feira (23) na “Simões de Assis Art Gallery”. O artista estará presente. A galeria vai ficar aberta ao público com hora marcada, por conta da pandemia. A mostra ficará em cartaz até o dia 12 de junho.

As telas mostram os espelhos da memória das cores que se misturam entre os azuis, o vermelho em degradê, o vinho, o cinza, e cada tela tem um nome. Os curitibanos vão conhecer “Pintura alumiada de sol”, “O prazer é um lugar bom de se estar” “Certas distâncias de tão distantes são próximas” e “Pintura que guarda silêncios”, entre outras

Quem apresenta a obra é a psicanalista e crítica de arte Bianca Dias, que abre o texto citando um poema de Octávio Paz. “A sintaxe visual de Sergio Lucena revela o que ainda está por ser escrito através da cor. A exposição “Espelho” cria sua órbita ao redor do caleidoscópio de cores que se condensam numa espécie de espelhamento que é identificação e também diferença: uma maneira de esbarrar no epifânico e no inominável preservando o grão de mistério, como se o artista apanhasse as cores no abismo da representação, lá onde se abriga a memória fantástica do sertão, no lugar trêmulo de uma mitologia que constitui seu lugar de origem”, escreve ela.

O artista que está radicado em São Paulo há anos, conversou com o MaisPB e adiantou detalhes da exposição, falou sobre a espiritualidade, pandemia e avanços de obra

MaisPB – Você está em Curitiba para mais uma Mostra Nacional. Como aconteceu, ou você já tinha mostrado sua arte lá?

Sergio Lucena – Essa mostra inaugura minha nova representação no Brasil. A Simões De Assis tem uma importante história na cena cultural brasileira. O Valdir Simões iniciou sua galeria na década de 80, representando importantes nomes como o Cícero Dias, Reynaldo Fonseca, Abraham Palatnik, Alfredo Volpi entre outros. A galeria tem atuação nacional com sedes em Curitiba e São Paulo. Hoje, à frente do segmento de arte contemporânea, estão os filhos Laura e Guilherme Simões, que dão continuidade ao trabalho extraordinário do pai, construindo a história do futuro.

MaisPB – O nome é Espelho – e reflete na cara da gente, o artista com seus azuis e degradês, que nos levam para outros espelhos. Esses espelhos lhe acompanham a vida inteira, não é?

Sergio Lucena – Pintura é pensamento. É uma forma de reflexão que transcende a racionalidade incluindo outras dimensões da inteligência. Nesse sentido o que é refletido é o que somos além daquilo que pensamos ser. Sem dúvida essa relação de espelhamento com a pintura me acompanha desde de sempre.

MaisPB- Algumas telas passam a sensação de que flutuam. Essa é a intenção?

Sergio Lucena – Não há intenção alguma na minha pintura. Ao espectador é dado o direito de vivenciá-la nos seus próprios termos. A pintura é dele, não é minha.

MaisPB – Você chamou a psicanalista e crítica de arte Bianca Dias, para analisar essa Mostra, fazer a apresentação, que abre o texto com um verso de Octávio Paz – “O poema ainda sem rosto/O bosque ainda sem árvores/Os cantos ainda sem nome/Mas a luz irrompe com passos de leopardo/E a palavra se levanta ondula cai/E é uma extensa ferida e puro silêncio sem mácula Vamos falar sobre isso?

Sergio Lucena – A sensibilidade da Bianca Dias foi o que me atraiu desde o primeiro momento. Ela sabe ver e sabe o que vê. O texto dela é suficiente, não há nada que eu possa acrescentar que não seja redundante.

MaisPB – Como você tem conseguido trabalhar (já que vivia recluso há muito) numa São Paulo cheia de tudo, além desse vírus que nos assola?

Sergio Lucena – O trabalho é tudo para mim. Se não trabalhar não há porque estar nesse mundo.

MaisPB – Jamais seremos os mesmos. Você sente isso ou a arte lhe dá suporte para seguir a guerra biológica?

Sergio Lucena – Existem muitos suportes os quais, ao fim e ao cabo, convergem para uma única coisa fundamental: a dimensão espiritual. A arte está nesse contexto. Espiritualidade não é religião, é mais que isso, é o chão concreto sob nossos pés e o céu etéreo sobre nossas cabeças. Isso justifica viver.

MaisPB – Quando você virá a João Pessoa?

Sergio Lucena – Sempre que posso vou ver minha família e viajar pelo sertão. Estive em dezembro passado, espero voltar ainda esse ano.

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