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entrevista

Joyce Moreno lança livro e disco gravado na Noruega

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publicado em 16/01/2021 às 11h48
atualizado em 16/01/2021 às 08h50

Kubitschek Pinheiro – MaisPB
Fotos – Leo Aversa

A cantora, compositora e escritora Joyce Moreno acaba de lançar seu novo livro “Aquelas coisas todas”, que traz crônicas e memórias vividas pela artista de MPB, que estreou ainda no anos 60. A obra revisada e ampliada – do primeiro livro da autora, “Fotografei você na minha Rolleiflex”, lançado em 1997, acrescenta mais histórias, perfis de colegas e outras nuances.

Ex-estagiária do “Caderno B” do Jornal do Brasil, Joyce escolheu a música, mas não abandonou a escrita. Seu novo livro expõe o universo da música popular brasileira no século 20 e como ela extrapolou fronteiras para se perpetuar no século 21.

No baú da compositora, há cenas fantásticas sobre os artistas com quem ela conviveu, a exemplo de Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Elis Regina, João Gilberto, Torquato Neto, Gonzaguinha e tantos outros.


Joyce Moreno estreou na música em 1968, com o disco Joyce. Desde então produziu mais de 40 discos e DVDs, compôs cerca de 400 músicas e foi quatro vezes indicada ao Grammy Latino. Suas composições foram gravadas por Elis Regina, Milton Nascimento, Gal Costa, Maria Betânia e Edu Lobo, entre outros artistas.

Lançado recentemente pela Editora Numa, “Aquelas Coisas Todas” é, na verdade, um bom livro para ser lido sempre.
Além da obra, chega às plataformas digitais o álbum “Fiz uma Viagem”, totalmente dedicado às composições de Dorival Caymmi, que Joyce gravou na Noruega. Lançado em 2017, no Japão, o disco ganhou, em novembro, uma versão nacional pelo Selo Pau Brasil.

Em entrevista ao MaisPB, Joyce fala do livro, das novas descobertas, de artistas envolvidos com a obra, como Vinicius de Moraes, Tom Jobim e revela seu ultimo encontro com Moares Moreira que lhe passou uma letra, “Aquele abraço do Gil”, lançado esta semana pelo filho David Moraes. Joyce canta com ele, a sua parceria com Moares. A artista fala sobre a pandemia e o Brasil.

Como o subtítulo em inglês, “Fiz uma viagem” Songs of Dorival Caymmi tem uma capa moderna e reapresenta o cancioneiro do compositor baiano de Dorival Caymmi (1914/2008) na voz e no violão da cantora, compositora e instrumentista carioca.

O disco foi gravado em dezembro de 2016 no Rainbow Studio, em Oslo, Noruega, com produção do baixista Rodolfo Stroeter. Nesse disco Joyve “viaja” está com o quarteto, ela no violão, Stroeter no baixo, Hélio Alves ao piano e Tutty Moreno, seu marido, na bateria e percussão.

MaisPB – “Aquelas Coisas Todas”, nasceu na pandemia?
Joyce Moreno – Na verdade, começa a nascer já tem dois anos, num formato um pouco diferente. Com a pandemia, a editora que tinha me proposto o livro se retraiu e surgiu a Numa Editora, com quem estou adorando trabalhar.

MaisPB – Esse novo livro nos remete para”Fotografei Você n Minha Rolleiflex”, lançado na década de 90?
Joyce Moreno – A primeira parte do livro (são duas) é justamente o remix do livro de 1997. A segunda parte é de textos inéditos.

MaisPB – Eu lembro que você tinha um blog e ainda deve ter e alimentá-lo. Vem dai todo essa material?
Joyce Moreno – Fiz o blog entre 2006 e 2016, depois parei por falta de tempo. Alguns textos do blog estão no livro, mas a maioria, não.

MaisPB – No prefácio do primeiro livro, Nelson Motta lembra que o conteúdo é um apanhado de signos, pessoas alegres, gente bacana e séria “florescendo em um tempo de guerra”. Vamos falar sobre isso?
Joyce Moreno – O primeiro livro fala muito sobre essa juventude “muito alegre e muito seria, florescendo em um tempo de guerra”, é a juventude dessa nossa geração que meio de certa forma inventou o que se chamou de MPB, a geração pós-bossa-nova

MaisPB – Como foi o seu tempo de estagiária no JB, que morreu, depois ressuscitou e agora só existe online?
Joyce Moreno – A estagiária tinha 19 anos e deixou o jornal ao assinar o primeiro contrato com uma gravadora. Mas foi uma grande experiência!

MaisPB – Lá no Jornal do Brasil, você já enveredou pelo lado da música?
Joyce Moreno – Eu já estava ligada na música desde pequena. O jornalismo era um plano B, um projeto paralelo.

MaisPB – Seu novo livro mostra a amplidão do universo da música popular brasileira no século XX. Vamos falar sobre isso?
Joyce Moreno – Se for falar sobre isso, não terminaremos a entrevista… Pra mim o principal foi ter tido essa vivência próxima de tantos geniais amigos. E ver tudo acontecendo tão de perto.

MaisPB – Você é uma grande artista, desde os festivais, até a produção de vários discos, inclusive alguns gravados no Japão. Poderia nos contar sobre esse avanço?
Joyce Moreno – O livro relata, na 2ª parte, como tudo isso se deu e como foi essa transição entre a época dos festivais e a carreira internacional, quando passei a ser uma artista independente. Como um acontecimento que poderia ter destruído minha carreira, na verdade a fortaleceu.

MaisPB – Bom, pelo visto o novo livro não é uma reedição atualizada, é sim a segunda parte de suas sentimentalidades, sua vida com a música, palcos, aquelas e outras coisas todas, né?
Joyce Moreno – Aquelas coisas, tantas…

MaisPB – Você conviveu com Vinicius de Moraes, Jobim, Elis, João Gilberto, Torquato Neto e Gonzaguinha, todos já se foram. Vamos falar da importância e da obra desses artistas, seu envolvimento com eles?
Joyce Moreno – São pessoas que fazem parte da construção da identidade brasileira, pois o que faz uma nação é a sua cultura. Partiram fisicamente, mas estão presentes a cada vez que citamos uma frase de alguma canção sua numa conversa, uma linha melódica, uma resposta.

MaisPB – O livro tem fotos incríveis, são todas do seu arquivo?
Joyce Moreno – Na maioria, sim. Muitas dessas fotos foram feitas por Lizzie Bravo, (única brasileira que gravou uma música com os Beatles em 1968) que tem um arquivo incrível dos anos 1980. Outras são de arquivo pessoal mesmo.

MaisPB – Os primeiros registros de seu trabalho como cantora datam de 1964, quando participou de gravação em estúdio do disco Sambacana. Vamos relembrar?
Joyce Moreno – Eu tinha 15 anos quando Roberto Menescal, que era amigo do meu irmão mais velho, ouviu minha voz numa gravação caseira e me chamou para integrar um quarteto vocal que ele estava formando para esse disco. Foi minha primeira experiência num estúdio, foi ótimo, embora eu só fosse gravar um álbum meu em 1968.

MaisPB – Vamos falar do clássico “Feminina”, acho que tem mais de quarenta anos, né?
Joyce Moreno – Sim, completou 40 anos em 2020. Ainda é meu álbum mais emblemático, pois foi o primeiro em que tive o controle de tudo e pude fazer minha música exatamente como eu queria. Daí para a frente, não parei mais.

MaisPB – Nos anos 80, Joyce começou a retomar sua presença no circuito internacional, uma marca de sua carreira nos anos 70, quando, substituindo o músico Toquinho, apresentou-se com o poeta Vinicius de Moraes em turnês pela América Latina e Europa. Você de fatos, de coisas dessa turnê – coisas curiosas?
Joyce Moreno – Vinicius era um grande amigo, pessoa divertida e generosa, no livro cito muitos casos que vivi ao lado dele. Uma honra ter sido amiga tão próxima dessa figura maravilhosa!

MaisPB – O que Joyce está fazendo nessa pandemia?
Joyce Moreno – Compondo, cozinhando, escrevendo, dando aulas e… lançando um livro.

MaisPB – Teremos um disco novo depois que tudo isso passar?
Joyce Moreno – Provavelmente, se bem que acaba de entrar nas plataformas digitais meu álbum “Fiz Uma Viagem – canções de Dorival Caymmi”, que saiu em 2017 apenas no Japão. Então é um álbum inédito pro Brasil. Mas como tenho composto muito, um futuro disco de inéditas está nos planos.

MaisPB – É lindo o CD “Fiz uma Viagem”. Acho que só Gal Costa, Nana Caymmi e Jussara Silveira fizerem isso a obra de Caymmi e agora na sua voz. Vamos falar mais um pouco desse disco?
Joyce Moreno – Acho a obra do Caymmi eterna, atemporal. Era moderna quando ele foi lançado por Carmen Miranda nos anos 1930, quando construiu as canções praieiras e os sambas-canção nos anos 40 e 50, quando foi gravado por João Gilberto nos anos 60, por Gal nos 80, enfim, é fonte que não seca. Quando gravei em 2016, em Oslo, o quarteto formado por Tutty Moreno, Rodolfo Stroeter, André Mehmari e Nailor Proveta estava gravando o álbum “Dorival”, a obra de Caymmi em versão instrumental. O Rodolfo, que era o produtor, me convidou para gravar lá nas datas subsequentes. Resolvi gravar Caymmi também, adoro, é a trilha sonora da minha infância.

MaisPB – A propósito entrevistamos Davi Moraes que está laçando EP em homenagem ao pai em que você colocou melodia na letra “Aquele abraço do Gil”, e contou que vocês se se encontraram numa pedaria e ele lhe deu a letra e agora saiu – o samba é lindo. Vamos falar sobre esse momento – com e sem Moraes?
Joyce Moreno – Eu e Moraes éramos amigos há muitos anos, já havíamos gravado juntos, mas nunca tínhamos composto nada em parceria. Foi um encontro casual, na Gávea, ele me propôs a parceria e no mesmo dia me enviou por e-mail essa letra, que adorei e musiquei no ato. Eu pretendia gravar com ele no próximo projeto autoral, mas surgiu o convite do Davi e gravamos. Só fico com pena de não termos feito mais músicas juntos.

MaisPB – E as lives?
Joyce Moreno – Fiz algumas, logo no início da quarentena. Depois fiquei muito envolvida com o livro, e parei de fazer. Também achei que era o momento de dar um tempo. Mas volto em janeiro com surpresas.

MaisPB – Como você está vendo o Brasil nessa pandemia?
Joyce Moreno – Estou vendo como o mundo hoje nos vê: com pena.

MaisPB – Quem é Joyce Moreno?
Joyce Moreno – Uma brasileira compositora, mulher, mãe, avó.

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