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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Gradações da loucura

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publicado em 08/01/2021 às 06h34

Há o direito de ser doido? Há, talvez se envereda pelas trilhas da loucura seja uma necessidade, um dever, principalmente em um mundo cada dia mais complexo, igualmente insano, uma fuga.

Tudo bem que você, por uma das desditas da vida, por excesso ou por carência de algo, ou pela interpretação distorcida do mundo, por um fator biológico ou psíquico qualquer, perca, em deplorável falta de controle, o contato com a realidade. Se não houve tempo ou meios de prevenção, é preciso buscar a cura pelos meios adequados que a Ciência lhe fornece, quando a doença se instala.

Não falo desses desafortunados da saúde. A esses, devemos o respeito, o apoio, incentivá-los, conduzi-los em direção a um tratamento sério, humano e, no que diz respeito às políticas públicas, exigir dos poderes responsáveis atuação decisiva, ética, comprometida com a dignidade da pessoa humana.

Também não falo daquelas pessoas que têm, dentro de si, a vivacidade das crianças, sem ressentimentos e preconceitos, que têm graça no agir, na contemplação da vida, que se desarmam de certas “racionalidadezinhas” pequeno-burguesas e conformistas. São essas pessoas que dançam na chuva, que criam os melhores bens culturais, que ensinam o valor da simplicidade das coisas, que fazem a diferença, que enfrentam regimes opressores e que riem. Como riem essas pessoas! A essas pessoas, poetas da vida e da irreverência, fermento da bondade e sal da terra, as minhas considerações de apreço.

Mas, se a sua loucura se alia a certa ideologia reacionária, e, em nome dela, você nega a Ciência, aí é outra coisa.

Mas, se a sua a sua loucura, em nome da sua religião, apregoa que o vírus da Covid é comunista, aí é outra coisa.

Mas, se a sua loucura, em nome de algum projeto político (seu ou de alguém) acha que a vacina chinesa tem um chip que fará com que você se transforme em algum ruminante do reino do gado doméstico (Bos taurus foto), aí é outra coisa.

Mas, se a sua loucura, em nome de sua teimosia e maledicência, acha que a Covid é apenas uma gripezinha fabricada pelos esquerdopatas facilmente curável com cloroquina, aí já é outra coisa.

Mas, se sua loucura, em nome de certo ódio introjetado em você por fake news, acha que é preciso destruir todos os poderes, para concentrá-lo nas mãos de algum ditador, aí já é outra coisa.

Mas, se a sua loucura, em nome dos seus pecados reprimidos, acha que toda arte que não se enquadre nos seus conceitos de arte sacra, clássica e pura, deve ser atirada no fogo do inferno, aí já e outra coisa.

Mas, se a sua loucura acha que o sistema de proteção dos direitos humanos está a favor dos bandidos, aí, além do analfabetismo funcional, já é outra coisa.

Mas, se você, consciente ou inconscientemente, tem uma propulsão pela morte, de preferência, do teu inimigo, aí é outra coisa.

Se essas qualificações derradeiras te fazem servir as carapuças como mão e luva, aí o seu problema não é loucura. Tem outro nome e não lhe é nada favorável. Cuide-se e leia!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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