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Antônio Colaço Martins Filho é chanceler do Centro Universitário Fametro – UNIFAMETRO (CE). Diretor Executivo de Ensino do Centro Universitário UNIESP (PB). Doutor em Ciências Jurídicas Gerais pela Universidade do Minho – UMINHO (Portugal), Mestre em Ciências Jurídico-Filosóficas pela Faculdade de Direito da Universidade do Porto (Portugal), Graduado em Direito pela Universidade Federal do Ceará. Autor das obras: “Da Comissão Nacional da Verdade: incidências epistemiológicas”; “Direitos Sociais: uma década de justiciabilidade no STF”. E-mail: [email protected]

Dostoiévski e educação continuada

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publicado em 09/11/2020 às 06h24

O excêntrico Smierdiákov (personagem de “Os Irmãos Karamazov”), após uma infância humilde e sombria, alcançou a mocidade.
Havendo o jovem demonstrado curiosidade pelos títulos dos livros da biblioteca da casa, Fyodor Pávlovitch Karamazov (presumidamente, o seu pai) o nomeou bibliotecário do seu acervo pessoal. Ocorre que a falta de interesse do jovem pela literatura só era comparável à sua aversão às obras históricas, o que despertou a ira do bilioso Fyodor, que o destituiu do cargo.

Finda a brevíssima carreira de bibliotecário, seus pais adotivos (empregados de Fyodor) observaram que o obscuro adolescente adquiriu o hábito de escrutinar amiúde os alimentos, cotejando-os contra a luz antes de ingeri-los. O pomposo ritual, digno de um senhor e absolutamente inapropriado para um filho adotivo de criados, causava espécie nos seus humildes pais adotivos, que compartilharam seu espanto com o patrão Fyodor.
Este não demorou a concluir que o rapaz tinha um insofismável talento culinário. Fyodor, então, enviou-o prontamente a Moscou, onde o jovem foi talhado na arte da cozinha e se tornou um cozinheiro digno de nota, ocupação que exerceu pelo resto da curta vida.

Muitos jovens, ainda em tenra idade, são instados a escolher a formação que lhes dará acesso às respectivas profissões. Contudo, ao contrário do que veio a ocorrer no folhetim de Dostoiévski , os especialistas no futuro do trabalho apontam que será cada vez mais usual o exercício concomitante de várias profissões (foto), bem como a troca de profissões ao longo da vida. Essa situação já é realidade para aqueles que atuam na economia criativa de grandes centros urbanos e compõem a denominada geração slash (“barra” em inglês), que se caracteriza pelo acúmulo de ocupações, por exemplo: programador/designer/DJ.

Mesmo nos casos em que o profissional se mantenha no mesmo emprego, o mais recente Relatório do Fórum Econômico Mundial prevê que, até 2025, 50% dos trabalhadores que permanecerão em suas posições precisarão de requalificação.
Nesse contexto, é fundamental que as Instituições de Educação Superior abracem a educação ao longo da vida com a mesma energia que aplicam aos ingressantes de seus cursos de graduação, notadamente, àqueles que provêm do ensino médio.

Algumas alterações se fazem necessárias para alcançarmos a mudança acima referida. A um, não nos parece razoável pensar que alguém que já esteja no mercado de trabalho deva se submeter a um rigoroso processo seletivo, já que seu interesse tende a ser mais pontual e específico do que aqueles que ainda não ingressaram na vida profissional. Da mesma forma, não vislumbramos, no espectro da educação continuada, a necessidade profissional de cursar todas as unidades curriculares de um curso superior de graduação ou pós-graduação. Também não soa conveniente cursar uma disciplina durante todo um semestre para fins de complementação de conhecimentos.

Faz-se imperativo, nesse passo, retirar as barreiras de ingresso dos profissionais em busca de qualificação e mudança ou acúmulo de carreiras às Instituições de Educação Superior. Também se faz conveniente cultivar currículos mais flexíveis, unidades curriculares de menor duração e adotar a modalidade a distância quando for metodologicamente adequado e conveniente para a frequência dos profissionais da geração slash.

Em suma, a demanda socioeconômica por (re)qualificação profissional continuada impele as universidades a adaptar processos, currículos, metodologias e cultura organizacional, sob pena de perda gradual de relevância e credibilidade social do sistema formal de ensino superior.

O texto dedicado ao Coordenador do Curso de Gastronomia da Unifametro, Professor Fábio de Lucca e ao corpo docente do curso.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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