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Jornalista. Ex-repórter do Portal MaisPB e de outros sites de João Pessoa-PB. Pessoense residente em São Paulo. Observadora da vida, gosta de contar histórias em primeira pessoa. Contato: [email protected]

Pertencemos à mesma árvore?

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publicado em 08/09/2020 às 14h16
atualizado em 08/09/2020 às 12h43

Você abre um livro e já nas primeiras páginas se vê tomado de entusiasmo pelas palavras do autor. Não precisa de muitas linhas para você estar envolvido e absorto na mensagem que elas passam. Você entende e ama cada parágrafo. Aquele texto conversa com você e reverbera na sua vida. As palavras ali escritas têm força e o atingem.

Você entra em uma rede social e na linha do tempo aparece aquela pessoa que você gosta do trabalho, pode ser um influenciador, um coach, uma mãe que divide o papel da maternidade na internet ou simplesmente um amigo que adora escrever. Na postagem, o que é dito parece ser dirigido especificamente a você e, sem ao menos perceber, seu ato é consumi-la com vigor, aceitá-la como verdade e quem sabe se beneficiar do texto compartilhado.

Eu tenho certeza que em algum momento um dos dois exemplos acima, ou os dois, já aconteceu com você. Houve imediata identificação entre o interlocutor e o receptor, chegando a comunicação clara, sem ruídos, e indo além das palavras, atravessando os livros e as telas, invadido e tocando você.

Existem muitos motivos que levam a essa equação de resultado perfeito, no entanto, a que tenho me apoderado no momento é a de que cada ser pertence a uma árvore. E se você tem seus romancistas, cronistas, poetas preferidos, por exemplo, é porque vocês são sustentados pelo mesmo caule.

A teoria não é minha, eu a li no livro Como se Encontrar na Escrita: O Caminho para despertar a Escrita Afetuosa em Você, da jornalista Ana Holanda, a quem eu ouso dizer que divido o mesmo galho de alguma formosa árvore, pois esse livro me pegou em cheio e conversou comigo do começo ao fim.

A tese relatada no livro é do escritor João Anzanello Carrascoza. Em entrevista a Ana – que chamo com intimidade porque é assim que me sinto em relação a ela, mesmo que nunca a tenha encontrado pessoalmente – o autor descreve bem o pertencimento à mesma árvore.

“Se você lê um autor e ele te toca é porque você entra em comunhão com aquele tipo de literatura. Existem outros autores e outros leitores que não entrarão por essa trilha. De certa forma, você está filiado àquele jeito de sentir. É como se você fosse daquela árvore. Isso é uma rede de afetos ou uma família literária da qual fazem parte escritores e leitores”, explica.

Ele reforça que “várias pessoas podem ler o mesmo fato, sentir de maneiras diversas e relatar de modos diferentes”. Se não te toca, não mexe dentro de você, talvez, suas árvores sejam diferentes, pelo menos naquele instante.

É poético, é metafórico e é assim que me identifico. Provavelmente, também devo estar ramificada na mesma árvore do Carrascoza, ou ao menos residimos no mesmo bosque.

O escritor se limita a tratar sobre a afinidade na escrita, no texto; do leitor com o autor. Eu vou além da literatura, e questiono-me a qual árvore faço parte na música, na religião, na política, na amizade e no amor. Mais do que procurar conhecer meu lugar ao sol ou à chuva, ou até mesmo a um terreno estéril, pergunto-me quem mora comigo dividindo os mesmos ramos, compartilhando das mesmas folhas e flores e, talvez, gerando frutos?

Ao longo das semanas que venho aparecendo por aqui entregando um conteúdo às escuras a você leitor, que pode ser tanto minha mãe, como um amigo querido ou um completo desconhecido, eu busco em meus pensamentos saber se de alguma forma nos conectamos e se minhas palavras reverberam em você, mesmo que silenciosamente.

Imagino quantos dos que passaram por aqui – um número que me impressiona positivamente – fazem parte do mesmo jardim. E indago a você que chegou até essa linha final: pertencemos à mesma árvore?

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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