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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Um recado de Chaplin

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publicado em 18/07/2020 às 07h00
atualizado em 18/07/2020 às 07h01

Em tempos modernos… Aliás, há muito tempo não pensava em Chaplin, que disse que em política, ele era um anarquista. “Odeio governos, normas e grilhetas. Não aceito animais enjaulados. As pessoas devem ser livre”.

A citação vem do filme “Um Rei em Nova Iorque”, realizado em 1957 por Charlie Chaplin, e que constitui um sátira corrosiva ao sistema político norte-americano, bem assim como aos valores e à moral dominante nos Estados Unidos da América. A criança protagonista é o próprio filho de Charlie Chaplin. Essa semana o presidente Trump fez propaganda de produtos comestíveis. E daí?

Isso de Chaplin dizer que não aceitava animais enjaulados – as pessoas devem ser livres, me lembrou Machado de Assis, meu pai, meu irmão e meu vizinho. Machado pelo conto “Ideias de Canário”, que ganha sua liberdade e ainda tem tempo de tirar onda da cara do velho Macedo, que o aprisionava numa espécie de puxadinho chique. Adoro canários falantes. E adoro lagartixas. Acho lindo elas balançado a cabeça.

Meu pai adorava cachorros. Minha mãe detestava cachorros. Ele criava uma cadela de rua, no muro do Clube da nossa cidade Jatobá (as chaves do clube ficavam penduradas no armador da cozinha de nossa casa). Lá, onde a cachorra vivia, ele tinha um tanque de areia, onde criava pebas para a família comer em dias de aniversários. Ele adorava peba. “Tem gosto de galinha, né meu filho? provocava Seu Vicente.

Meu irmão WP, em determinada época da vida inventou de criar pássaros. Tinha uma gaiola na varanda, outra no espaço da piscina, outras não sei onde. Dizia que ficava em êxtase quando ouvia os pássaros cantando de manhã cedo. Eu achava abominável aquela cena. Um dia abri uma gaiola e deixei que um Galo de Campina fosse embora. Ele descobriu e ficou por um bom tempo sem falar comigo. Imagine eu com as ideias do canário de Machado e tivesse soltado os seus pintassilgos?

Para dizer basta!, basta que alguém venha com conversa fiada pra mim. Não podemos dar tréguas a pessoas que participam de grupos que promovem rinha de galos, gente que cria cobras dentro de casa. Uma pessoa que tem uma cobra dentro de casa, só pode ser uma cobra. Mas não é sobre os animais que eu queria escrever hoje. São tantos…

Ouço falar, apressadamente, de uma literatura da liberdade e parece ter sido anunciada por um sujeito inteligente, que tornará a repetir. Ora, a liberdade é uma conquista, Sr. K. Por exemplo, em tempos de pandemia, por prevenção, digo precaução, tenho ficado em casa, lido muito, trabalhado diuturnamente e produzido textos. Eu falei prevenção porque me veio na cabeça novamente a frase de Pondé: “Do coronavírus, ninguém sabe nada”. E a liberdade?

Já agora, por “necessidade”, falam que vão rolar os dados, números de cadáveres, como se isto não desse continuidade à vida. É que uma mudança geral de comportamentos, de baixo para cima e de cima para baixo, é indispensável como garantia de alguma coisa. Eu fico triste quando escuto dizer que mais uma pessoa não venceu a Covid. Isto parece-me indiscutível? Sim, mas não é sobre isso que eu quero escrever.

Eu não como a personagem Macedo de Machado, que tinha estudos de Ornitologia, mas quero lembrar de Chaplin que continua a iluminar meu olho nu, não apenas o instante desconhecido, o transitório, mas ser feliz agora.

Se pelo menos os cidadãos continuassem ajudando uns aos outros, como beijamos os nossos.

Um poema, algo retratado, uma performance, uma cantoria, abrindo outras janelas no caminho da liberdade.

Querem se libertar? Ajude quem está de passagem, igual a você, a mim, a ninguém.

Obrigado, Chaplin!

Kapetadas

1 – Isso me lembra muito uns cara que não tem cultura. Isso o quê?
2 – Basicamente se você tem um trabalho, ganha um salário, consome e não diz besteiras você é um indivíduo civilizado. Eu acho.
3 – Som na caixa: “Tu não faz como um passarinho, que fez um ninho e avoou, mas eu fiquei sozinho, sem teu carinho, sem teu amor”

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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