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Eleita vereadora mais jovem do País teve pai assassinado

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publicado em 25/11/2016 às 12h55
atualizado em 25/11/2016 às 12h02

A série de reportagens apresentando fenômenos eleitorais nas eleições municipais deste ano na região Nordeste realizada pelo blog do Magno Martins, de Pernambuco, em parceria com o Portal MaisPB, mostra, nesta sexta-feira (25), Pamela Gomes, 19 anos, eleita pelo PR do município de Pedro Alexandre, no sertão baiano, a vereadora mais jovem do País.

O detalhe é que Pamela perdeu o pai, ex-prefeito do município, morto no centro da cidade em circunstâncias não elucidadas ainda pela polícia baiana. O brutal crime comoveu a cidade, que nas urnas, elegeu não apenas Pamela, mas seu tio prefeito e sua mãe vice-prefeita.

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Crime devolve poder aos Gomes na Bahia

PEDRO ALEXANDRE (BA) – O sangue que jorrou nas ruas de Pedro Alexandre, no Nordeste baiano, a 355 km de Salvador, com o assassinato do ex-prefeito Petrônio Gomes (PL), a dois dias da convenção, devolveu o poder à família da vítima, que governou o município por dois mandatos. Enfrentando dois adversários poderosos, o irmão Pedro Gomes (SD) ganhou a eleição. A viúva Cica Gomes (PR), que iria ser a candidata, traumatizada com a morte do marido, entrou na chapa como vice e ainda elegeu a filha Pâmela Gomes (PR), de apenas 19 anos, vereadora.

Embora atuando politicamente na Bahia, a família Gomes tem raízes em Serra Talhada, a 400 km do Recife. O ex-prefeito tombou morto às 6h40m no sábado 30 de julho, quando fazia contatos com eleitores no mercado da cidade. Alvejado por dois tiros disparados por dois homens que desceram numa moto, Petrônio era irmão do vereador Pessival Gomes, ligado ao grupo político do prefeito de Serra Talhada, Luciano Duque (PT). Passado quatro meses, o crime continua um mistério, mas a família não tem dúvidas de que foi político.

Petrônio vinha de um longo desentendimento com o prefeito Salorilton de Oliveira (PP), mais conhecido por Salon, de quem já foi aliado político quando governou o município. Em 2014, chegou a ser preso em cumprimento a um mandado de prisão expedido pelo juiz Antônio Henrique da Silva, da Vara Crime de Jeremoabo, na Bahia, e condenado a cinco anos e seis meses de prisão pelo crime de extorsão. “O crime tem todas as características de que foi politico”, diz Paulo Gomes, irmão da vítima.

A comoção na cidade, de apenas 20 mil habitantes, fez o prefeito Salon ficar longe do poder a partir de janeiro. Seu candidato, Anísio Sales, que disputou por uma coligação encabeçada pelo PCdoB, perdeu por uma diferença de 254 votos. Para o candidato da terceira via, Yuri Andrade, do PP, o prefeito eleito abriu uma frente de 372 votos. O pleito foi extremamente disputado e realizado sob o império da violência.

Escolhido no lugar da viúva, que estava sendo preparada pela vítima, Pedro fez apenas 20 dias de campanha. Temendo ser morto, gastou muito mais com segurança do que com as despesas convencionais de uma eleição. Incrivelmente, não realizou um só comício, não fez uma única carreata nem tampouco arrastão. “Preferi o porta a porta”, diz ele, que está afastado do município desde o dia da eleição.

Aliás, a família inteira está fora do município. “No dia da eleição, deixamos a cidade sem esperar o resultado. Não houve nenhum tipo de comemoração”, revela a viúva Cica Gomes, agora vice-prefeta eleita. Para ela, a vitória do grupo foi uma resposta da população nas urnas ao que ocorreu com o seu marido. “Petrônio era o pai dos pobres e até hoje a cidade chora a sua morte”, afirmou. Ela e a filha Pâmela, vereadora eleita, só desejam voltar ao município para a diplomação, em 13 de dezembro.

Encravada na Serra Negra, uma pequena cordilheira que atravessa a fronteira dos Estados de Sergipe e Bahia, com 750 metros de altura, Pedro Alexandre tinha tudo para ser uma cidade pacata e feliz, como todas do semiárido nordestino, mas as brigas políticas mudaram o seu semblante. Já quando tomou posse em 2013, derrotando o grupo do ex-prefeito Petrônio Gomes, o prefeito Salon Oliveira foi a uma emissora de rádio em Jeremoabo, cidade vizinha, e grande parte da sua entrevista, ainda disponível na internet, dedicou à questão da violência.

“Fui eleito pela vontade do povo. A partir de 1 de janeiro de 2013, Pedro Alexandre não vai ter três prefeitos, mas um prefeito, que vai devolver à paz, à segurança a sua população. Vou construir o reinado da paz, o império do medo está com seus dias contados”, prometeu. Na época, Salon disse que o município era um território sem lei, onde tudo era possível fazer, atribuindo o desajuste ao grupo liderado por Petrônio.

A família do ex-prefeito assassinado, entretanto, diz o contrário. Afirma que a desordem reina no município, hoje. “Pedro Alexandre vivia em paz até a eleição do atual prefeito. Aqui, nada funciona, o poder de mando do prefeito está acima de tudo. Quem prometeu acabar com o império do medo espalhou medo e terror”, acusa Paulo, irmão de Petrônio, que mora em Itabaiana (SE).

Segundo Paulo, Petrônio era um político com profunda identidade com o povo pobre da sua cidade. “Quando prefeito e até antes de morrer, ele atendia 2,5 mil famílias com um sopão, distribuía cesta básica e mandava até matar um boi por semana para matar a fome do povo”, disse, acrescentando que, em sua gestão, ainda construiu 32 barragens e tinha 28 tratores fazendo benfeitorias nas áreas rurais.

MaisPB 

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