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Ex-jogadora da seleção virou motorista do BRT

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publicado em 08/05/2015 às 09h52

A vida de Elane dos Santos, de 48 anos, mudou de universo a partir de 2007. Em vez de chuteiras e calção, entraram em jogo o sapato fechado e a calça social. No lugar de bola, a capa do volante. Toalha só para cobrir o banco do motorista: ex-capitã da seleção brasileira de futebol, a moradora de Inhoaíba agora comanda um ônibus do BRT.

Naquele ano, Elane completava dois anos como aposentada de uma vencedora carreira como jogadora de futebol, que durou duas décadas. No currículo, estão as passagens pela seleção brasileira — entre 1988 e 2000 — e por por times como São Paulo, Corinthians e Santos. O ponto alto foi o honroso quarto lugar nas Olimpíadas de Atlanta (1996), nos Estados Unidos. Zagueira com cara de mau, como ela mesmo define seu estilo dentro das quatro linhas, continua botando moral dentro dos coletivos.

— Não tem bagunça no meu ônibus. Às vezes, adolescentes criam um pequeno estresse, mas resolvo logo — conta Elane, que pilota na linha BRT Transoeste entre Santa Cruz e Campo Grade.

O time de rodoviários aprova o reforço no volante do BRT. O motorista Charleston Silva, de 44 anos, é só elogios à moça. Ele conta que Elane tem até fãs no trajeto.

Em 1999, o Brasil de Elane ficou em 3º no mundial jogado nos EUA

Em 1999, o Brasil de Elane ficou em 3º no mundial jogado nos EUA Foto: Paulo Nicolella

Imagem de Elane quando ainda jogava pela seleção

Imagem de Elane quando ainda jogava pela seleção Foto: Paulo Nicolella / O Globo

— Uma menina de Sepetiba faz questão de dizer para todo mundo que aquela é a ex-jogadora. É fãzona mesmo — entrega o amigo.

Elane fez parte da primeira geração de destaque da seleção brasileira de futebol feminino. O time tinha nomes como Pretinha, Sissi, Roseli e outras, que se reúnem mensalmente para bater bola e papo. Nesses encontros, as histórias mais lembradas são os confrontos épicos contras as americanas, que formavam a então melhor seleção do mundo na modalidade. Elane conta que tinha uma arqui-inimiga em campo: a atacante Mia Hamm.

— No mundial de 1999, o juiz marcou um pênalti polêmico meu sobre a Mia. Ela levantou rindo e as 90 mil pessoas no estádio me vaiaram. Mas não foi pênalti — lembra Elane, que acabou perdendo o jogo por aquele golzinho (1 a 0) e viu o Brasil ser eliminada da competição, ficando com o terceiro lugar depois.

‘Parava Messi’, diz ex-zagueira

Como boa apaixonada pelo esporte bretão, Elane não perdeu o confronto entre Barcelona e Bayern de Munique, em que os espanhóis venceram por 3 a 0, anteontem. Na partida, o argentino Lionel Messi entortou o zagueiro alemão Boateng, do Bayern de Munique, com um drible que deixou o defensor caído de bunda no chão.

— O Messi é o melhor jogador de todos os tempos, mas não me daria aquele drible, não! — disse a zagueira, com a cara de mau que encarava as atacantes adversárias.

A jogadora mostra habilidade
A jogadora mostra habilidade Foto: Paulo Nicolella / O Globo

Messi não seria a primeira pessoa a levar o título de melhor jogador do mundo que Elane pararia. Em 2001, ela estava jogando no Barra de Teresópolis e encarou o Vasco na final do campeonato Carioca. Do outro lado estava uma mocinha de 17 anos que já despontava como estrela: era Marta que seria, anos mais tarde, eleita a melhor jogadora do mundo por cinco vezes pela Fifa.

— Essa foi a única vez que nos enfrentamos. Ela já mostrava que seria o que se tornou — lembra Elane.

Consciente de que fez muito para o futebol feminino brasileiro, trocou de lado e agora torce, mas não deixa de puxar a brasa para sardinha da geração que liderou:

— O Brasil de hoje é muito bom, mas a minha seleção venceria. Éramos excelentes!
G1

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