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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Adorador do sol

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publicado em 22/06/2025 ás 07h00
atualizado em 21/06/2025 ás 19h00

Eu teria muitos anos nos dezanove ou vinte anos e queria muito escrever em jornais, mais até do que publicar livros, já que os livros fizeram residência na memória. Talvez porque escrever livro é coisa seria, muito seria – um romance, um conto, é bem diferente da crônica, algo mais denso, mais cinema, mais espaço geográfico. Esquece. Aliás, (perdoe este momento de soberba que pagarei em rigorosos planos prestacionais aos balcões da Eternidade)

Imagina aí os pilares da eternidade que na verdade, devemos reservar o melhor do que sabemos, do que somos, para mostrar aos deuses nas horas finais.

F. Quevedo (foto) (poeta e escritor espanhol do Século de Ouro). diz em Os Sonhos, que o começo é tropeçado e suspirando, mas me parece que o começo não existe, talvez o meio, pois somos marcados, gozos do engendramento de dois astros, somos luzes, quando somos fetos e afetos. Benção mãe, benção pai.
Já a escrever eu nasci ensinado. Meu pai me ensinou a ler e foi o professor,  régua e compasso, mas quem sabe de mim, sou eu. Digníssimo seu Vicente de moreníssimas  cãs e alvíssimo olhar azul (como um anjo de alguma idade).

Mas não é do meu pai que estou querendo falar, embora ele seja recorrente em tudo que faço, do delírio que vem dele, da minha voz de quem tive o privilégio de ser o último filho e entrar numas.

Jamais esqueça que saber escrever é um privilégio – das primeiras letras no Grupo Duque de Caxias, até hoje sou um estrangeiro, não consigo ser só ser,  pois sendo humilde, quero dizer, já posso me sentir personagem.

Mas como é raso o meu talento, para escrever e ilustrar as páginas das canções mineiras, coisas  que só Milton Nascimento fez “Todos os sentimentos me tocam a alma, Alegria ou tristeza”. Se eu soubesse tocar um instrumento, jamais seria jornalista e certamente por isso nunca vou saber escrever livros. Sou um adorador do sol, do sol na moleira

Mas tergiverso, perdoem. Dizia eu que teria uns dezanove ou vinte anos e bem antes a necessidade de trocar o sertão pelo mar, homem magro sem medalhão no pescoço, e cabelo ao vento. O convite era para um encontro e o encontro foi um pulo, como se eu fosse um trapezista e minha paixão era o trapézio.

Eu não falhei porque oportunidades assim não as havia todos os dias. Eu não tinha mala, duas camisas e duas calças.  Alguns amigos mais sensíveis (esses me abandonaram) ainda se lembram do que fizeram por mim, mas nunca estive no beijo do asfalto e os desejos me multiplicaram. Sou adorador do sol.

Eu adorava cerveja, hoje não tomo mais. Eu fazia parte da categoria social a que então se dava o nome de “remediado”. Tinha uma única nota no bolso, no osso, mas segui vivendo

Na pandemia escrevi um romance com 28 capítulos e dei o nome de ´Pancadas no morto´ mas não devo, não posso publicar, pois os únicos que deveriam falar sobre a morte são os que já morreram.

E já havia Rita Lee e  sua completa tradução, hoje não existe mais Rita Lee.

Kapetadas

1 – A gente demorou pra aprender a usar o cérebro agora veio a AI e…

2- Fui assaltado tantas vezes pelo mesmo ladrão que hoje recebi cashback.

3 – 14/9/1580: nasce Quevedo o poeta do século de ouro espanhol

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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