João Pessoa, 20 de maio de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O cenário econômico brasileiro enfrenta enormes desafios em 2025, refletindo os impactos prolongados de juros elevados e restrições ao crédito. A inadimplência empresarial atingiu um novo recorde, com 7,3 milhões de empresas negativadas, o maior número desde o início da série histórica do Indicador de Inadimplência das Empresas, da Serasa Experian.
O valor total das dívidas empresariais chegou a R$ 169,8 bilhões em março de 2025, representando um aumento de 3,41% em relação aos R$ 164,2 bilhões registrados em fevereiro. Esse crescimento evidencia as dificuldades financeiras enfrentadas, especialmente pelas micro e pequenas empresas (MPEs), que representam a maior parcela das pessoas jurídicas inadimplentes nas cinco regiões do Brasil.
Segundo a Serasa Experian, a inadimplência empresarial está distribuída da seguinte forma entre os setores da economia brasileira: Serviços (53,0%); Comércio (34,8%); Indústria (8,0%), Outros (negócios financeiros e terceiro setor) com 3,2% do total; e Setor Primário (1,0%).
A economista Camila Abdelmalack, da Serasa Experian, destaca que, “O cenário de inadimplência recorde entre as empresas reflete os efeitos prolongados de juros elevados, além das dificuldades de acesso ao crédito, especialmente para os pequenos negócios”. Em outras palavras, em geral, as MPEs têm menor capital de giro, maior dependência do crédito bancário e menos margem para absorver as fortes oscilações do mercado.
Além disso, a taxa Selic em 14,75% ao ano pelo Banco Central do Brasil (BACEN) segue como um fator que dificulta a recuperação financeira do setor produtivo. A política monetária contracionista, adotada pelo BACEN, desaquece a economia ao reduzir o volume de crédito disponível, afetando diretamente o fluxo de caixa das empresas e aumentando a inadimplência.
As MPEs são as mais afetadas, com 6,9 milhões delas negativadas em março de 2025 e totalizando R$ 146,2 bilhões em débitos. Esse dado da Serasa Experian reflete a vulnerabilidade das MPEs diante da instabilidade econômica e dos altos custos financeiros.
As unidades da República Federativa do Brasil com maiores índices de inadimplência das empresas foram: 1° lugar: Distrito Federal (40,9%); 2° lugar: Alagoas (40,3%); e 3° lugar: Pará (39,8%). Líder em inadimplência das empresas no Brasil, o Distrito Federal (DF) enfrenta desafios relacionados ao custo elevado de operação, alta carga tributária e dependência de serviços terceirizados. A economia do DF é fortemente baseada no setor público, que pode impactar negativamente os negócios privados, dificultando o acesso ao crédito.
Já os estados brasileiros com menores índices de inadimplência empresarial no país foram: 27° lugar: Santa Catarina (24,5%); 26° lugar: Espírito Santo (24,8%); e 25° lugar: Piauí (25,0%). Santa Catarina (SC) é o estado que possui um setor industrial diversificado e altos níveis de exportação, o que fortalece a economia catarinense e reduz o risco de inadimplência.
4. Como Solucionar a Elevada Inadimplência entre as Empresas Brasileiras?
A inadimplência elevada entre empresas brasileiras é um desafio complexo que exige uma abordagem estratégica e técnica para mitigar seus impactos. Seis medidas eficazes são:
4.1. Melhoria na Gestão Financeira
Implementação de sistemas de controle de fluxo de caixa mais rigorosos. Uma análise detalhada da capacidade de pagamento dos clientes antes de conceder crédito. Além disso, a diversificação das fontes de receita para reduzir a dependência de pagamentos de um grupo restrito de clientes.
4.2. Políticas de Crédito mais Eficientes
Utilização de tecnologias de análise de dados para prever riscos de inadimplência. A criação de estudos para avaliar a solvência dos clientes. Além disso, definição de critérios mais rigorosos para concessão de crédito.
4.3. Renegociação de Dívidas e Recuperação de Crédito
Estabelecimento de programas de renegociação de dívidas com condições favoráveis para clientes inadimplentes. Novos investimentos em serviços especializados de recuperação de crédito. Além disso, parcerias com empresas de cobrança para melhorar a taxa de recuperação.
4.4. Educação Financeira nas Empresas
Treinamento dos colaboradores sobre boas práticas financeiras e gestão de riscos. A criação de conteúdos educativos para clientes, incentivando um comportamento financeiro mais responsável. E cumprimento rigoroso das normativas e regulamentações do setor financeiro.
4.5. Uso de Tecnologia e Automação
Implementação de sistemas automatizados de cobrança e faturamento. Uso de blockchain e contratos inteligentes para garantir pagamentos automáticos e reduzir fraudes. E a integração de plataformas digitais de pagamento que oferecem maior segurança e agilidade.
4.6. Outras Soluções
A redução da inadimplência empresarial no Brasil passa também por uma abordagem multidisciplinar que envolve boas práticas financeiras e políticas estratégicas de gestão, além de ajustes às condições econômicas e ao perfil dos clientes.
Finalizando, o recorde de inadimplência das empresas no Brasil em março de 2025 reforça o cenário de crédito restrito e juros elevados, dificultando a retomada econômica do setor empresarial. As MPEs enfrentam desafios estruturais, como redução da margem de lucro e baixa capacidade de investimento, limitando sua recuperação financeira.
Diante desse quadro preocupante, a busca por medidas que facilitem o acesso ao crédito e estratégias financeiras mais flexíveis serão cruciais para impulsionar a recuperação do setor empresarial e equilibrar as contas. Portanto, será fundamental a implementação de políticas econômicas voltadas para o crescimento econômico, iniciando com a redução da taxa Selic e, sobretudo, incentivando a educação financeira nas empresas, nas cinco regiões do país, o mais rápido possível.
EM CAMPINA GRANDE - 21/05/2025