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entrevista

Espaço K: Gisa Veiga lembra reportagens de sucesso e transição na comunicação

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publicado em 20/11/2023 às 19h25
atualizado em 20/11/2023 às 17h28

Kubitschek Pinheiro – MaisPB

A geração de mulheres jornalistas paraibanas sempre foi um destaque, jamais vitrine. Gisa Veiga está nesse time que faz um jornalismo sério, dedicada a trazer a notícia com veracidade – profissão, que desde cedo conseguiu seu lugar ou… lugares, e fez seu nome.

Desde menina ela já escrevia “continhos” ou desenhava com palavras textos com a habilidade de quem estava ensaiando, o que se transformaria na profissão de repórter, editora de cadernos, chefe de reportagens escambau. Talento de tem sobrando.

Ela foi chegando e mesmo com a garra dos jornalistas de batente, fez o curso de Comunicação com 18 anos e teve colegas como Agnaldo Almeida e Silvio Osias – ambos da sua turma

Gisa não é do tempo em que as redações eram povoadas só de homens, mas se fez grande numa situação de igual – como é feito em grande parte do mundo, já que a outra parte, são nervos de aço. Não é fácil ser jornalista, né Gisa Veiga? “Não, não é fácil. O mercado é muito restrito”

De volta ao começo, sua mãe Maria do Morro Veiga Medeiros a incentivava desde os primeiros textos – deu-lhe um caderno grosso para que ela escrevesse mais e tivesse espaço para as ilustrações. O pai, Seu Agenor Amorim de Medeiros, partiu quando ela tinha três anos, não chegou a vê-la brilhar como jornalista.

Gisa é mãe Pedro Veiga Medeiros de Paula, Paulo Henrique Medeiros de Paula e Leonardo Veiga de Medeiros Porfírio e já tem uma neta, Mel Moura de Paula e o menino Davi, que está a caminho.

Está aí ela inteira, faminta pela novidade e hoje é editora geral do Jornal A União, o sobrevivente do capitalismo selvagem, da velocidade da Internet, mas existe, resiste, é impresso, e permanece.

Ela é socia de Pedro Chaves Cavalcante, (filho do saudoso Lelo Cavalcante) no site Jampa News.

Em conversa com o Espaço K,  Gisa Veiga é a voz da experiência e nos conta um pouco da sua história, – inclusive da passarem dela pela Tv Cabo Branco e jornais.

Espaço K – Antes de qualquer coisa, nos conte de onde vem o Veiga de Gisa?

Gisa Veiga – Veiga vem do meu avô, João Ribeiro da Veiga Pessoa Júnior, um dos 10 membros fundadores da Academia Paraibana de Letras. Ele assinava J. Veiga Jr. Os ancestrais dele eram do Rio Grande do Sul (acho que meu bisavô nasceu por lá), mas meu avô nasceu em João Pessoa.

Espaço K – Você, que é uma profissional tarimbada, acredita que nasceu para ser jornalista? Ou melhor, somos jornalistas por paixão, como pensava a saudosa jornalista Lena Guimarães?

Gisa Veiga – Gosto de escrever desde muito pequena. Aos sete anos eu já escrevia uns continhos. Minha mãe (filha de J. Veiga Jr.) achava lindo e me deu um caderno grosso para que eu colocasse ali meus contos e ilustrações. Depois de uns dois anos, mandou encadernar com capa vermelha e letras douradas com meu nome: Contos Infantis – Adalgisa Veiga de Medeiros. Continuei ali a escrever até adolescente. Na época, eu dizia que queria ser escritora e também era apaixonada por arquitetura. Quando chegou a época do vestibular, optei por jornalismo, embora minha mãe queria muito que eu fizesse Direito. Eu fiz, mas já próximo dos 50 anos, disse rindo.

Espaço K – Quando foi a primeira vez?

Gisa Veiga – Assim que eu entrei no curso de Comunicação Social da UFPB, com 18 anos, conheci Sílvio Osias e Agnaldo Almeida, que eram da minha turma. Agnaldo era editor do Jornal A União e Sílvio trabalhava lá. No fim do ano, me chamaram para fazer um estágio e eu topei. Não sabia absolutamente nada de jornalismo na prática. Aprendi na marra. Fiquei uns três meses, junto com mais duas colegas, e depois nos dispensaram. Meses depois, eu fui chamada de volta e levei mais a sério o trabalho. A União foi minha grande escola – mas isso você já ouviu de outros profissionais, também.

Espaço K – O que você diria a um jovem que vai estudar jornalismo? Não é fácil, né Gisa?

Gisa Veiga -Não, não é fácil. O mercado é muito restrito. Geralmente a maioria vai para assessorias de imprensa, onde há mais vagas, porque comunicação é essencial na área pública e, também, na privada, em menor escala.

Espaço K – Você está no Jornal A União, a nossa casa eterna. O que faz lá? E por onde Gisa Veiga passou com seu talento inicial?

Gisa Veiga – Hoje eu sou editora-geral do Jornal A União. Apaixonada pelo meu trabalho. Depois que passei uma boa temporada em A União no início da carreira, também trabalhei em O Norte, Correio da Paraíba, O Momento, TVs Cabo Branco, Tambaú e O Norte. Nesta última, fiz algumas reportagens especiais para o Jornal da Band. E na Cabo Branco, embora alguns queiram esquecer, a primeira aparição em rede nacional foi minha, com uma matéria sobre uma briga durante eleição para a Federação Paraibana de Futebol, quando Rosilene Gomes saiu desmaiada. Também passei por várias assessorias de imprensa e jornalismo digital.

Espaço K – Com tantas mudanças, Gisa Veiga tem um blog, transita pelas redes sociais?

Gisa Veiga – Sim, hoje sou sócia de Pedro Chaves Cavalcante, filho do saudoso Lelo Cavalcante, no site Jampa News. Acessem www.jampanews.com.

Espaço K – Eu vejo na capa de muitos blogs a estampa do Governo e da Prefeitura, de Cabedelo ao Inferno. Me parece que é assim, assado ou para se ganhar o pão, o jeito é contar com patrocinadores etc?

Gisa Veiga – É verdade, vendemos espaços publicitários como qualquer outro veículo de comunicação que queira sobreviver, do maior ao menor. Infelizmente a iniciativa privada ainda não entende a visibilidade dos sites jornalísticos e poucos são aqueles que investem em propaganda no jornalismo digital.

Espaço K – Quando você era editora do Caderno Cidades do Correio da PB, abrigou minha coluna Kotidiano numa tripa, da página 2 – naquele tempo o editor de Cultura Carlos Aranha não queria o K escrevendo em Cultura. Eu sou grato, sem mágoas, somente somando. Você  lembra desse tempo, eu lhe entregava a coluna e trocávamos gestos amáveis?

Gisa Veiga – Sim, eu era secretária de redação nessa época. Sempre gostei muito de Carlos Aranha, mas não havia motivos para você ficar de fora das páginas do Correio. Fiz bem em apostar, né? Você fez e faz o maior sucesso como colunista. Cada vez mais afiado!

Espaço K – Lembra de alguma pauta que teve que cair – ou várias – porque o dono do pedaço não gostaria de tal matéria publicada na manhã seguinte?

Gisa Veiga – Ah, claro, várias matérias caíram, algumas até sem importância. Bastava que o dono do jornal não gostasse do prefeito ou do governador da época, por exemplo, para que algumas matérias caíssem. Isso em qualquer veículo em que passei.

Espaço K – Ah, naquele tempo, e acho que hoje ainda rola, um empresário dizendo que tal assunto, tal pessoa, não pode sair em seu veículo de Comunicação. Mas com esse enxame de janelas online, cada um por si, né?

Gisa Veiga – É, muitos jornalistas trabalham em veículos alheios e, também, em seus próprios espaços, com blog, site… Se não pode falar de tal assunto aqui, pode falar ali, e assim o mundo gira.

Espaço K – E o amor? Você acredita que o amor não tem fim, que depois de formada a sagrada família, as alegrias são outras?

Gisa Veiga – O ideal, sempre, é que tenhamos uma única família. Mas, se chegou ao fim o relacionamento, por que não tentar outra vez?

Espaço K – Você também se irrita com certas e incertas pessoas, nesse pra lá e pra cá?

Gisa Veiga – Mas é claro! Vamos ao ponto dos profissionais. Não se trata apenas de choque de gerações – aqui abro um parêntese pra dizer que as novas gerações estão muito focadas em whatsapp, fazendo, inclusive, entrevistas do tipo pingue-pongue assim, o que é inaceitável. Ferramentas como essa sempre são boas para acelerar o trabalho, mas o que vejo é que muitas vezes o repórter se acomoda porque passou mensagem à fonte e ela não respondeu. O bom e velho telefone – hoje celular – poderia encurtar distâncias. E o cara a cara ainda é o melhor método. Voltando à pergunta: antigos profissionais também chateiam bastante, como se a ampla experiência fosse passaporte para validar qualquer opinião sobre isso ou aquilo, por mais absurda que seja. Bom senso não é para qualquer um.

Espaço K – Eu penso que só vou parar de escrever, trabalhar com a notícia, quando eu não conseguir mais. Jornalista é a vida toda, né Gisa?

Gisa Veiga – Penso a mesma coisa. Se eu parar, capoto.

Espaço K – Tem alguma coisa que você queria contar da sua trajetória, coisa que ninguém sabe, uma grande reportagem ou o furo certo?

Gisa Veiga – Além da primeira aparição da TV Cabo Branco em rede nacional, com o caso que já falei aqui da Federação Paraibana de Futebol, fiz uma deliciosa matéria, num domingo, sobre mergulho em alto mar para observar navios afundados na costa de João Pessoa. Como eu não tinha feito o curso de mergulho, apenas fingi que mergulhei. Utilizei equipamentos da produtora da Mozart Produções, já que a TV não tinha equipamento adequado para tanto. Lena Guimarães, que havia feito o curso, mergulhou e me apresentou todos os detalhes do fundo do mar. Foi fantástico, embora tenha passado mal de tanto enjoo. Também fiz matérias exclusivas sobre pesquisas da Universidade Federal da Paraíba, como o McBode, e tratamento para queimados reconhecido internacionalmente, além de outras para o Jornal da Band. Na passagem do ano 2000, participei, a convite do então superintendente de O Norte, Marcondes Brito, de uma transmissão internacional sobre os primeiros raios de sol do ponto extremo oriental das Américas, nossa Ponta do Seixas. Incrível experiência! Amei, também, o tempo em que fui colunista de Política do Jornal da Paraíba, ao mesmo tempo em que era editora de Política do jornal e, em seguida, editora geral por um período-tampão de nove meses. Adorei todas as experiências que tive e, apesar de alguns descontentamentos pontuais, tudo contribuiu para minha formação profissional. Obrigada, Kubi, por me incluir nesse valioso espaço.

MaisPB

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