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Marcos Pires é advogado, contador de causos e criador do Bloco Baratona. E-mail: [email protected]

A “sabedoria” dos çabios

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publicado em 29/07/2023 às 07h00
atualizado em 28/07/2023 às 18h56

Os sábios tratados aqui merecem o cedilha que, como todos vocês estão carecas de saber, é um sinal diacrítico.

Começo com a história de um comerciante que estacionou seu caminhão carregado de melancias à margem da BR 230 e colocou uma enorme faixa oferecendo seu produto: “1 melancia; 3 reais. 3 melancias; 10 reais”. Os clientes achavam engraçado e compravam as melancias uma a uma, ao invés de comprar três de uma vez, porque aproveitavam-se da ingenuidade do vendedor e economizavam um real. Com o estoque findando em pouquíssimo tempo, um dos últimos clientes (todos eles çabios, certos de que haviam explorado a leseira do comerciante) procurou o vendedor e quis fazer pouco dele. “-O senhor não notou o erro? Qual a vantagem dessa oferta? Todas as pessoas que saíram daqui estavam mangando de sua ingenuidade”. O comerciante baixou a cabeça e murmurou entre dentes: “- É, mas se não fosse minha ingenuidade eles só teriam comprado uma única melancia cada um”.

Me contaram que chegou aqui (e já lá se vão muitos anos) um bem vestido e bem falante senhor que apresentou-se a alguns dos mais destacados empresários prometendo reduzir o que eles recolhiam mensalmente aos cofres públicos federais em 70% à custa de amizades influentes que mantinha em Brasília. Todos toparam. Igualmente todos demonstraram a mesma çabedoria quando foram acertar o que pagariam ao bacana pelos seus serviços. A pedida dele era 20% sobre o que deixassem de pagar. Espezinharam o pobre coitado e conseguiram baixar para 2% a sua comissão. Acuado, ele topou. E daí em diante, durante muito tempo, todos os meses ele recebia numa conta corrente o valor de 30% do que cada um dos çabios teria que recolher, devolvendo-lhes posteriormente as guias DARF devidamente autenticadas com o valor cheio, como se tivessem recolhido o que realmente era devido. Até que um dia descobriu-se a patranha. O “coitado” ficava com toda a grana e autenticava as guias numa máquina que comprara num leilão de inservíveis de um banco oficial. Sobrou bronca pra todo mundo.

Lembro de Nasrudin quando mendigava numa rua turca e recusava todas as moedas de grande valor que lhe davam de esmola. Só aceitava as de pequeno valor. Os locais faziam fila para gozar da bobagem dele, dando-lhe seus trocados. Até que um dia alguém lhe perguntou o porquê. “- Se eu aceitasse moedas grandes seria só mais um mendigo, logo esquecido. Na minha loucura faturo cem vezes mais do que qualquer outro pedinte da cidade”.

É a çabedoria dos çabios, que vez por outra engole o dono.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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