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O timoneiro fã das tormentas

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publicado em 17/10/2022 às 07h00
atualizado em 16/10/2022 às 12h52

Vivemos tempos ao mesmo tempo sombrios, tenebrosos e patéticos, bizarros. Estamos numa nau sem rumo. O timoneiro não tem a menor ideia do que faz com aquele timão em mãos. E o solta várias vezes, deixando-o girar, girar, girar. Estamos tontos, nauseados, bobos, aparvalhados. Aparvalhados! De vez em quando dá um negócio nele, que se sente ofendido pelo vento ou pelos pássaros, e resolve seguir exatamente o caminho que todos sabem dará em lugar algum ou quase sempre no das piores tormentas. O timoneiro é fã das tormentas, briga com todo mundo. E muita gente finge que não vê, finge que não ouve, e nada fala, muito menos age. Nau sem rumo.

Cansaço,  desmotivação. Desmorono, mas luto arduamente pra não desabar, não desaguar, não desmilinguir, não definhar. Que seja sem rumo, então, a rota a seguir. Menos mau, assim. Tomando de empréstimo do poeta Hermínio Bello de Carvalho: não sou eu (muito menos o tresloucado timoneiro) quem me navega, quem me navega é o mar.

E nesta toada, quando a rede retorna vazia – e tem sido assim nos últimos anos -, vem carregada de dor. Que haja alguma sabedoria e serenidade para se tirar alguma beleza desta tristeza, que são duas palavras que se chamam, que se atraem pelo imã chamado rima. Sigamos, pois navegar é preciso. E a vida, que dela tanto precisamos, não é nada, nada precisa.

Não quero e não vou desafinar o já muito desafinado coro dos contentes. Muito menos o dos descontentes. Mas vou, vez por outra, como tantas vezes, remar contra a maré dos desalmados. Pois se há algo aqui em mim é alma. Almar. Almejar, lacrimejar.

Melhor menear a cabeça para afastar os maus pensamentos e deixar que desague toda esta dor de uma opressão antiga, imensa, dentro do peito. Vamos soltar este grito, este quase inumano urro ao mar. Para que ninguém ouça, mas vibre de tal forma que as ondas se acalmem, nem que seja por medo. Não medo, respeito. Sim, muito respeito. É bom e eu gosto. Alguns de nós gostamos. Nem todos, nem todos, infelizmente. É algo que anda em falta no mercado. Muito em falta. Era de graça, passou a ser cobrado, o preço que se passou a pagar ficou alto, foi escasseando, até que sumiu de todas as prateleiras. Todas? Praticamente, praticamente.

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