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Clara Velloso Borges é escritora, professora de literatura e mestranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected]  

O problema dos remakes

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publicado em 07/10/2022 às 07h00
atualizado em 06/10/2022 às 18h35

A era dos remakes e sequências ad infinitum chegou primeiro para o cinema, com franquias intermináveis, como Vingadores, e versões humanas de desenhos animados. A tendência se expandiu para outras áreas, com a nova versão da novela Pantanal e, agora, com continuações de livros que fizeram sucesso.

A literatura se diferencia do audiovisual porque não precisa de remakes. De fato, um mesmo filme pode ser interpretado de maneiras diferentes, mas o cinema, que entrega cenas já prontas, possui arestas imaginativas mais podadas do que a literatura.  O texto escrito pode ser reinventado a cada leitura, já que nunca é o mesmo livro, nem nunca é o mesmo leitor.

Então, se o texto literário não precisa ser reescrito para ser redescoberto, para aproveitar o sucesso colossal de algumas obras, seus autores têm recorrido a sequências, nunca tão boas quanto os originais. Vale tanto para obras mais comerciais quanto para a literatura contemporânea premiada.

Há dez anos, a escritora Jennifer Egan ganhou um Pullitzer por seu romance A visita cruel do tempo. Até publicou outras obras depois, mas nenhuma lhe rendeu tamanho prestígio. Então, esse mês, publicou uma continuação, com os mesmos personagens e uma prosa refinada. Na mesma direção, María Dueñas atingiu fama internacional com seu romance O Tempo Entre As Costuras. Publicou vários outros romances históricos, nenhum emplacou como a história da costureira durante o auge do fascismo europeu. Em 2022, chegou às livrarias um novo livro com a volta da costureira Sira.

Embora agrade o público e seja rentável, há um grande problema em deixar que a cultura apenas se retroalimente: novas memórias não são criadas. As obras de autores inteligentes não vêm ao mundo em detrimento de releituras que, muitas vezes, deveriam ter ficado apenas no campo da nostalgia.

Um clássico ganha esse status porque atravessa gerações, sem a necessidade de ser reelaborado de acordo com os pressupostos dos novos tempos. Por mais compactos que sejam os apartamentos de hoje, uma boa estante consegue abraçar o cânone e a novidade. Entretanto, não consegue abraçar tantas repetições, franquias e sequências que nada tem a acrescentar a uma obra consagrada.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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